Mea Culpa, Mea Culpa, Mea Máxima Culpa

Foi a sua persistência, a da sua mulher Jenny e a de Friedrich Engels, o amigo eterno, que Karl Heinrich Pembroke Marx foi capaz de descobrir a formação do capital e convertê-lo numa fórmula que todos deviam saber. Sem saber economia, como tenho referido entre outros dos meus livros:

A economia deriva da religião, 2003, Afontamento, Porto, 180 páginas, e O Presente, essa grande mentira social. A reciprocidade com mais-valia, 2008, Afrontamento, Porto, 180 páginas, sem saber economia, torno a afirmar, a população de qualquer país, pode ser levada a engano e perder lucro nos seus investimentos e nas suas poupanças, não lucrar ou ganhar dinheiro, essencial para as transacções de mercadorias. Transacções que formam um mercado de abastecimento, consumo e lucro em dinheiro.

Quem saiba economia, definida como as trocas de capital, entre o fixo ou moeda para investir e o variável, ou o operário que trata de máquinas, usa a sua força de trabalho para mobilizar a maquinaria ou trabalhar a terra em hortas para o seu consumo ou a venda em indústrias de bens, vendidos a população, ou para organizar o mercado ou praça que vende produtos.

Palavras simples, que Marx, após 20 anos a estudar modos históricos de produção ao longo dos séculos, escrevia com letras que apenas a sua mulher Jennifer von Westphalen ou Jenny Marx entendia e redigia em livros, usados para avançar em teoria para o povo saber e não ser enganado. A seguir, era o debate com Friedrich Engels. Do conjunto desse debate e com os discípulos de Marx, o sábio materialista histórico – porque baseava o seu saber na economia de mercadorias, de ai o conceito materialista, não era divindade nenhuma que inspirava suas ideias, era as suas análises das formas de trabalho e as suas mudanças através do tempo, que o levaram a descobrir como a natureza crua, passava a ser um bem, que dominou mercadoria.

O resultado foi este, escrito no volume I da sua obra fundamental: O Capital, de 1867: Chamando a maquinaria capital constante (C) e o trabalho capital variável (V), C de sicrano foi fabricado por beltrano, que veio da soma de S + V, ou seja, para se fabricar máquinas de sicrano foi preciso a máquina de beltrano somada ao trabalho contratado por beltrano. E C de beltrano, da soma de C+V fulano, e assim por diante.

C1+V1=C2; C2+V2=C3; C3+V3=C4… (C2 maior que C1, C3 maior que C2…). Quem soube-se esta fórmula e a aplica-se, era capaz de criar mais-valia, ou o salário do lucro ou C2.

Apenas ele e os proprietários do capital sabiam destas trocas e dos investimentos para obter mais-valia e assim criar capital, serem ricos e mandar sobre a população. Aliás, todas estas actividades estavam legisladas, pelo que o direito entreva no jogo do capital. Direito conhecido pela burguesia proprietária dos bens, que votava um Parlamento para realizar o jogo de mais-valia, base material e real do capital, que a todos governava: aos parlamentários, para escolher o réditos, e ao povo, para trabalhar e pagar impostos que mantivessem ao Parlamento e a burocracia estatal, quem mandava em eles. Marx admite: esse jeito de resolver o problema sempre vai deixar um resto, fracções cada vez menores de horas que geraram salário e lucro, mas sempre um resto.

Para pagar a maquinaria de esferas de produção maiores, busca-se horas trabalhadas de esferas menores que forneceram esses meios de produção (pois nessas esferas menores também acrescentaram trabalho à matéria-prima) e resta o valor de outra maquinaria/matéria-prima. Uma forma da conta não deixar resto é admitir que qualquer coisa veio de graça, digamos de actividade ligada à natureza como extractivista.

Mas reparem que tal procedimento mostra que a teoria do valor-trabalho não conseguiu dar conta de todo cálculo, pois uma pequena fracção do valor veio da natureza, o que lembra um pouco a teoria do valor amparada pelos antecessores ao Smith, os Fisiocratas, que diziam que o valor vem da natureza. Foi deles que Marx aprendeu esta via da análise, de Quesnay, fisiocrata, professor de Smith e do onde de Saint- Simon, criador da teoria da igualdade.  

