A Esquerda e o Voto.

Não gostei, ou melhor, não me agradou completamente a entrevista do Rodrigo Moita de Deus. Há coisas que não se devem dizer da forma como ele as disse. E não é por ser monárquico que vou concordar com elas. Por exemplo, não creio que «mudando o regime pode-se mudar qualquer coisa, sobretudo a mentalidade das pessoas.». Isso não aconteceu em 1910. Aliás, se há culpas a assacar aos políticos da monarquia foi o não terem criado uma literacia abrangente que politizasse e elevasse o nível cultural das classes baixa e média. Os republicanos esfregaram as mãos de contentes. Um povo culturamente atrasado é muito mais fácil de dominar. Em 6 de Outubro a república estava comunicada ao país, sem resistência. E em 1940 estava tudo pobrete, mas alegrete (como, aliás, ainda hoje).
Presentemente acontece algo muito semelhante. As pessoas recusam pensar. Mesmo que estejam mal. A um país de amorfos, junta-se a questão da inveja. Se eu não posso ser rei, porque é que alguém deve sê-lo? Para alguém que pensa assim, a monarquia não mesmo uma alternativa. Não me refiro aos rapazes do 5 Dias, que são como autistas. O movimento da cabeça que fazem para a frente e para trás é sinal de uma perfeita incapacidade de discutirem, com fundamentos, um assunto que lhes é perfeitamente inconcebível. Fazem parte daquele conjunto de pessoas que critica a monarquia por que é antidemocrática, mas aplaudem malabarismos constitucionais para prolongar mandatos e transformar o poder presidencialista ou ministerial em ditaduras. E é isto que não compreendo. Para eles a monarquia é uma coisa supérflua, uma corja de ricos, uma elite inócua de gente feia, mas no fim toda a ideia de poder  é isso mesmo. A únicas coisas que o podem contrapor são ou o suicídio ou a anarquia.
Devo acrescentar, aliás, que o Cinco Dias já foi um bom blogue. Agora, numa altura em que os títulos são maiores do que as postas, não há uma única ideia que se aproveite. Os seus blogueiros são os carros vassoura da internet. Nesta vaga de maniqueísmo que tem caracterizado a Esquerda, quando a Direita diz preto, eles dizem branco. E não saímos disto. Basta o Henrique Raposo, o Rodrigo ou a Helena Matos publicarem algo, que o alarme logo toca na sede do 5 Dias.
Bom, mas voltando à entrevista. Também não concordo com a relação FMI-Regime. E acho estapafúrdia a alusão ao sex appeal da Direita. Enfim, são gostos. Uma coisa é certa e isso é que é difícil de rebater: a despartidarização do poder. Aceitando-se a ideia de Estado-nação (coisa que pouca gente do 5 Dias aceitará mas finge que aceita) a monarquia é muito mais justa. Entre uma representatividade inerente (inerente mas reconhecida constitucionalmente) e uma representatividade aritmética fundada na escolha não universal (isso sim seria lógico) mas na partidização ou segmentação do auditório elegível – dando a ideia de um sistema justo e abrangente (mas simplesmente demagógico) -, a primeira solução bate aos pontos qualquer regime. E é por isso que, sobretudo a Esquerda, sempre fracturante e fracturada, tem medo de discutir as soluções. Não entendo, aliás, a insistência neste aspecto da eleição do presidente da república pois o voto é para a Esquerda, um adereço.  Que pode e deve ser substituído sempre que possível pela revolução, como bem sabemos.

Comments

  1. “Um povo culturamente atrasado é muito mais fácil de dominar”.
    Ora estamos perfeitamente de acordo. E quando falo em culturalmente atrasados incluo todos aqueles que, detentores de papéis passados em obscuras ou reluzentes secretarias atestando que os seus possuidores são detentores do grau x ou y da especialidade z, serão incluídos.
    A falta de cultura que se tem vindo a agravar na quase direta proporcionalidade da distribuição de diplomas é uma das grandes culpadas da situação.
    Não me repugna absolutamente nada ter um rei ou uma rainha, desde que não me tentem convencer de que o são por direito divino e não por uma mera sucessão familiar ou por mando constitucional.
    Creio até que se pouparia bastante, se adquiririam principios éticos e morais acima da vulgaridade quotidiana e talvez a política tivesse enfim alguém que a colocasse em respeito.
    Quanto às opiniões do Rodrigo, na sua maioria, seriam úteis se lhe viesse a ser dado o lugar de truão para animar as noites de festa na corte.

