Ao Mário Crespo, por causa das economias modernas, das férias e de outros salários

Há uns tempos tive imensa dificuldade em explicar a um casal amigo em Washington que em Portugal havia um mês por ano em que não trabalhávamos e recebíamos o dobro.

escreve hoje no Expresso Mário Crespo, acrescentando que essa subvenção é “muito rara nas economias modernas“. Não tenho grande experiênciaa em lidar com alunos NEE (com necessidades educativas especiais), secção fraca capacidade cognitiva, mas vou dar uma ajudinha, que talvez para a próxima facilite.

Fernand Léger, As Férias (homenagem a Louis David), 1948-49

Fernand Léger, As Férias (homenagem a Louis David), 1948-49

Saiba o Mário Crespo que economias modernas é um conceito muito relativo. Imagine que 4 000 000 000 de humanos têm presentemente direito a férias pagas, incluindo toda a União Europeia. Economias caducas, sem dúvida. É certo que o sistema de pagamento de salários tem as suas variantes. Nos EUA é frequente pagar-se à semana, o que tem a vantagem de se receber em todas. Os portugueses e outros subdesenvolvidos da Europa ao perderem parte do 13º mês este ano sofrerão pela contingência de um ano ter 52 semanas, regularidade que os meses não têm, o que complica um bocado as contas. Como ser roubado por esticão, à mão armada ou por burla vai dar ao mesmo, não nos vamos preocupar agora com isso.

Na verdade o que conta é aquilo que recebemos num ano. É ao ano que se fazem os orçamentos, no estado ou nas empresas, nas economias modernas e mesmo nas arcaicas. Convenções. E agora vou-lhe contar a parte mais díficil: imagine que esta coisa do 13º mês, e do subsídio de férias, tem um único objectivo económico: duplicar em dois meses do ano o rendimento dos papalvos, induzindo-os num caso a irem de férias, a hotelaria e seus parentes do turismo agradecem, e no outro a gastarem à tripa forra em prendas de natal e outros consumismo do solstício de inverno, salvando muitas vezes o ano ao comércio a quem compete vender o que produz a indústria.

Eu sei que o seu problema, Mário Crespo,  é outro, de resto espalhado pelo mesmo Expresso de hoje: iniciar a campanha para acabar com estes subsídios, na realidade dois catorze avos do meu legítimo vencimento, para em 2014 reduzirem efectivamente, e de vez (falamos de gente para quem a História não existe mas a estupidez muito assiste), o custo salarial em Portugal, tanto no público como no privado, onde os ingénuos se andam por enquanto a rir. É a lógica dos fundamentalistas dos salários, que o economista Álvaro Santos Pereira tão bem criticou, antes de virar Frei Tomás.

Entendi-te Mário Crespo, entendi-te. Como não vivo na aldeia gaulesa de Barcelos, seja vossa excelência pago ao dia, à semana, ou mesmo ao século, convido-o a ir bardamerda, local cujas coordenadas geográficas exactas desconheço mas para onde desde pequenino o meu Tio Mário (há Mários boas pessoas, a culpa não é do nome) me ensinou a enviar os tipos que me tentam comer por parvo. Cumprimentos.

Comments

  1. jorge anyunes says:

    Este Mário Crespo é outro.Faz das pessoas parvas.Um vaidoso da pior espécie atribui-se uma importância que não tem.Não passa de um medíocre convencido sempre disposto a beijar a mão a quem mais lhe der.Jornalista de excelência!?Livra!

  2. jorge fliscorno says:

    É irrelevante quantos meses se recebem. Conta sim, o valor anual. Mas para quê ver o óbvio?

  3. O óbvio é daqui a dois anos decidir-se acabar com 2 meses de ordenado. Entretanto nessas contas quem é que vai perder, ao ano?

  4. É óbvio que os dois subsídios fazem parte do salário. No entanto não estou de acordo com a sua existência. Penso que deveriam pegar no salário bruto de um ano (incluindo os subsídios) e dividi-lo por doze, o valor obtido seria o novo salário mensal, sem diminuir o dinheiro recebido de forma nenhuma.

