Nos Colégios Militares a homossexualidade é um vício?

“De facto nos Colégios Militares os professores ensinam, os alunos estudam, não há greves, não há graffiti, não há lixo; há respeito, organização e disciplina. Todo o mundo anda a horas, bem vestido e ataviado; existe hierarquia e sabe-se quem manda e em que circunstâncias. Mentiras, roubos, droga, homossexualidades e outros vícios são severamente reprimidos.”

Li isto no Público de hoje, um relambório fascista de página inteira em defesa dessa aberração que são os colégios militares, antro de violadores que vão aparecendo à luz do dia. Tão depressa não gasto 1,60€ no jornal da Sonae. A prosa tem como autor João José Brandão Ferreira. Ensinado a pilotar aviões com o dinheiro de todos nós “saiu da Força Aérea em 1999, após duas penas de prisão disciplinar“, e privatizou-se. Em 2008 escrevia isto:

Quanto a eventuais substituições do aparelho de Estado, por via não institucional, (…) só há duas questões verdadeiramente essenciais: saber claramente o que se faz no dia seguinte (uma das falhas clamorosas do 25 de Abril) e garantir o abastecimento de géneros à população. E é só nisto que pode haver problema.

A superioridade da democracia é que continua por aí, à solta e a escrevinhar a sua homofobia claramente de veado enrustido como se diz no Brasil. Pode ser que um dia se assuma.

Comments

  1. O espaço público do PÚBLICO é isso mesmo, um espaço público e plural. Se vital moreira pode escrever sobre os colégios militares porque nao pode este senhor? Aliás, este senhor presta um serviço aos leitores pois o seu texto alerta para o que se passa no interior daquela instituição, sobre aquilo de que se fala à boca pequena e que os responsáveis pela mesma negam sempre quando são confrontados com essas dúvidas.
    No espaço público há outras opiniões que vão no mesmo sentido (da misoginia) como as do padre Portocarrero de Almada, ao lado de outras opostas. É isso que faz a riqueza do PÚBLICO e dos seus leitores: saber que vivem em liberdade, que a liberdade de expressão existe e que há multiplas opiniões com as quais concordamos ou não. BW

    • O Público publica o que entende, e eu compro os jornais de que gosto (embora muito me entristeça deixar de comprar o Público por uns tempos que, além do defunto Diário de Lisboa, é um jornal muito dos meus afectos).
      Tem toda a razão numa coisa: o homem faz uma afirmação que se vira contra a própria instituição, que de certeza a vai desmentir. Aliás os factos até o confirmam: quando googlei o assunto encontrei vários relatos de tentativas de violação, nomeadamente em tempos bem passados.
      E de resto, Barbara, sublinhei a superioridade da democracia, ao dar espaço a quem objectivamente quer acabar com ela.

      • xico says:

        Os relatos eram de violação ou de manifestações homoeróticas? De repente fiquei confuso. Deve-se ou não reprimir a homosexualidade dentro dos colégios militares? É que me parece que o problema não devia ser a repressão mas a definição de vício. A repressão sim. Ali deve estudar-se. O namoro fica para outros locais. Como diz o outro: Arranjem um quarto. Não uma camarata.

  2. Jaime Sousa says:

    Caro João José Cardoso, devo lembrar-lhe que o CM tem sido ao longo de mais de três séculos um alfobre de pessoas que têm tido um papel relevante na sociedade, militares e civís, os seus valores- patriotismo, disciplina, abnegação, coragem, ética – só incomodam quem é avesso a todas essas virtudes “conservadoras” que a maioria dos militares, apesar de todas as vicissitudes das últimas décadas, ainda cultivam.
    Quando existirem excessos. Então castiguem-se os prevaricadores. Já agora também parece despropositado trazer á colação a democracia, no preciso momento em que se volta a falar do “federalismo”, Fica-lhe bem defender DEMOCRACIA, mas já reparou que se não tiver país, de nada lhe serve esse bem.

    • Não faz sentido manter 3 colégios desta natureza, num país que tem forças armadas mas não é um estado militarista. De resto contraponho a muito boa gente que ali foi formada o facto de muito facínora também por lá ter passado.

      A educação castrense, herdeira de Esparta, não é a educação que uma criança merece.Aliás convinha relembrar que em Esparta a iniciação homossexual dos futuros guerreiros era compulsiva. Não é que em Atenas tal não existisse, mas em menor grau.