    • Rodrigo Costa says:

      Teófilo M.,

      Cheguei agora e reparei que, no seu comentário, alude a um Rodrigo.
      Naturalmente, não posso partir do princípiode que se dirige a mim; mas também não é desajustado perguntar se é aos meus comentários que se refere, na medida em que, nesta “conversa”, se vi bem, não aparece nenhum Rodrigo?… Que me lembre, o único que, por aqui, circula, de quando em vez, sou eu; mas, como deixo implícito, não tenho que ser eu o visado, porque não me acho o único no Mundo, nem mesmo como Rodrigo Costa —há, pelo menos, o homem da Microsoft.

      Sendo assim, só posso ficar-me pela pergunta, à qual, se achar que vale a pena, poderá responder —nada como sermos objectivos. Aliás, penso que se alguém, aqui, citasse um Teófilo, sem lhe acrescentar o M definidor, e o considerasse bobo, você, concerteza, quereria, ao menos por curiosidade, saber se era consigo.

      Pela parte que me toca, desde que comento —independentemente de concordar ou discordar das ideias—, nunca expressai mais do que a minha discordância. Como vou fazer a seguir.

    • Rodrigo Costa says:

      Peço desculpa, Teófilo. Já apanhei o fio à conversa.

  2. Pisca says:

    Para além de uma série de considerandos que o post mereeria, para mim a Monarquia, ou qualquer outra forma de transmissão de poder via “nascimento”, seja ele o principe ou princesa (quando aplicável o que nem sempre sucede, vidé Espanha), filho do patrão, ou filho do ditador, é sempre uma aberração.
    Qualquer deles é resultado de uma “queca”, mais ou menos dada, com maior ou menor entusiasmo, leia-se a fenomenal descrição que Saramago faz no Memorial do Convento da queca do tal D.João (acho eu que era), para depois ter o herdeiro que teve, o tal D.José que está ali a cavalo na Praça do Comércio em Lisboa e nunca mais lhe dizem que as cortezias já acabaram
    Acreditando em tal forma de sucessão, tudo ficará a cargo de um espermatezoide mais atrevido que conseguiu chegar ao sitio certo, e cuja origem nem sempre foi a mais clara e certa, a história e a vida está cheia de casos desses.
    Nas transmissões da liderança de empresas estamos também cheios de casos, uns de sucesso, outros de esbulhamento de tudo aquilo que o paizinho andou anos e anos a juntar, numa orgia de poder tonto e alarve
    Poderão falar da jotinhas e afins, mas nesses casos ao menos tiveram de ter o engenho e arte de ir subindo, afastando uns e lambendo outros, não foi por acaso da queca.

    • “Se eu não posso ser rei, porque é que alguém deve sê-lo? Para alguém que pensa assim, a monarquia não mesmo uma alternativa.”
      Viu como entendeu o meu post. É assim mesmo. Contra argumentos como os seus não há factos que cheguem.

      • Já deu para perceber que o seu esperamtozoide, sendo esforçado, não era muito talentoso…

        – Quem não quer reis é porque tem inveja de não o poder ser.

        A sério? É essa a argumentação do movimento monárquico? que patético!

        • Não. Patético é o seu argumento, que não é nenhum, mais a conversa dos espermatozóides, que é idiota. Argumentação=0 Parvoíce=2.
          Continuo à espera.

          • round 2 da discussão:

            resumindo o seu comentário, nuno: “quem diz é quem é!”

            o seu próximo comentário tem que ser o do “o meu pai é policia!”, para completarmos a santissima trindade da argumentação infantil, sim?