    Os motivos para se fazer desta forma são vários:

    • Num mundo perfeito as empresas deviam ter reservas para fazer o pagamento dos subsídios. Na verdade isso não acontece, o aperto de tesouraria, que é crónico nas empresas portuguesas, é exacerbado nestas alturas. Em tempos de crise muitas vezes significa o fecho das empresas. A abolição dos subsídios não iria eliminar a necessidade das nossas empresas serem governadas por pessoas competentes, mas iria ajudar;
    • O pagamento dos subsídios parece sugerir que as pessoas não têm capacidade de gerir as respectivas finanças, passando um atestado de menoridade a quem os recebe. Penso que seriam muito melhor ensinar-se nas escolas o que é o dinheiro e como geri-lo do que termos estes subsídios paternalistas;
    • Como em teoria todos os meses é retido ao trabalhador uma parte do salário que só é paga de seis em seis meses, na prática estamos a negar o uso desse dinheiro (que enquanto não é pago pode ser usado no que a empresa quiser). Esse montante é reduzido se pensarmos numa só pessoa, é um valor muito grande se considerarmos o conjunto de pessoas que recebe os subsídios. Pelo mesmo motivo o pagamento ao dia é mais justo que o pagamento ao mês. Além do mais, este capital gera um determinado retorno que é sonegado ao detentor do mesmo.
    • Mais que não seja porque a divisão do salário anual por 14 prestações é um estímulo ao consumismo desenfreado, também concordo, por princípio. No actual contexto o fim é outro. E tanto no público como no privado essa mudança seria sempre feita em prejuízo de quem recebe: mais do que num tempo de vacas magras estamos numa época de vacas ladras.

      • Sim, objectivo claro é baixar os salários. No caso conseguem logo 14.3%. Se juntarmos a isso a estagnação devido à inflação, rapidamente se vê que estamos num trajectória insustentável. Sem uma classe média forte o sistema económico que temos não funciona.

        Isto não acontece só cá, até na Alemanha temos o mesmo problema, de 2000 a 2009 os salários reais caíram na Alemanha 4.5%. Se formos analisar o resto do mundo desenvolvido, é exactamente a mesma coisa.

        O problema é que este caminho não é sustentável, nem sequer por muito pouco tempo.

  5. Pois. De há uns tempos para cá fala-se muito em acabar com esses subsidios, muita gente é a favor, mas esquecem-se de que os ditos 13º e 14º meses representam as poupanças que os menos “abonados” não puderam fazer durante o ano por via dos salários baixos que há por aí…
    Toda a conversa em redor deste tema serve para nos ir preparando para o fim dos mesmos.

  6. Nightwish says:

    Se o crespo tentar explicar aos americanos que os portugueses têm que viver em Portugal com uma média de 800€ por mês também acharão estranho… mas isso já não conta…

  7. Os povos tem o direito de se administrar como muito bem entendam. Não temos de ser iguais a outros… Ou apenas copiar o que é “moda” para os fundamentalistas da austeridade (uma classe recente que agora aparece a toda a hora dizendo para “cortar mais” sempre que qualquer governo corta alguma coisa… Nesta classe incluem-se os economistas, essa estirpe que nunca resolveu nada, mas que criou o caos financeiro em que o mundo vive…).
    Já agora, devemos reintroduzir a pena de morte?! É que ela existe nos USA – esse “el dorado” da boa gestão dos salários e dos sistemas de saúde… Felizmente que na democracia todos tem direito a opinar! Até um idiota como eu, ou como o Mário Crespo!…

  8. Talvez o Mário Crespo consiga explicar porque é que as empresas portuguesas não oferecem aos trabalhadores e família nuclear planos de saúde, tratamentos dentários grátis, planos de reforma, transportes grátis, bilhetes de temporada para os mais variados desportos, apoio judiciário gratuito, habitação (incluindo água, luz, telefone e net) grátis, uma vasta parafernália eletrónica gratuita (palmtops, pc’s fixos e portáteis, telefones fixos e portáteis, ipod’s, ipads, and s on), lugares privativos de estacionamento, ginásio pago, visitas turísticas, fins de semana em estâncias de luxo, campos de férias para os filhos, cursos de gastronomia, degustação, pintura, inscrições em clubes de golfe privados, etc., etc., etc..
    Ah! já agora dizer-lhe que, por cá, esses benefícios quando existem, e até há empresas que os praticam, só se destinam a membros do topo da pirâmide e pagam IRS coisa que não acontece nos USA.
    Aproveitem e digam-lhe para lhes explicar que há quem desconte toda uma vida para a reforma e no fim recebe menos de 400 dólares por mês para se sustentar…
    Talvez assim a malta de Washington perceba melhor.

