Esses liberais, neo-liberais e ultra-liberais portugueses

A esquerda e o intermitente PS de direita ou esquerda conforme é governo ou oposição têm bramado com considerável insistência que o país padece dos males trazidos pelo neo-liberalismo. E que até há políticas ultra-liberais.

Confesso que não sei muito bem do que estarão a falar, já que liberalismo implica que o Estado tenha um papel não intervencionista na economia e na sociedade em geral. Como todos sabemos, não há negócio neste país que não precise do encosto estatal e não há porcaria de aspecto da nossa vida que não mereça um decreto parlamentar. Portanto, liberalismo em Portugal? Será melhor ler algo pronto a clicar, como a Wikipédia, por exemplo.

Vem isto a propósito destes partidos praticamente reclamarem que o PSD e Pedro Passos Coelho personificam o liberalismo. Mas então, o que terão a dizer das declarações que PPC ontem fez sobre a necessidade de criar condições de financiamento das empresas públicas junto da banca? Será isto liberalismo?

Se o intervencionismo que tem ditado o rumo da nossa economia, quase sem excepção, tem ponta de liberalismo, então o melhor será eu dedicar-me à pesca (depois de pedido o adequado subsídio, perdão, incentivo).

Comments

  1. Porque você confunde o liberalismo com o neo-liberalismo. Neo-liberalismo é mesmo isto, privatizar os lucros e nacionalizar os prejuízos, privatizar o que dá lucro e por o estado a pagar o que dá prejuízo, dar subsídios às empresas por coisas que seriam muito mais baratas no estado…

    • jorge fliscorno says:

      Temos, quanto a mim,o pior dos dois mundos (liberalismo e intervencionismo), levando precisamente ao que descreve, e bem, da privatização dos lucros, a par com a nacionalização dos prejuízos. A isto eu não chamaria neo-liberalismo mas sim sacanice.

  2. J.Pinto says:

    Muito bem.

  3. J.Pinto says:

    Portugal é um dos poucos países onde não existe nenhum partido liberal. Portugal é dos países onde a esquerda tem mais representatividade no parlamento (não existe nenhum partido liberal no parlamento). Portugal é dos poucos países onde o socialismo e a social-democracia representam perto de 80% do eleitorado – não esquecer que, ao contrário do que se associa em Portugal, a social-democracia é um partido de centro-esquerda nos restantes países, por isso, na maior parte dos países os dois partidos em conjunto não representam uma percentagem tão grande da população (em muitos países, só um dos dois partidos existe).

    • MAGRIÇO says:

      Tem razão! Não existe qualquer partido liberal em Portugal. Mas,meu caro, considerar o PSD um partido de esquerda só pode ser ironia. Tenho até algumas dúvidas que este partido tenha um único dirigente que se possa considerar como Social-Democrata. Esta partido é uma fraude e um insulto a sociais-democratas como Olof Palme ou Willy Brandt. E também não é liberal, já que os seus dirigentes, como bons aprendizes de feiticeiro, quiseram ir mais longe e tornaram-se “liberalóides”, ou seja, atingiram um estado de demência liberal.

      • J.Pinto says:

        Eu não disse que o PSD é um partido de esquerda, mas o PSD dos últimos anos está muito mais próximo dos social-democratas do resto da Europa do que do liberalismo. De igual forma, o PS dos últimos anos é muito mais próximo da social-democracia europeia do que do socialismo matricial. Por isso, os dois partidos são muito próximos em termos ideológicos. Aliás, pelo têm feito quando estão na governação, não se notam grandes diferenças. Não existem grandes diferenças de fundo.
        Não podemos confundir as medidas atuais do PSD (partido do Governo) como uma matriz do quer que seja. Aliás, as medidas tomadas atualmente estão muito limitadas pelas condições que todos conhecemos. Por isso, apesar de presumir que este PSD estará mais liberal em termos económicos, não é possível, tendo em conta as condicionantes do âmbito da governação, aferir da sua posição.
        Continuo a não concordar com a comparação que muitas vezes se estabelece em associar o liberalismo à direita. Errado. Um liberal vai buscar muita da sua doutrina à esquerda, principalmente em termos sociais. Aliás, se tivermos em conta o liberalismo-social, os liberais têm ideias parecidas com o BE. Do ponto de vista económico, defende exatamente o oposto do BE. Esta distinção entre esquerda e direita não faz qualquer sentido atualmente. Aliás, os partidos de extrema-direita, os nacionalistas, defendem exatamente o contrário dos liberais. Portanto, colar o liberalismo à direita é o maior erro que se pode cometer. Nada de mais errado.