  3. LOL (para completar a infantilidade, então)
    Tenha juízo, João Jorge. Se não tem nada construtivo para dizer, para que comenta?
    Peço-lhe que me argumente, sem erros e com lógica o meu post. Se não consegue, passe à frente. Faça sodoku, leia um jornal desportivo, ok?

    • A verdade é que o Nuno, “aos costumes disse nada”.

      O Pisca levanta a questão pertinente que quando a legitimação do poder é a herança genética, o resultado final pode sempre ser de qualidade duvidosa. Onde está o mérito do novo lider da nação? na simbiose entre espermatozoide e óvulo.

      Eu prefiro uma terra sem amos.
      O Nuno prefere ter um amo.

      O Nuno tem direito á sua ideia e eu à minha, mas agora, por favor, arranje-me um melhor argumento do que “os repúblicanos são uns ressabiados que queriam era ser reis e por isso não deixam ninguém ser”. É uma argumentação que é nada e rebaixa e muito o debate ao torno da questão monárquica.

      (e essa outra ideia da despartidirização do poder também é catita. Não há partidos não há politica? é isso? é um argumento que está algures entre o ingénuo e o fascista)

  4. Pronto, agora podemos começar a falar.
    Primeiro, eu não quero amo nenhum. Mas o João vem com a conversa marxista e, quanto a isso não há muito a dizer. Eu não professo essa religião.
    Depois o João confunde líder com representante. Eu entendo que o líder é o líder do governo que é eleito para governar. Se o presidente não governa, não representa a totalidade dos votantes, para que serve?
    A seguir não vejo em que ponto a genética interfere na representatividade. Depreendo que o seja João filho de alguém, tenha um apelido e se identifique com os seus pais. E se alguém ofender os seus pais, o João, fazendo valer uso dessa genética, os defenda. Digo eu…quem não se sente, não é filho de boa gente.
    E quanto à não despartidarização da democracia poderá constatar por postas anteriores que sou a favor da non-partisan democracy, mas sem cair em fascismos. Fascismos, comunismos e mais ismos são coisas que como se sabe bem, só redundam em terrorismos. O que eu defendo é verdadeira representatividade e não a ideia de que o voto (coisa de que ainda ninguém falou aqui) seja efectivamente uma escolha e seja inteiro, não 50+1 ou algo assim.

    • Pois é mesmo da questão da representatividade que falamos.

      Porque hei-de ser representado por alguém apenas pelo facto de esse ser ter saido das entranhas de alguém? É essa a verdadeira representatividade?

      ao menos o voto responsabiliza quem fez a escolha.

      • Não, não responsabiliza. Só responsabilizaria se o voto fosse obrigatório e não anónimo.
        Porque é que eu hei-de ser representado por um carreirista político?

        • é se votou nele. se não votou não tem que se sentir representado. eu sou representado por gente que defende os meus interesses.

          • Marxista e cavaquista? Como é possível!?

          • É possível na sua cabecinha onde a cópia ranhosa da coroa da rainha de inglaterra está apertada e lhe corta a circulação.

            Não reconheço legitimidade a Cavaco para me representar, tal como não reconheço legitimidade ao tótó do duarte piu-piu (cruzes canhoto!!)

  5. Não Interessa says:

    Contra factos não há, realmente, argumentos. Para Presidente da República, bom ou mau, eu tenho o direito de votar. O resto é conversa.. e chefes de estado nomeados na posição de missionário.

    PS: O Rodrigo Moita de Deus é um aspirante a comediante, daquele tipo de direita pseudo-cool que nunca devia sair dos jantares de campanha nem palrar muito mais do que a encomenda, sob pena de nos presentear com entrevistas daquelas.

  6. João, se tivesse o direito de votar em quem o governa mesmo, como os milhares de boys que enlameiam este país, isso sim é que era bom.

