Ó George, não era em 1984, era para 2011

Em 1984, através deste anúncio, a Aplle’s Macintosh apresentava-se ao mundo. Em 2011 o governo de Portugal quer cruzar os dados do Ministério da Saúde com os do Ministério das Finanças.

Linda base de dados vem aí. Terá sem dúvida a vantagem de permitir um atendimento personalizado nos balcões das finanças – então sr. António, não o convido a sentar-se que ainda deve estar em convalescença daquela operaçãozinha à próstata -, e no SNS alguns médicos escusarão de perder tempo – ia-lhe dizer que na minha clínica o operava amanhã, mas já vi que não tem posses para isso – , é só vantagens, portanto.

Como estes ministérios não costumam usar servidores Macintosh e muito menos baseados em software open source, dada a necessidade de pagar o dízimo ao tio Bill, acresce que estarão também estes dados ao dispor de um hacker qualquer. Ou dos serviços de informação, que sempre podem descobrir umas coisas que não vêm nas facturas dos telemóveis…

Pois é George Orwell, falhaste as contas por uns 30 anos. No resto nem por isso.

Comments

  1. JJC, não era assim antes do 25 de Abril? O Estado Novo não organizava ficheiros com todas as informações que fosse capaz de obter (independentemente do serviço/ministério) sobre quem quisesse e muito bem entendesse?

    Estão-nos a foder e toda a gente anda “a ler”…

    • Pois, mas faziam-no à mão, o que era um bocado limitado. Com computadores, a coisa é muito mais perigosa.

      • Um bom sistema de referência manual funciona de uma forma excepcionalmente boa. Especialmente pq o pessoal que interage com esse sistema tem necessariamente de ter formação para o fazer (se não o fizerem não funciona de todo).

        Já com os sistemas informáticos não se investe nem um décimo do necessário em formação que permita serem usados aproveitando uma modesta parte do respectivo potencial. Este é um dos motivos para os sistemas estarem tantas vezes em baixo…

  2. E esta trampa começou com a estória do cartão do cidadão…

  3. Não sei se essa prática será constitucional, vê o Artigo 35, especialmente a alínea 5. Ao estabelecermos relações unívoca entre tabelas diferentes estamos a contrariar a referida alínea, criando efectivamente um número único.

    É por esse motivo que, dizem, os números inscritos no cartão de cidadão não estão relacionados entre si (o que eu julgo ser difícil ser verdade, mas enfim).

    Por outro lado, podemos sempre contar com a incompetência que o estado normalmente demonstra na implementação destes sistemas. O motivo desta incompetência acima do normal deriva da grande complexidade destes sistemas, complexidade essa que não é compreendida pelos nossos políticos e também não é compatível com o sistema de compadrios usados nos supostos concursos públicos usados para adjudicar estas obras (o facto do TI do estado ser uma área extremamente lucrativa para as empresas, também não ajuda). Este fenómeno é universal nas administrações públicas, exemplo googlado à pressa.

    • Eu não conto com a incompetência de ninguém. Conto é com as fraquezas e perversidades humanas. Seria uma estupidez da minha parte facilitar a vida a quem me pode querer fazer mal. E já facilitaram por mim: sempre que tenho de deixar fotocopiar o CC ficam com os meus números todos. Sejam empresas ou organismos do estado, acabam todos por ter acesso a todos os meus números, o que é equivalente a eu ter um número único. Portanto, considero o CC ilegal e inconstitucional.

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