Feriados: o 5 de Outubro e o tratado em Zamora que não é nenhum tratado

A importância de ter um feriado na data em que Portugal se refundou, deixando o medieval tempo dos soberanos por direito hereditário derivado da imprevidência divina, nem precisa de mais explicações. A I República teve os seus defeitos mas temos com ela a virtude de bem ou mal eleger quem nos governa, após 48 anos de interregno.

Há contudo outro 5 de Outubro, para quem tem da História a visão do Estado Novo: revisionismo, mentira e efabulação. É o caso dos que julgam comemorar nessa data o aforismo fascista do “quem não sabe a data de 1143 não é bom português” e dizem comemorar o “Tratado de Zamora“. Ora vamos lá ver, o Tratado de Zamora muito simplesmente não existe e nem é provável que tenha existido.

A 4 e 5 de Outubro de 1143 teve lugar em Zamora um encontro entre Afonso Henriques, Afonso VII e o Cardeal Guido de Vico, legado do papa Inocêncio II. Após o episódio de Arcos de Valdevez (1140) e mediado por João Peculiar “os dois primos assentaram na cessação das hostilidades“.

É este um episódio determinante na fundação de Portugal? nem por isso.

Se Alexandre Herculano afirma que “o imperador reconheceu o título de rei que seu primo tomara, e que este recebeu dele o senhoria de Astorga, considerando-se por essa tenência seu vassalo. Não é menos provável que, ainda como rei de Portugal ficasse numa espécie de dependência política de Afonso VII, o imperador das Espanhas ou de toda a Espanha, como ele se intitulava nos seus diplomas” já Damião Peres entende que “não constitui,(…) matéria litigiosa a tratar na reunião o título de rei dos portugueses. Havia três anos Afonso Henriques assim se proclamava, e os textos oficiais leoneses lavrados enquanto decorria a conferência já assim lhe chamam também.”

José Mattoso sobre isto escreve: “temos de considerar a reunião de Zamora como um encontro promovido pelo legado para apaziguar eventuais tensões entre os dois soberanos, uma vez que o acordo de Valdevez fora provisório, e para os exortar a conjugarem esforços na luta contra os almorávidas, que, nessa altura, davam provas de enfraquecimento político e militar.”

Isto é importante na História da fundação? é mas muito mais episódios o foram. Se quisermos encontrar uma data para comemorar a fundação de Portugal temos a de 23 de Maio de 1179, data da Bula Manifestis Probatum, mas penso ser preferível, porque assinala o início de todo o processo (e para todos os efeitos na leitura de José Mattoso, que subscrevo, Portugal só conclui a sua  formação em 1385) escolher o dia 24 de Junho de 1128, a primeira tarde portuguesa como lhe chamou Herculano, travada na Batalha de S. Mamede. Fica Guimarães com a única contribuiçãozinha territorial de relevo que deu em todo este processo (não perceber que Portugal se fundou basicamente em Coimbra e também em Braga é acto de bairrismo, ignorância e má-fé), perdem os municípios  apadrinhados por S. João Baptista um feriado, mas é a vida, e troco este de bom grado pelo 1º de Dezembro, data cuja irrelevância já afirmei como dia nacional da aldrabice historiográfica, explicando quase tudo em seis questões e suas respostas.

Devo acrescentar que normalmente não tenho de comparecer no meu local de trabalho no dia de S. João, nem eu nem muitos professores portugueses, uma vez que corresponde a uma pausa nos exames nacionais. E já agora queria ver um governo com coragem para acabar com o feriado municipal de S. João, embora ainda agora tenha visto um a demitir-se com desculpas mais esfarrapadas.

Bibliografia:

  • DHP: Dicionário de História de Portugal, entrada Zamora, Conferência de
  • José Mattoso, D. Afonso Henriques
  • José Mattoso, O essencial sobre a Formação da Nacionalidade, livrinhoINCM cuja leitura muito se recomenda

Comments

  1. Faltou ler o que diz A. de Almeida de Fernandes. Provavelmente o melhor medievalista português. É melhor ir ler. Mas para mim nenhum dos “cincos” de Outubro faz sentido. De resto, isto dos feriados é areia para os olhos.

    • Não fui ler, chega-me a que o maior historiador português do séc. XX o tenha lido e publicado recentemente uma síntese sobre o primeiro reinado. Mas porquê? encontrou o tratado?

