Em defesa da Linha do Tua contra o chefe Mexia, o capataz Passos e o secretário Viegas (por ordem de importância)

Nestas coisas da Energia, já se sabe, quem manda em Portugal é o Mexia da EDP. O seu humilde capataz, o Passos – burro mas suficiente para o que é necessário fazer – lá vai executando, de gatas, as medidas do chefe. Quanto ao Viegas, entretido que anda a cobrar as entradas dos museus aos Domingos, ainda nem deve ter percebido muito bem que uma via férrea centenária quase única e uma paisagem Património da Humanidade também fazem parte do seu pelouro. Seja ele qual for.
Neste caso, nem sequer temos desculpa. O facto de sermos governados por um ignorante e iletrado, de quem nada se espera em termos de defesa do património natural e edificado do nosso país, não dá a ninguém o direito de cruzar os braços perante o atentado criminoso que se prepara para o Vale do Tua e a sua inacreditável linha ferroviária.
Para quem não sabe, a Linha do Tua foi equiparada, pelos mais reputados engenheiros, em termos de dificuldade, às Linhas ferroviárias dos Alpes Franceses ou Suíços. Pela sua beleza e rigor técnico, merecia ser classificada como Património Nacional ou, mesmo, Património Mundial da Humanidade.
Ao invés, querem destruí-la. Para dar lugar a uma Barragem, que representará menos de 4% da produção de energia existente de norte a sul. Uma Barragem! Um monte de betão, tão do agrado dos novos engenheiros de Portugal. Os pequenos economistas que hoje mandam no país, como os engenheirozecos do passado!
Pensarão os mais pessimistas que não adianta lutar. Nada se pode contra o betão! Nada se pode, no fim de contas, contra o dinheiro! Pois se Portugal é líder nas energias alternativas e continuamos a pagar a electricidade cada vez mais cara…
Concedo que é difícl. Lutar contra o betão e o dinheiro é difícil, mas lutar contra a ignorância é ainda mais. Mas não é impossível. Temos as gravuras de Foz Côa como exemplo, apesar de continuarem à espera de uma verdadeira política de exploração cultural e turística.
Infelizmente, quando perguntados, os senhores do poder dirão que se trata de progresso. De desenvolvimento.
Como é óbvio, os senhores do poder não sabem, porque não querem saber e porque são ignorantes e iletrados, que em 1886 a Linha do Tua já chegava até Mirandela e que em 1906 chegou a Bragança.
100 anos depois, a ligação a Bragança já não existe. Há muito que já não existe! 120 anos depois, querem acabar com a ligação a Mirandela, a última ligação ferroviária do Nordeste Transmontano!
O progresso é isto? O desenvolvimento é isto? Acabar com o meio de transporte mais limpo, mais eficiente e menos poluente do mundo é progresso? É desenvolvimento? Abandonar a via tradicional para fazer absurdos TGV’s num país minúsculo o que é?
Para o fim, o mais importante: as pessoas. Algo que, olhando para a realidade sócio-política do nosso país, não será grande argumento. São poucos aqueles que vivem em Trás-os-Montes, por conseguinte, são poucos aqueles que votam. Acabar com a única ligação ferroviária em toda a região não representará mais do que meia dúzia de milhares de votos, tantos quantos são aqueles que utilizam anualmente a Linha.
Milhares de pessoas, todos os anos, em aldeias isoladas, sem forma de chegar a Mirandela ou à Régua? É o progresso! É o desenvolvimento!
Resta-nos, pois, lutar. Sozinhos. Com a força da razão. Em defesa de um vale único que vai desaparecer. Em defesa de uma linha irrepetível, considerada a terceira mais bela do mundo das vias estreitas. Em defesa de Portugal. Em defesa das suas gentes que dependem do comboio.

Adaptado daqui

Comments

  1. Nightwish says:

    Eu não sei se são mais ou menos de 4% da produção nacional, mas há uma coisa que sei… O aquecimento global está-se a marimbar para a linha do Tua e para as gravuras rupestres, e as mortes que vai causar são inúmeras.
    A acreditar nos últimos estudos, já nem sequer é uma questão de evitar uma catástrofe global mas de tentar que dure o menos tempo possível para a humanidade sobreviver ainda semelhante a como a conhecemos.

  2. Guido Brunetti says:

    E a Ministra Canavilhas? E o SEC Sumavielle? Foram eles que decidiram, com base num Alto Parecer, que a Linha do Tua não valia nada e não tinha qualquer interesse patrimonial!
    Um doce a quem adivinhar quem fez esse parecer!
    Sim, é do Bloco de Esquerda!

    • A. Pedro says:

      Guido Brunetti

      Eu dou dois doces, mas põe lá o nome do autor do parecer. Juro que gostava de saber.

      • Guido Brunetti says:

        Caro A. Pedro

        Aqui vai ele – Cláudio Torres

        Cumprimentos

  3. http://www.tvi24.iol.pt/sociedade/comboio-tvi24-tua-ultimas-noticias-transportes/1289981-4071.html

    «Acaba definitivamente o serviço público na linha do Tua»

    ler a noticia completa por favor

  4. daniela rodrigues says:

    eu acho que este decomento podia ter mais imformaçao eu quero fazer um trabalho para a escola e nao encontro o que procuro!!

  5. http://expresso.sapo.pt/unesco-discute-compatibilizacao-do-douro-com-barragem-do-tua=f814158
    Vila Real, 15 jun (Lusa) — O Comité Mundial da UNESCO, que se reúne nas próximas duas semanas, no Cambodja, discute o projeto de deliberação sobre o Douro que conclui que a Barragem de Foz Tua “não afeta de modo irreversível” o Património Mundial.

    No entanto, apesar de compatibilizar a barragem com o Alto Douro Vinhateiro (ADV), classificado pela UNESCO em 2001, a organização exige a implementação de medidas de mitigação e de proteção do bem.

    O Comité Patrimonial da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura realiza a sua reunião anual entre segunda-feira e 27 de junho, no Cambodja, devendo o ponto onde se insere o dossier Douro ser discutido entre os dias 19 e 20, data que pode sofrer ainda alterações.

    Ler mais: http://expresso.sapo.pt/unesco-discute-compatibilizacao-do-douro-com-barragem-do-tua=f814158#ixzz2WIRTFNTh

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  1. […] petrolífera. É exactamente o caso do Douro e da Barragem do Foz-Tua, que destrói todo o Vale do Tua e a sua linha férrea. São danos irreversíveis, como muito bem diz a UNESCO, por isso a continuidade da construção da […]

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