O Eduquês não gosta de informatiquês

Nuno Crato diz que a informática no 9º ano é para acabar, já que, afirma, os alunos quando chegam a este nível de escolaridade já a dominam. Depois de me ter sobressaltado, reflecti e concluo que o autor do termo “eduquês” tem toda a razão. Como todos saberão, a informática corresponde, na sua essência a uns e zeros. Como 1 tende a ser uma nota frequente entre os alunos e 0 começa a ser o dinheiro disponível nas carteiras dos respectivos pais, que aluno não dominará ainda a informática aos 15 anos? Os ricos, claro, e esses que paguem as suas lições de Facebook.

Soube também, de fonte segura, que as software houses já aplaudiram a medida. Depois de terem começado a pagar 500 euros a recém licenciados, vêem nesta medida a oportunidade de finalmente serem competitivos com a China e com a Índia, indo buscar os seus IT expert saídinhos do 9º ano.

Finalmente, quanto aos que passaram anos a dizer que o programa e-escola, e-escolinha  em nada contribuiria para desenvolver competência tecnológicas nos alunos e que os Magalhães não passavam de brindes eleitorais, espero que mordam a língua e reconheçam o seu colossal erro. Que outro país consegue à saída do ensino básico fornadas de Steve Jobs, de Bill Gates e de Linus Torvalds? Aprendam, seus velho-restelianos.

Comments

  1. Tiago says:

    Neste caso o sarcasmo aterrou ao lado, caro Jorge. Em TIC do 9º ano aprende-se informática na óptica do utilizador, e não programação. Dificilmente se formariam Jobs, Gates ou Torvalds a esse nível, na disciplina de TIC. E até será aceitável pressupor que a larga maioria dos alunos tenha já competências avançadas das aplicações usuais, quando chega a esse nível. Na realidade, o programa de TIC no 9º ano contempla: utilização de sistema operativo em modo gráfico (ou seja, saber utilizar o Windows), processamento de texto (Word) e criação de apresentações (PowerPoint).

    • jorge fliscorno says:

      Não me leve muito a sério, que isto tem ali uma etiqueta de humor 🙂 Mas competências avançadas nas aplicações usuais? Se calhar, o Tiago também devia meter ali a mesma etiqueta que eu usei 🙂 Escrever uma carta no Word não é propriamente algo avançado, diria eu.

      • Tiago says:

        Não será avançado, Jorge, eu sei, mas aquilo que eles aprendem em TIC também não vai muito além disso, e certamente não merece que se gaste tanto dinheiro para tão pouco…

  2. Eu não iria tão longe afirmando “saber utilizar o Windows”, pois o que a maioria saberá é carregar com o indicador do rato nos símbolos que dão acesso a aplicações que lá vão estando no ambiente de trabalho.

    • jorge fliscorno says:

      Ouvi na rádio falar em uso avançado de Facebook. Se a isso se associar o uso de email, então aqui temos verdadeiras Janelas, ou em inglês, Windows, de oportunidades.

  3. Concordo com o comentário anterior. TIC, quando muito, deveria ser leccionado no 5º ano. No 9º ano acaba por ser um desperdício de tempo, porque os alunas já tiveram de ir aprendendo ao longo dos anos a matéria que supostamente irão aprender. Do 5º ano até ao 9º ano, quem teve de fazer os trabalhos que os alunos tiveram de apresentar em cada disciplina, sendo recusados se fossem escritos manualmente?
    Quanto ao programa e-escolas e e-escolinhas, foi das maiores propagandas politicas que vi. Também aderi ao projecto, sendo o Magalhães um brinquedo que os meus filhos tiveram. Utilização na escola…não tem. Ensinar os meninos a utilizá-lo? Não se ensinou…passando a ser um bom equipamento para se ter jogos e utilizá-los.
    Se isto é só na minha área de residência, na capital? Não. Achei até curioso, uma mãe lá mais para o Norte, estar muito preocupada com a demora do arranjo do Magalhães (paga por todos nós), porque estava privada de jogar os jogos que tanto gostava. Questionei-a se o filho utilizava o computador na escola, respondeu-me que nunca tinha acontecido…sendo utilizado só para jogar.
    Situações destas? Talvez mais, do que menos nos quatro algarismos…

    • jorge fliscorno says:

      Mas se os alunos já sabem tanto, se calhar é o programa de TIC no 9º ano que deveria ser mais exigente.