  9. MAGRIÇO says:

    Devo confessar que gostei da unanimidade de todos estes comentários! Há uns anos considerava o Mário Crespo como um jornalista de referência, mas, infelizmente, não sei se o protagonismo lhe subiu à cabeça pois ficou subitamente um cretino intragável. Consequências do excesso de convivência com os sobrinhos do tio Sam…

  10. Carlos Fonseca says:

    O Mário de Crespo, quando esteve nos EUA ao serviço da RTP, bem poderia ter devolvido os subsídios à empresa pública de TV, para ser coerente com as ideias que defende..
    No caso de Portugal, os subsídios de Natal e de férias constituem parte da remuneração anual ou proporcional a subperíodos do ano, consoante o tempo total ou parcial da actividade do trabalhador. Trata-se de um direito consolidado em matéria de leis e acordos laborais do País e tanto assim é que o Eurostat (aqui: http://epp.eurostat.ec.europa.eu/tgm/table.do?tab=table&init=1&language=en&pcode=tps00155&plugin=1) valoriza o salário mínimo nacional de 2011 em € 565,83 / mês (485,00 x 14 / 12) e não em € 485,00; critério este, de resto, utilizado para anos anteriores pela mesma organização europeia. A ‘troika’ pretende distribuir os dois subsídios ao longo dos 12 meses. Vamos a ver se não acaba na extinção pura e simples.

  11. jose magalhaes says:

    Esse pretenso jornalista, corrido da RTP dos USA por má figura, esquece que o 13º e o 14º mês fazem parte do vencimento anual e foi uma forma de aumentar os vencimentos dos trabalhadores em que ele se inclui, mas que na verdade também é uma forma de os trabalhadores financiarem a entidade patronal, pois só recebiam parte do vencimento mensal de 6 em 6 meses? Se ele tivesse vergonha de não mostrar isenção de jornalismos o melhor era estar calado.

  12. José Freitas says:

    Os dois ordenados perdidos são um sacrificio que merece respeito. Quem não consegue respeitar isso não merece respeito.

  13. Ricardo says:

    O que para aí vai de ressabiamento. É bem mais facil insultar do que discutir. Claro que Portugal tem vivido de benesses idioticas. Crespo tem toda a razão. Li o artigo, sou econopmista e assino por baixo. Tenham juizo!!!!

    • Interessante, fala em discutir mas não faz uso de argumentos. Reverte inclusive ao uso de insultos, bastante suaves, mas insultos na mesma.

      A tese é apresentada no post, já que é economista digne-se por favor a verter a sua sabedoria neste fórum, liste as benesses idiotas, enfim, monte um argumento. Para pudermos conversar.

  14. Ricardo says:

    O tom introduzido no post inicial impede qualquer discussão séria e impossibilita uma argumentação civilizada. Por outro lado abre caminho à série que se lê acima de impropério gratuito e selvático. É uma questão de estilo…cada um tem o seu. Neste ambiente, e noutros que se vão declarando, a conversa é impraticavel. Passe muito bem.

    • Então, porque motivo perdeu o seu tempo para deixar um comentário? Não acrescentou nada à discussão e, deixe que lhe diga, se foi para admoestar o autor do post, podia ter sido um bocadinho mais efectivo… Faz-me lembrar o nariz do Cyrano de Bergerac!

      Mas tudo bem, boa noite para si…

    • Ricardo, adorei, adorei, adorei, citando o grande João César Monteiro. Não lia nada assim desde o séc. XIX, altura onde era vulgar os seus argumentarem com tal eloquência quando se referiam aos outros, gratuitos e selvagens, a quem já não podendo usar o chicote, boquilhavam finamente umas flores deste nível. Ai o spleen…
      Leia o Eça, meu caro, algures, muitas vezes, vai encontrar-se num espelho, embora o autor possa por vezes ser um pouco impraticável quando vos comenta, queridos e eternos donos da educação, civilidade, e sobretudo do nível a que nunca descem. Que horror.

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