Coelho, o mobilizador de manif’s

Passos Coelho e Cristas na GolegãPedro Passos Coelho – com gravata e em desrespeito pelas instruções da ministra Cristas para dispensa do acessório – esteve na Golegã na Festa Nacional do Cavalo. Ignoro, e nem me interessa, se comeu castanhas e provou jeropiga ou água-pé. Sei sim, porque assisti nas TVS, aqui e aqui, que, com a hipocrisia em que o Primeiro-Ministro é hábil, afirmou:

Em democracia, faz parte da regra que as pessoas se possam manifestar. Era o que faltava que as pessoas não pudessem demonstrar o seu descontentamento e o facto de estarem algumas até indignadas com a situação a que chegaram, é perfeitamente normal.

Porém, antes de se calar, rematou em tom de ameaça velada:

O caminho que temos de seguir é de muito trabalho e afinco. Apelo a todos que se mobilizem para defender o país e menos para paralisar o país ou tornar ainda mais difícil a nossa missão.

“Não somos como os Gregos, somos, sim, um povo de brandos costumes”, falado ou escrito, argumentam à exaustão sábios comentadores e politólogos, com lugar cativo em jornais e, sobretudo, nas televisões.

Pese embora essa consideração sábia, a verdade é que hoje, em Lisboa, ocorreram duas manifestações separadas e ambas eloquentes quanto a participantes. Mais de uma centena de milhar de trabalhadores e reformados da função pública – cita a TVI – desfilou na Avenida da Liberdade. Na outra, entre o Rossio e o Terreiro do Paço (Ministério das Finanças), juntaram-se à volta de 10 mil militares, com aprovação de moção para vigília em 30 de Novembro, à porta de Cavaco – em Belém naturalmente, porque na Travessa do Possolo o espaço é reduzido.

Coelho tomou posse em 21 de Junho de 2011. Há, portanto, menos de 5 meses, o actual PM, que na mentira rivaliza com o  anterior, conseguiu, todavia, uma proeza de monta: com as medidas penalizadoras para a vida de milhões de portugueses, logrou mobilizar rapidamente milhares e milhares de portugueses contra o seu governo.

De um homem, que durante 23 anos (1978/2001) percorreu deliciosos e compensadores caminhos da política, conseguindo finalmente licenciar-se com 37 anos em 2001, pode dizer-se que temos à frente deste nosso jardim um talentoso estadista ou artista ou ambas as coisas (estou na dúvida); e porque de jardim (a sério, não é do Alberto João) falamos, as relvas, bem como outros ornamentos e artefactos não foram votados ao esquecimento.

Como na história do desporto, em particular do Atletismo, ficamos a aguardar o próximo recorde.

Comments

  1. José Galhoz says:

    Espero que a maioria das pessoas já se tenha apercebido que, sob a capa de uma polidez untuosa (até um pouco salazarenta), este jovem governante não hesita em mostrar os dentes de lobo. Às vezes, quando vejo ainda tantas reacções de resignação, penso que o discurso da inevitabilidade do “castigo” por “termos sido gastadores” estará ainda a passar.

    • Carlos Fonseca says:

      Ele e o seu amigo Relvas, a quem agora se juntou em negócios segundo o ‘Expresso’, são uma dupla sinistra. O povo que desperte a sério!

  2. Jorge Anyous says:

    Quando por tudo e por nada se insinua que os ministros do anterior governo devem ir a tribunal os actuais devem já começar a pensar em arranjarem bons advogados pois o mesmo pode lhes acontecer e com acusação bem mais grave do que gestão danosa.
    Poderão e deverão ser acusados por homicídio involuntário visto que a taxa de mortalidade em fins de 2011, 2012 e 2013 irá certamente aumentar de uma forma gritante por falta de dinheiro para medicamentos, pessoal e até de transportes para doentes oncológicos (as famosa gorduras do estado).Quem não se lembra da infeliz tirada do ministro da falta de vergonha a que chamamos saúde dizer com o maior despudor que se teriam de fazer menos transplantes.
    Quanto há famosa questão de um povo de brandos costumes, ideia metida na cabeça das pessoas pelo estado novo durante quarenta anos,é tudo menos verdade. Um povo que sobrevive oito séculos,com as mais velhas fronteiras na Europa e faz um império com a espada é tudo menos brando.As gerações actuais podem é ter uma paciência próxima de chineses.
    Para não ir mais longe da revolução liberal ao fim da primeira república tivemos de tudo em matéria de violência .Insistir na tecla de povo pacífico não revela mais nada a não ser ignorância de quem advoga tal pensamento.

  3. Jorge Anyous says:

    A questão académica do PM é outro mistério em Portugal.
    Acabar o curso aos 37 anos fazer um percurso profissional em empresas de um amigo e passados dez anos chegar a primeiro ministro.Notável.Melhor só um alpinista.Já agora qual será a faculdade?
    Na RTP já não haverá jornalistas interessados em perceber tão notável percurso,pois o ministro Relvas apontaria o caminho da rua,mas e nas televisões privadas não há interessados,ou os patrões não deixam?E depois dizem que a informação é livre.Se não fosse triste dava vontade de rir.

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