  2. xico says:

    A conversa está muito interessante mas só não entendo duas coisas. 1º Em que é que a questão dos feriados irá melhorar a produtividade dos portugueses, já que a conversa das “pontes” é ela mesma um mito. As repartições pública há muitos anos que não fecham nos dias intercalados entre feriados e fins-de-semana (com excepção para o Natal). 2º Porque raio quer que o governo acabe com o feriado municipal de S. João? E então os outros feriados municipais? Será porque os feriados ditos religiosos têm muito mais implantação no imaginário popular do que os feriados civis, por força da sua ligação aos ritos agrícolas e cósmicos (S. João/ solstício)

  3. Visão do Estado Novo?! o meu país, Portugal, e não a República Portuguesa, que só mal lhe tem feito, como diz até uma Ditadura de 48 anos, a chamada II República, lhe impôs.
    O meu país, que é Portugal, tem quase 900 anos de História, foi fundado em 5 de Outubro 1143, não tem só esses miseráveis 48 anos de ditadura nem 101 anos de ujma República, caduca, corrupta, que tem um presidente, neste momento, que está nos governo há mais de 30 anos.

  4. “A I República teve os seus defeitos mas temos com ela a virtude de bem ou mal eleger quem nos governa”

    Ai sim? Entao os Portugueses nao elegiam os seus governantes antes de 1910? Se o Rei nao era eleito, era o Governo, antes e depois do 5 de Outubro. Aliás, para quem está tao preocupado com a “verdade histórica”, essa sua fantasia republicanóide só dá para rir: por mais propaganda que vomite, era bom lembrar-se que o seu sagrado regime de 1910 diminuiu de facto o universo de eleitores. E que a II republica mandou o que dele restava para um qualquer buraco negro.

    A importância de ter um feriado a comemorar a implantaçao da dita cuja “nem precisa de mais explicações”… Precisa pois. É necessário explicar que a única razao da existência desse feriado é para dividir os Portugueses. Importantíssimo, de facto, mas para os interesses de alguns, perante a cegueira dos demais.

    • A República não é sagrada, acabou foi com um estado confessional. Eu sei que o universo de eleitores diminuiu mas também sei que as chapeladas “liberais” acabaram, ou pelo menos se reduziram.
      Mas o essencial é isto: os reis não são eleitos, não têm qualquer espécie de legitimidade (então os da 4ª dinastia, herdeiros de 2 golpes de estado seiscentistas, deixem-me rir). Os presidentes da Repúblicas, se eleitos directa ou indirectamente, têm. É tão simples como isto.

      • Os reis nao têm qualquer espécie de legitimidade?

        Entao o nosso presidente tem mais legitimidade em Portugal do que, por exemplo, a Rainha Isabel II na Austrália?

        Considerando que a manutençao da forma monarquica de regime foi submetida a referendo recentemente, tendo ganho por decisao da maioria da populaçao australiana?

        E considerando, por outro lado, que o regime republicano nunca foi referendado em Portugal, antes imposto pela força das armas e coeçao? Que o nosso presidente da republica foi eleito com uma minoria ínfima dos Portugueses, tendo em consideracao a margem para os restantes candidatos e a taxa de abstençao acima dos 50%?

        Divergimos, é certo, na nossa visao em relaçao à maior ou menor legitimidade de um presidente/monarca, mas daí a afirmar que “os reis não são eleitos, não têm qualquer espécie de legitimidade”, nao é mais do que a evidência da falta de tolerancia e de respeito pela democracia de quem defende cegamente a republica. Especialmente se tiver em conta a verdadeira “verdade histórica”.

        • A monarquia também nunca foi referendada em Portugal, e foi imposta pela força das armas (várias vezes, por sinal).
          A legitimidade em democracia só existe através do voto. No caso da Austrália naturalmente respeito a decisão dos australianos (de resto a imperatriz na prática não tem ali qualquer poder).
          Quanto à participação em eleições, até podia concordar, o problema é que se vamos por aí chegamos à lógica da ditadura. Se os meus concidadãos prescindem do seu direito de voto o problema é deles (e meu, é verdade, que tenho de aturar o actual presidente). Como de costume: ainda não se inventou melhor do que esta democracia. Mas aguardo que se invente.

          • “No caso da Austrália naturalmente respeito a decisão dos australianos”

            Respeita e é legítima? Ou respeita mas considera os australiianos seres medievais, perdidos no “tempo dos soberanos por direito hereditário”?

            É que no caso da segunda hipótese, tenderá também a aceitar o facto da nossa constituiçao bloquear a mera possibilidade de um referendo ao regime, através do artigo 288 b). Algo que, convenhamos, nao parece muito democrático.