      Quanto ao federalismo, e se sou muito europeu não defendo os EU da Europa, como experimentei ter país e não ter democracia, acho uma coisa indissociável da outra. E desta ideia não abdico.

      • José Nogueira says:

        Fala do que desconhece. Com toda a certeza que se tiver a honestidade de conhecer a realidade do CM, provavelmente irá ficar surpreendido. Aliás a percentagem minima de alunos que seguem a carreira militar é um sinal signifcativo. Hoje o CM conquistou a sua “independencia” e é um colégio aberto a todos, preservando naturalmente os seus valores iniciais, os quais vão rareando no ensino em Portugal.
        O principal é uma forte noção de vida em sociedade e de cidadania, o que se calhar faz muita falta aos jovens de hoje.

        • Noção de vida em sociedade aprendida em instituições que separam os sexos por colégios?
          A sua sociedade e conceito de cidadania são muito peculiares.

  3. Invocar um caso de abuso sexual de menores no CM por um ex-aluno (e não actual aluno) para dizer que os colégios militares são antros de violadores é perder toda a razão nas críticas ao tom e conteúdo do artigo que o indignou. E não serve uma discussão séria sobre estas questões. Sou o primeiro a criticar o artigo e a forma como classifica a homossexualidade como um vício a reprimir. Mas isso não valida estar-se a caluniar as instituições com generalizações muito perigosas e falsas.

  4. Pedro Lérias says:

    Não faço ideia porque isto foi buscar o meu gravatar, sou um tanso nestas coisas. Assino como Pedro Lérias.

  5. Pedro Lérias says:

    Até agora citou um único caso de abuso sexual, cujo autor não era já aluno da instituição. Casos de violência não constituem casos de violação (são um tipo de problema bem diferente, mas comum a muitas escolas). Continua a ser uma grande calúnia chamar a estas instituições ‘antros de violadores’. O seu ódio pelas mesmas está a turvar a sua avaliação do que disse.
    É difícil argumentar a favor ou levar a sério a sua crítica ao texto do Tenente Coronel – uma crítica com interesse – quando seguida de uma calúnia e generalização sem qualquer fundamento.

    • Citei sim: uma tentativa de violação. É verdade que esse não é um problema dos colégios militares, mas de todos os internatos masculinos.
      A Casa Pia não é um caso único: é o único que por mera política baixa saltou cá para fora.

  6. Português says:

    Este antro de iberistas e traidores á patria, que é o que é este pasquimde blog dá-se muito mal com o nacionalismo Português.

    Força Brandão, dá-lhes nos cornos.

  7. Nacionalista says:

    “Português em 16/01/2012 ás 02:24 disse:

    Este antro de iberistas e traidores á patria, que é o que é este pasquimde blog dá-se muito mal com o nacionalismo Português.

    Força Brandão, dá-lhes nos cornos.”