      • Concordo plenamente. O nosso problema é que fazemos das nossas crianças uma atrasadas, não explorando as capacidades que têm e que deveriam ser desenvolvidas.
        Começamos por olhar para os manuais do 1º ano, os quais ridicularizam as competências das crianças com essa idade…

      • Tiago says:

        Não creio que faça muito sentido ser mais exigente com TIC no 9º ano, Jorge. Eles aprendem informática na óptica do utilizador, e precisamente aquela de que qualquer pessoa normal necessita. Far-lhes-ia mais falta aprofundar a matemática, o português, a história ou as ciências, por exemplo.

  4. Tiro ao Alvo says:

    Também não concordo com a sua critica. O ensino de informática nas escolas está (estava) sobre-valorizado: começa antes do tempo (1ª ano do 1º ciclo) e acaba muito tarde (9º ano). Isto para os alunos apreenderem apenas o essencial, não se compreendendo tão grande investimento para resultados tão escassos.

  5. O problema primeiro não será diminuir ainda mais o número de professores? Não creio que isto tenha alguma coisa a ver com o que os alunos sabem de informática.

    • Por vezes penso que a Função Pública tem a obrigação suportar todos os seus funcionários…mesmo que, a função que desempenham seja desnecessária.
      Se TIC no 9º ano é uma disciplina desnecessária…porquê leccioná-la? Só para arranjar mais uns empregos, os quais somos todos nós que os suportamos?
      Por isso temos o País, como temos…

      • Tem toda a razão, como princípio geral – temos de ter serviços eficientes que gastem exactamente os recursos necessários (ou próximo disso).

        O problema é que, em nenhum lado, se demonstrou que a disciplina é desnecessária. Assim, se o governo sente tão pouca necessidade de justificar as suas acções (ou mesmo se não o consegue fazer) e tendo em conta a crise que vivemos, a minha interrogação é perfeitamente legítima.

        Eu lido com pessoas, todos os dias, que desempenhariam muito melhor as suas funções se compreendessem os sistemas que estão a utilizar. O uso da informática em Portugal é igual ao mito da utilização do cérebro, só usamos 10% das potencialidades e, a maior parte das pessoas, mal.

        Já agora, temos o país que temos por razões muito mais profundas e estruturais do que as que aponta (só o que se perde em corrupção, fuga aos impostos e manobras contabilísticas pouco éticas causa um efeito muito mais destruidor do que as ineficiências da máquina do estado).

        • Tiro ao Alvo says:

          Ó Helder, então vamos combater, ferozmente, a “corrupção, a fuga aos impostos e manobras contabilísticas pouco éticas”, e deixemos de lado a defesa corporativa dos professores e dos candidatos a professores, legítima, mas agora menos importante.

          • Não faço defesa de ninguém – não sou professor nem tenho pretensões em tornar-me um.

            Penso é que o governo, qualquer governo, se deve justificar a cada passo – mesmo na presente conjuntura. A chave para um país melhor passa pela transparência. Mas isso não acontece. Publiquem os estudos que justificam acabar com a disciplina, o custo é marginal (isto aplica-se em todas as áreas).

            Depois, vejo muito anúncios sobre cortes (com pouquíssima justificação), mas um combate feroz à “corrupção, à fuga aos impostos e às manobras contabilísticas pouco éticas”, não vejo em lado nenhum…

            Imaginem o PPC, numa qualquer cimeira europeia a fazer a apologia do fim dos paraísos fiscais! (Ao mesmo tempo que passam porcos a voar!) – Poderia não o conseguir agora, mas talvez daqui a dez anos isso fosse uma realidade.

  6. Marão says:

    EM CORO 1X1 É 1
    Seria fundamental que fossem proibidas máquinas de calcular nos 4 primeiros anos de escolaridades. Só até aprenderem a tabuada.