  7. Pisca says:

    Nuno
    Para continuar a chamar-me nomes e por em causa a minha já de si limitada capacidade de argumentar (está no seu direito)
    Se a questão é ter um governo com um 1º ministro e depois alguém ou algo que represente o país, então podemos escolher por exemplo:

    – A Senhora da Agrela
    – A Águia Victoria/O Leão de Alvalade/O Dragão, consoante o que ganhe o campeonato
    – O Sto. António/S.João/S.Pedro, rotativamente já que são muitos os concelhos que o comemoram
    – aceitam-se mais sugestões

    E sempre se poupava, em ter que sustentar a Familia Real e respectivos adereços, Duques, Marqueses, Condes e Barões, os valetes são de outro naipe e de manilhas secas já estamos aviados, além de serem de jogos proletários e de taberna

    Já sei que Belém custa uma pipa de massa, mas os jantares por lá envolvem muita gente e cada vez mais, incluindo a Coelha

  8. Rodrigo Costa says:

    Como já disse noutras ocasiões, os regimes são suportados por pessoas —quer eles sejam monárquicos ou republicanos. Portanto, no meu entendimento, aquilo que fica à discussão é a indumentária, e não o corpo, a pessoa; porque ninguém muda de mentalidade só porque muda o regime —temos, ainda, fresco, apesar dos quase 40 anos passados, a experiência de Abril, em que foi criada a ilusão de que seria possívell adormecer fascista e acordar democrata.

    Como se tem podido ver, não é assim —o responsável pela Secretaria da Cultura tem, ao dispor, 4 motoristas 4; e eu pergunto, a que regime é que pertence este tipo de vícios?… A todos, porque os políticos pelam-se por mordomias, porque não têm dignidade ou vergonha. Alguns, aproveitam para saciar vontades escondidas, dissimuladas por falsa simplicidade —pelam-se por ter criados.

    Portugal é, hoje, o que resulta de dois regimes, monárquico e republicano. Como não vivi no tempo dos reis, não posso deixar o meu testemunho directo; mas sabe-se o que foi, ao longo dos séculos, o dia-a-dia de muitos reinos, entre os quais, o de Portugal. Aliás, independentemente de qualquer regime, Portugal continua a não poder comparar-se com país nenhum, porque, mais do que em qualquer lado, parece-me, os valores de eleição são a simpatia e ou a proximidade, a cor partidária, ficando de lado a competência. É este o verdadeiro regime em que Portugal vive, e é isto que deveria ser alterado.

  9. As postas do 31 da armada são como os recados da minha mulher-a-dias.

  10. às direitas says:

    Sou de direita. e fiquei horrorizado com a entrevista.

    Há uma direita parva neste país! Meninos fanfarrões que debitam postas.

    A Direita Nacional está entregue a esta gente engraçada, como é o caso do entrevistado, oca, como é o caso de um João Almeida ou de um Montenegro, ou caciqueira e do interesse, como Cavaco Silva e o Partido Social Democrata (só aqui na Lusitânia temos um partido social democrata conotado com alguma direita, veja-se este país…).

    A Direita em Portugal ainda sofre do marcelismo mole, do salazarismo religioso, e sobretudo é interesseira embora muitas vezes com méritos. A Esquerda é para todos, mas bem sabemos que no poder é fraudulenta.

    Enfim.

  11. Eu até comentava, Nuno, mas a minha incapacidade de discutir é famosa. Aliás, eu apenas consigo fazer um sincopado movimento da cabeça para a frente e para trás. Nada mais, lamento. Vou tentar fazer títulos mais curtos.

    • Se for para argumentar com piadas baratas ou pelo insulto, como a resposta do Renato a esta posta, mais vale não nem comentar.

  12. Não fiz piadas nem insultei. Tu é que me chamaste autista.

  13. “Se eu não posso ser rei, porque é que alguém deve sê-lo?” – Aí está o argumento supremo. Mas porque carga de água é que haveria problemas por alguém governar apenas porque é filho de um gajo qualquer? Porque é que alguém há-de complicar, não é? Não percebo. Então não era tão bom haver um gajo qualquer para toda a vida, sem a gente se chatear com nada, ali a mandar bitates e o resto a “aconselhar”, no máximo! Respondendo como este post merecesse, até por ser 1/3 para descascar no 5 dias e não para argumentar a sua posição, um provérbio que encaixa mesmo bem neste raciocínio: “Uns são filhos, os outros enteados.” E isto ia bem era com o D.Duarte, até negócios com a Síria a gente fazia! Brincalhões 😀

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