    Como nacionalista, são grunhos como este “Português” (só na Net, na rua deves andar de rabo entre as pernas) que me envergonham profundamente e conotam o nacionalismo com estes patrioteiros da treta. Ou então com nazis e restante chavalada que gravita à volta deles. É que dar nos cornos aos outros dá trabalho, logo o Brandão e o Mário Machado que dêem, que o “Português” não está para aí virado.
    Toda a razão ao autor do post, já que levanta uma pontinha do véu do que se passa actualmente nos estabelecimentos militares de ensino, vulgo “colégios militares”. Meus caros, todas as instituições – repito, todas – reflectem o estado da sociedade Portuguesa; por outras palavras, não se pode confiar em nenhuma instituição nacional, seja as Forças Armadas, os Tribunais, a Assembleia da República, a Escola ou, por arrastamento, os colégios militares. Todas elas estão a sofrer a crise de valores (humanos e não só) que perspassa pela sociedade, não estando imunes a episódios menos próprios.
    Como cavalgadura que é, Brandão Ferreira ainda pensa que os colégios militares de 2011/2012 são os de 1961/1962 ou coisa que o valha. Basta procurar pela Internet testemunhos de antigos alunos do CM quando se deparam com a actual realidade da escola – alguns são, no mínimo, de profunda desilusão – para desmentir tudo o que Brandão Ferreira diz. Com grande sobranceria, generaliza que TODAS as escolas públicas são antros de ignomínia. A título de exemplo, a secundária que frequentei não teve, em três anos que lá andei, um único episódio de violência entre alunos ou entre alunos e professores. Drogas? Nunca vi tal coisa e se havia pessoa que se dava com toda a gente, era eu. Havia a malta da ganza? Havia, mas não a fumavam na escola. E esta, Brandão?
    Homossexualidade? A vida privada de cada um não era assunto corrente, sendo certo que havia umas “bocas” e insultos típicos daquelas idades sobre o assunto. Bem longe dos supostos “antros de bichanice” propostos por Brandão Ferreira. Da minha parte, proferi esse tipo de insultos, faço aqui a “mea culpa”, ainda que mais por mero gozo ao alvo do que propriamente por convicção de que a pessoa tinha orientação sexual diferente da minha.
    Como me relaciono com facilidade com as pessoas, tenho conhecido ex-alunos do Colégio Militar e ex-alunas do Instituto de Odivelas. Pois bem, ainda que nos primeiros permaneça enraizada certa “tesão de mijo” (fugindo-lhes a boca para a verdade de quando em vez), em muitas das segundas nota-se a queixa da grande impreparação para o mundo pós-colégio. A base demográfica já não é a mesma: o oficialato já praticamente não confia os filhos aos colégios militares; a classe de sargentos fá-lo mais por procura de prestígio do que outra coisa. Mais: a maioria dos alunos e alunas que saem do CM, do IO e dos Pupilos não pretende ingressar numa das academias militares. Perde-se assim a “ratio” da existência destas escolas. Não advogo a sua extinção, mas uma redefinição do que devem ser, que este modelo actual está caduco.
    Sobre a pretensa ausência de desordem, greves, homossexualidade e essas coisas todas que o Brandão crê que não há no colégios ditos militares, só tenho para mim que esse senhor não faz a mínima ideia do que fala. Quer o CM, quer o IO, quer o IMPE, têm exactamente os mesmos problemas que as escolas “normais”. Têm droga, álcool, violência, abortos espontâneos e, no caso do IO, uma preparação nalguns aspectos castradora e retrógrada completamente contraproducente; a diferença é que os meios de coerção e disciplina funcionam, ao contrário do que sucede “cá fora”. A tal escola de valores acaba-se quando muitos deles se vêem cá fora, num mundo (infelizmente) completamente novo, redundado em situações que não se verificam com um aluno saído de um colégio ou escola sem internato. Vão-se a bandeira e os valores pátrios, que a vida tem muita coisa escondida.
    Sobre a pretensa disciplina militar dos colégios militares: ainda que tenha dito acima que os meios de coerção são superiores aos demais, também falham. Há colégios privados que conseguem proibir com eficácia os alunos de usar o famigerado telemóvel, falhando os colégios militares nesse campo. Quanto à ausência de greve, o Sr. João José Brandão Ferreira nunca precisou de a fazer, por todas as razões e mais algumas. Já o Colégio Militar resolver fazer greve à vigilância dos seus alunos, colocando alunos a vigiar alunos, em vez dos antigos vigilantes. Responsabilização saudável dos jovens? Em teoria, sim; quando calham ressabiados e cobardes a prestar essas funções, é uma péssima ideia. A realidade comprova-o.
    Querem mais informação? Peçam a todos menos ao Brandão que, coitado, ainda acha que a tropa é a reserva moral da Nação; aquelas armas que desapareceram nos Comandos e no Alfeite foram obra do acaso, pois então. Pois bem, nestes idos do século XXI não é. Nenhuma instituição o é; confio mais no indivíduo em si mesmo do que nas instituições. A vida ensinou-me isso.

    Desculpem o testamento e bem hajam.

  8. Nacionalista says:

    E se permitem, avanço que algumas coisas podem ter piorado nas escolas, já que os meus anos de secundária foram no virar do século. A diferença entre mim e idiotas como Brandão Ferreira é que eu ao menos admito que posso estar desactualizado.
    Vejo por aí alguns jovens que aparentam frequentar o ensino secundário que metem nojo aos cães, mas também vejo outros que têm capacidades e valores como muitos do meu tempo não tinham.
    Um cenário bem melhor do que a desgraça nacional preconizada por Brandão Ferreira, para não falar do cenário idílico que traça sobre os colégios militares. O melhor remédio a esse e demais estarolas que acham que estão a proteger os filhos do “horrores da sociedade” quando os enfiam nos colégios militares ou em internatos é arranjar meio de lhes contar o que se passa nesses mesmos estabelecimentos hoje em dia.
    Seria remédio santo.

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