  7. Konigvs says:

    Esta entrevista do ministro ao Público pareceu-me extraordinariamente sensata. Isto dos computadores é como a educação sexual nas escolas que nunca foi – e ainda bem – para a frente. Para quê gastar dinheiro em professores a formar as crianças e adolescentes que podem praticar a matéria (sexo) uns com uns outros, e até ver na prática o resultado dos seus erros (gravidezes precoces) se depois apagamos facilmente os erros com a borracha do aborto?

    Desta entrevista acho que até se podem retirar boas ideias, para poupar imenso dinheiro… Ora bem no 9ºano os alunos já sabem tudo no que respeita à informática porque foram aprendendo com sua conta…. ora bem….. Então, por que é que não acabamos com o ensino a partir da 4a classe? Os putos já sabem ler, escrever e fazer contas que é o que interessa!! Passam a fazer a 4a classe e depois ficam à conta dos pais e depois quando fizeram 18 anos candidatam-se à universidade. Poupam-se aqui 8 anos de escola que não interessa para nada, conseguem imaginar os professores que se conseguem despedir com esta medida? É brutal. Sou um génio!!
    Aliás basta ver a outra jovem da casa dos degredos que tem o 12ºano que da 4a classe em diante não se aprende nada na escola!! Não sabe qual é a capital de Espanha e quando lhe perguntam um país da América do Sul responde um tom de pergunta – África?

    Crato. Não sei se chore ou se ria.

    • Ai ai tanta esperança no Crato – mas só se for no “Prior”
      pelos visto a educação não se educa e complica-se a coisa mais interesante do mundo – sair da ignorância (ministerial) e ir aprendendo que afinal até se ganham prémios europeus e mundiais se se conseguir ter o prazer de aprender – quem ensina a ter PRAZER ?? – creio que se ensina o ódio à matemática e ao português e como não se aprendeu português como se COMPREENDE o que quem quer que seja diz e propõe
      FECHAm as escolas e acabem com esta indecência – os miúdos aprendem melhor sozinhos

  8. FECHEM as ESCOLAS – TODAS
    por este andar os miúdos aprendem melhor sozinhos e quanto mais doutores bolonheses há por aí pior está quem ainda quer ir à escola e a deixa depressa
    até parece como na prisão onde se entra por uma porcaria de um delito e se sai profissional do crime e na escola entra-se com esperança de aprender a ser gente e sai-se com nada na cabeça e maior violência na acção – coitadinhos dos meninos em geral

  9. Carlos de Sá says:

    Compreendo o humor do cronista. Mas a coisa é bem séria; afinal, com o bem nota Manuel António Pina, trata-se de regressar aos padrões de Salazar: saber ler, escrever e contar é quanto basta para os menos afortunados de dinheiro. Porque aos outros, aos que podem pagar colégios particulares, o senhor Crato dá um “ajudinha” com grossa fatia do dinheiro dos contribuintes.
    O que é perfeitamente coerente com a praxis deste governo da Direita: roubar aos pobres para dar aos ricos.

  10. O Reciclador says:

    Professores?! Não, vale a pena.
    O melhor é dar um pc, telemóvel e afins a cada criança que nasce. Assim quando chegarem ao 9ºano já dominam a tecnologia e não precisam de professores de informática.
    Esperam lá não será melhor darem logo um pc com ligação à banda larga? Talvez assim nem sejam precisos professores de Português, Inglês, Matemática, Economia,.. afinal está tudo à distância de um clique. Porque não criar um Governo Digital, sempre se poupava uns trocadinhos.

    • jorge fliscorno says:

      Gosto dessa ideia do governo digital. Podíamos fazer-lhe um hosting nos states e depois bloqueá-lo na firewall.

Trackbacks

  1. […] da entrevista, leiam o que escrevem Paulo Guinote, Manuel António Pina e, evidentemente, o nosso Jorge Fliscorno. partilhar:Facebook Esta entrada foi publicada em educação, com as tags cortes da educação, […]

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