E o povo trabalhador nada disto sabia e deixava-se governar. O povo trabalhador tinha apenas uma alternativa: os milagres e os favores da divindade e dos seus santos. Não é por acaso que o título do texto é o que se lê nele. A falta de dinheiro e a pobreza podiam ser remediados se pessoas perto da divindade podiam entregar bens de graça. Cada Estado tem, como tenho referido em outros textos, uma Nossa Senhora ou um santa que pode, seja verdade o imaginário o virtual, trocar a realidade por pão e trabalho. Em Portugal, bem sabemos, é Senhora de Lurdes, no México, a Nossa Senhora de Guadalupe, no Chile, a Virgen del Carmen, que é comemorada em todo o país como dia santo e de folga, a 16 de Julho desde o dia em que o Libertador do Chile, Bernardo O´Higgins, após ganhar a batalha que criou a independência do país, fez construir um monumento para La Virgen em Maipú, sítio do sucesso, prestou homenagem, as tropas desfilaram, como tem acontecido desde 1818 e entregou o povo ao seu cuidado.

Bem como a famosa Santa Edwinia, que dá comida e trabalho aos desvalidos. Santa Edwiges da Silésia (Andechs, Baviera, 1174 – Trebnitz, Silésia, actual Trzebnica, Polônia, 14 de Outubro de 1243), nascida Edwiges de Andechs, é conhecida na Polónia pelo nome de Jadwiga Śląska. Depois da morte do marido e dos filhos, entrou para o mosteiro e dedicou-se a ajudar os carentes. Com seu próprio dinheiro, construiu hospitais, escolas, igrejas e conventos. Ganhou fama de protectora dos endividados por ajudar defeitos da região, presos por não terem recursos e pagar as suas dívidas. Foi proclamada santa pela Igreja Católica em 1267.

O dia 16 de Outubro é dedicado a Santa Edwiges, popularmente conhecida como protectora dos pobres e endividados.

Como hoje, quer o seu sítio, quer o de Fátima, estão cheios de pedintes, por sentir que a pobreza é resultado do seu mal comportamento, pecados, traições, furtos e outras aleivosias eu, se não cometerem, não teriam como comer. A falta de emprego é um pecado que ofende a divindade que pune com fome, falta de casa e de dinheiro.

Verdade ou invenção, é o que o povo acredita e as várias confissões estimulam e nós, socialistas, respeitamos. …e eventualmente, acompanhamos.

A troika do povo é os seus santos e orações, imagens, confissões, arrependimentos e pedidos de perdão. Como analista, apenas posso acrescentar que são emoções que ajudam a ultrapassar a falta e pão.

A troika, os santos, as Nossas Senhoras… mea culpa, mea culpa… Perdoai, Senhor… dito com todo o respeito aos que acreditam e respeitam aos homens sem fé como eu…

 

Comments

  1. Meu caro,
    Há muitos tipos de Economia e não apenas a monetarista, que refere.
    O sr. Iturra, por exemplo, só pode escrever estes longos textos que aqui publica porque tem, certamente, uma esposa que executa gratuitamente um sem número de pequenas tarefas diárias essenciais que lhe permite essa disponibibldade.
    Sem essa Economia “da dádiva” na sua base, a Economia “da compra e venda” não funcionaria.

    O conceito marxista de Economia é metafísico e, por isso, impraticável. O próprio Lenine o reconheceu quando, logo após a revolução e para ultrapassar essa impraticabilidade, teve que recorrer a uma nova ideia sumarizada no “slogan”: O socialismo é a ditadura do proletariado acrescentada da introdução generalizada da mais moderna maquinaria eléctrica.

    http://umjardimnodeserto.wordpress.com/2011/09/23/o-que-impede-portugal-de-sair-da-crise-economica-1/

    Quanto à ideia marxista do determinismo dos papéis sociais, levada até ao ponto de considerar que o bom homem de posse que dá aos miseráveis do que é seu é o pior inimigo da classe oprimida porque isso abranda a sua luta e atrasa a sua libertação… isso, meu caro, é um puro exercício de má-fé – e uma enorme desonestidade intelectual.

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