            Se “a legitimidade em democracia só existe através do voto”, porquê entao blindar constitucionalmente o regime? Medo? Se os Portugueses entenderem, através do voto, recuperar a monarquia, será o monarca um chefe de estado ilegítimo?

            Para mim, e respeito a sua eventual discordância, democracia nao é sinónimo de republica. Pelo contrário, considero que um rei tem uma posiçao por demais privilegiada para defender a democracia, ao contrário de um presidente e, certamente, ao contrário do(s) nosso(s) presidente(s), amarrado(s) que está(o) ao(s) partido(s) que o(s) elegeu(ram).

            É por aqui que se deveria centralizar, se houver coerência, a discussao republica/monarquia. Infelizmente, a propaganda republicana aposta quase exclusivamente em estabelecer paralelismos entre a monarquia e idade média, ou ditaduras, ou absolutismos, etc. e comparar sempre a republica à democracia – como se fossem sinónimos. Isto é muito eficaz, admito, mas é de uma tremenda desonestidade intelectual- ou entao mera ignorância.

          • A constituição blinda e muito bem. Querem um regresso à monarquia? concorram à AR, e mudem a constituição.
            E repito, que para o peditório do referendo já demos: a monarquia em Portugal foi referendada quando? e por quem? pela jurisprudência divina?

          • “A legitimidade em democracia só existe através do voto” Em que planeta?

      • Acabou , ainda hoje o quê?! Acabou foi por só ser um Estado confessional. E deixe-me dizer-lhe que que quem assim interpreta a história, não a sabe ler.

  5. “dia 24 de Junho de 1128, a primeira tarde portuguesa como lhe chamou Herculano,”
    Onde? No titulo de um quadro?

  6. O meu nome é Helena Maria

    Qual História é que é inventada? A da república, principalmente a da II República, tão deturpada pelo senhor de Comba Dão?

    • A data da fundação de Portugal. Quanto à II república, não reconheço às ditaduras tal estatuto, até por uma questão etimológica.

      • Pedro Leite Ribeiro says:

        Nossa Senhora! Não me diga que era uma monarquia ou que os monárquicos liberais podem dizer o mesmo da monarquia absoluta! Ah, é verdade, já me lembro d’El-Rei D. Américo Tomás, o Corta-Fitas!

        • O mundo não se divide entre monarquia e república. A História pode é dividir-se entre feudalismo e capitalismo, a que correspondem monarquia e república como habituais regimes políticos. É maior a diacronia no tempo que a sua fugaz sincronia.

      • A luta entre D. Afonso Henriques e sua mãe desenrola-se, até que a 24 de Junho de 1128 se trava a batalha de São Mamede (em Guimarães) e D. Teresa é expulsa da terra que dirigira durante 15 anos. Uma vez vencida, D. Afonso Henriques toma conta do condado, declarando-o reino independente, dado que ele era neto de Afonso VI, Imperador de toda a Hispânia, passando a assinar todos os documentos oficiais não como conde, mas sim como rei.

        Primeira bandeira de Portugal, a de D. Afonso Henriques.
        Continuou, no entanto, a lutar contra as forças do seu primo, o rei Afonso VII de Leão e Castela (inconformado com a perda das terras portuguesas, pois à semelhança de seu pai, Afonso VI, ele também se intitulava como Imperador), enquanto paralelamente travava lutas contra os muçulmanos. Em 1139, depois de uma estrondosa vitória na batalha de Ourique contra um forte contingente mouro, D. Afonso Henriques afirma-se como rei de Portugal, e com o apoio dos nobres portugueses, é aclamado como rei soberano.

        Nascia, pois, em 1139, o Reino de Portugal e a sua primeira dinastia e Casa Real: os Borgonha. D. Afonso Henriques, torna-se rei, o rei Afonso I de Portugal. Contudo, o estatuto de independência carecia de reconhecimento, o qual só foi feito por parte do Reino de Leão e Castela a 5 de Outubro de 1143, data em que o rei Afonso VII assinou o Tratado de Zamora, que assinalaria a separação entre os reinos. Desde então, D. Afonso Henriques (Afonso I) procurou consolidar a independência por si declarada. Fez importantes doações à Igreja e fundou diversos conventos. Dirigiu-se ao papa Inocêncio II e declarou Portugal tributário da Santa Sé, tendo reclamado para a nova monarquia a protecção pontifícia. Em 1179 o papa Alexandre III, através da Bula Manifestis Probatum, confirma e reconhece a Portugal como país independente e soberano protegido pela Igreja Católica.