        • MAGRIÇO says:

          É um facto que está muito diluída a diferença entre entre PS e PSD, mas considerar que é um erro classificar o liberalismo como uma filosofia de direita é, no mínimo, redutor. Eu não mencionei o liberalismo no sentido lato do termo – se ler com atenção o que escrevi, verá que mostrei alguma dúvida sobre a ideologia dos dirigentes do PSD – mas o liberalismo radical que actualmente emerge deste partido. E é redutor porque, como sabe, há várias correntes tradicionais de pensamento sobre o tema e vou, para abreviar, citar unicamente duas situadas nos antípodas e ambas do século XVIII: Adam Smith, que defende que a produção deve ser utilizada em proveito da sociedade colectiva, e o radical Thomas Malthus que achava “que o Estado devia limitar-se a proteger os mais ricos, recusando quaisquer direitos aos pobres. O único conselho que lhes dava (aos pobres) é que não se reproduzissem”. Qual destas é que advoga?

          • J.Pinto says:

            Magriço, desde já digo que é um prazer falar consigo.

            Eu não advogo nenhuma das duas. Aliás, tenho muita dificuldade em perceber por que razão há de alguém identificar-se com as ideias de uma determinada pessoa.

            De uma forma simples, defendo o liberalismo económico, porque penso ser o mais apropriado, tendo em conta o mundo em que vivemos, a Europa e o Mundo em que nos integramos. A liberdade e a iniciativa privada são, na minha opinião, a melhor forma de competir e de um país se desenvolver no atual mundo. No entanto, não sou um liberal cego. Não fossem as condições as atuais, poderia não defender o liberalismo

            Não defendo um liberalismo sem Estado, mas com o mínimo de Estado, um Estado regulador, que responde pelas suas responsabilidade (no caso do BPN e BPP, o Estado não exerceu o papel de regulador).

            O Estado, para além de ser pequeno, neste momento, não tem hipóteses de ser grande. Não há dinheiro. Em termos sociais, como sabe, a liberdade está mais associada à esquerda (ou centro – esquerda ou direita) do que à direita. Os nacionalistas defendem exatamente o contrário dos liberais, em todos os aspetos.

  4. MAGRIÇO says:

    Caro J. Pinto, o prazer é mútuo. Aliás, quando o interlocutor não interessa nem vale a pena perder tempo. Gostaria de contestar a sua afirmação de que “tem muita dificuldade em perceber por que razão há de alguém identificar-se com as ideias de uma determinada pessoa”. Não tenho a pretensão – tal como acredito que também não tenha – de dominar todas as áreas do conhecimento humano, e o pouco que vou sabendo bebo-o de quem sabe destas coisas e criou escola com a superioridade do seu intelecto. Estão neste caso os pensadores que acima citei, o que não quer dizer que obrigatoriamente alguém tenha de estar de acordo com elas. Mas se não fossem eles nem sequer, possivelmente, nos lembraríamos de abordar estes assuntos, e a eles devo alguns conhecimentos que me fizeram meditar sobre esta problemática da evolução social. Não me vejo, por exemplo, a “inventar” o termo liberalismo! Alguém o fez e deu origem a estas salutares trocas de opiniões. Eu ensino matemática, mas não fui eu que a “inventei” nem sequer contribuí para a sua evolução: limito-me a transmitir conceitos que outros muito mais criativos elaboraram e com os quais aprendi. Já me dou por satisfeito por contribuir para a sua divulgação.
    Cumprimentos.

    • J.Pinto says:

      Boa tarde Magriço,
      É claro que já li bastante sobre os vários modelos económicos e políticos, incluindo os acima referidos. O que eu quero dizer é que, na minha opinião, o liberalismo, o comunismo, o socialismo, a social-democracia, etc., foram-se modificando ao longo dos tempos, foram-se adaptando. Não quer dizer que o “meu liberalismo” não tenha ido buscar algumas ideias a alguns, e outros, daqueles autores.
      No entanto, porque a sociedade mudou, porque as condições mudaram, porque o mundo mudou, o próprio liberalismo teve de se adaptar. Como disse atrás, não sou um liberal cego, não defendo todo e qualquer liberalismo, mas dadas as atuais condições penso que é o melhor modelo. Em termos económicos, é o único, na minha opinião, que neste momento proporciona o máximo desenvolvimento numa economia de mercado. Se preferirmos viver numa economia fechada e/ou protecionista, as coisas serão diferentes. Não foi esse o caminho escolhido por Portugal quando aderiu à EFTA, depois à CEE, ao euro, etc. Todos os passos dados por Portugal foram ao encontro da participação ativa numa economia de mercado. Não estou a ver como é que, neste momento, algum país da EU pode adotar uma atitude protecionista.
      Em termos sociais, como lhe disse, não concordo com a constante intervenção do Estado na vida das pessoas. O Homem, tendo em conta as regras normais de vivência em sociedade, deve ser livre para tomar as decisões que considere as mais corretas. Não deve ser o Estado a impor se determinada pessoas deve fumar ou não, não deve ser o Estado a impor o que é as pessoas devem ou não devem comer.
      Ainda do ponto de vista económico, tendo em conta as atuais condições financeiras do Estado, não vejo como é que o Estado pode ter uma postura interventiva.
      A minha resistência em falar de teorias (podemos discuti-las) não tem a ver a falta de compreensão dos autores que mencionou, mas apenas porque prefiro discutir os problemas atuais e arranjar soluções adequadas. Por isso lhe falei no meu conceito de liberalismo.

      • MAGRIÇO says:

        Caro J. Pinto, tenho a certeza de que as suas intenções são as melhores, mas não posso deixar de reparar que, na fogosa defesa dos seus argumentos, não resiste a entrar no domínio do utópico. De facto, ao defender que o homem “deve ser livre para tomar as decisões que considere as mais correctas”, está a referir-se ao que alguns consideram a sociedade perfeita, ou seja, ao Anarquismo
        ( que, ao contrário do mito urbano que se criou, não significa uma sociedade onde reine o caos e a desordem, mas a ausência de coerção). Isso só seria possível com uma Humanidade perfeita, sem egoísmos nem invejas, sem ambições de supremacia ou de exploração do próximo.
        Infelizmente o Homem, no sentido lato do termo, está muito longe da perfeição e, sem pretender fazer concorrência a Nostradamus ou, mais prosaicamente, à Maya, não me parece que alguma vez o venha a ser. Sinceramente, também não sei se gostaria de uma sociedade muito “normalizada” e padronizada. Possivelmente o encanto da Humanidade reside precisamente na diversidade de comportamentos e de concepções, embora me pareça que dispensaríamos bem alguns dos seus defeitos e exageros de comportamento. O que defende assemelha-se um pouco ao que actualmente estamos a viver: como o homem tem direito ao livre arbítrio, quando não tiver meios para sustentar a família, ou, pior, os vícios, tem toda a legitimidade para roubar o vizinho, que é precisamente o que fazem o Passos Coelho e o Vítor Gaspar. Por enquanto, e julgo que por longos anos, a sociedade não pode sobreviver sem regras nem sem uma hierarquia de competências. E esta última parte é onde reside o nosso drama.

  5. The ability to think like that shows you’re an exerpt

  6. O posicionamento ideológico em Portugal é marcado não pela diferença entre direita e esquerda, sociais-democratas ou socialistas ou democratas-cristãos, mas sim pelo atitude face à intervenção do estado, ou seja entre estatizantes e defensores de uma sociedade livre, liberal.

    E aqui 99% dos nossos políticos são defensores do estatismo, sejam eles de direita ou de esquerda. Basta recordar que o Paulo Portas é defensor da manutenção de uma televisão pública.

    Os defensores de uma sociedade livre, onde não tem lugar as empresas públicas, a ASAE, as TSU, os mil regulamentos que o estado inventa para nos controlar, esses são poucos e estão calados.

    Todo o mal é atribuído ao neo-liberalismo, mas estranho, foi o estado que faliu. Afinal foram as políticas estatizantes e não as politicas liberais que nos conduziram ao colapso.

    Mas claro, os estatizantes são muitos e os liberais poucos para se defenderem, portanto é fácil incriminá-los.

    PS: estranho, com o estado falido, a gastar mais todos meses do que cobra de impostos, as grandes medidas do PS e do António José Seguro para resolver os problemas do pais é aumentar as despesas públicas.

  7. Vasco says:

    Portugal é uma ditadura com o pior do fascismo e do comunismo.Diria que é um estado fasmunista.

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