        Na continuação das conquistas procurou também terreno ao sul, povoado, até então, por Mouros e, após ver malograda a primeira tentativa de conquistar Lisboa em 1142, feito que só conseguiu realizar em 24 de Outubro do mesmo ano, após conquistar Santarém no dia 15 de março com o auxílio de uma poderosa esquadra com 160 navios, e um contingente de 12 a 13 mil cruzados que se dirigiam para a Terra Santa. Em 1139 portugal fica independente e com o primeiro rei: D.Afonso Henriques
        wikipédia, que serve perfeitamente. Referências

        ↑ a b c d D. Afonso Henriques (em português). Porto Editora. Infopédia. Página visitada em 24 de outubro de 2012.
        ↑ Miguel Sanches de Baena, Paulo Alexandre Loução. Grandes Enigmas da História de Portugal (em Português). [S.l.]: Ésquilo, Ano. ISBN 9729898092380
        ↑ “D. Afonso Henriques: 900 anos de mitos”, Visão, 13 de agosto de 2009, p. 71.
        ↑ Viseu, Agosto de 1109 – Nasce D. Afonso Henriques, Almeida Fernandes, o primeiro estudo sobre o nascimento do primeiro rei de Portugal, apoiado por historiadores tais como Maria Alegria Fernandes Marques, António Matos Reis, João Silva de Sousa, Bernardo Vasconcellos e Sousa, Avelino de Jesus Costa, entre outros
        ↑ Obra que defende que D. Afonso Henriques nasceu em Viseu reeditada hoje, Mariana Oliveira, Público, acedido em 30 de Abril de 2007
        ↑ António Amares das Neves (Junho 2009). Afonso Henriques – 1109?. Página visitada em 10 de junho de 2009.
        ↑ “D. Afonso Henriques: 900 anos de mitos”, Visão, 13 de agosto de 2009, p. 70.
        ↑ Sousa, Manuel, Reis e Rainhas de Portugal, Mem Martins, 2000. ISBN 972-97256-9-1
        ↑ Las lenguas románicas estándar: (historia de su formación y de su uso) p.138
        ↑ D. António Caetano de Sousa, História Genealógica da Casa Real Portuguesa, Atlântida-Livraria Editora, Lda, 2ª Edição, Coimbra, 1946, Tomo I-pg. 36.
        ↑ Nobreza de Portugal e Brasil – 3 vols, Direcção de Afonso Eduardo Martins Zuquete, Editorial Enciclopédia, 2ª Edição, Lisboa, 1989, vol. I-pg. 85
        ↑ Memórias Histórico-Genealógicas dos Duques Portugueses do século XIX, João C.F.C.Castello Branco e Torres e Visc. Sanches de Baena, Academia Real das Sciencias, 1ª Edição Lisboa, 1883, pg. 130
        ↑ Gaio, Manuel José da Costa Felgueiras, Nobiliário das Famílias de Portugal, Carvalhos de Basto, 2ª Edição, Braga, 1989, vol. II pg. 236 (Barbosas) e vol. X pg. 315
        ↑ Cristovão Alão de Morais, Pedatura Lusitana – 6 vols., Carvalhos de Basto, 2ª Edição, Braga, 1997, vol. I-pg. 82
        ↑ D. António Caetano de Sousa, História Genealógica da Casa Real Portuguesa, Atlântida-Livraria Editora, Lda, 2ª Edição, Coimbra, 1946, Tomo I-pg. 38
        ↑ D. António Caetano de Sousa, História Genealógica da Casa Real Portuguesa, Atlântida-Livraria Editora, Lda, 2ª Edição, Coimbra, 1946, Tomo I-pg. 36.
        ↑ Nobreza de Portugal e Brasil – 3 vols, Direcção de Afonso Eduardo Martins Zuquete, Editorial Enciclopédia, 2ª Edição, Lisboa, 1989, vol. I-pg. 85
        ↑ Revista Municipal – O Feito de Martim Moniz

  7. Pedro Leite Ribeiro says:

    “A I República teve os seus defeitos mas temos com ela a virtude de bem ou mal eleger quem nos governa, após 48 anos de interregno”. Meu Deus! Que aldrabice! Como se o presidente da república, o usurpador, governasse alguma coisa a não ser a sua conta bancária e como se, desde o liberalismo não houvesse cortes eleitas! E continua… e continua… catedraticamente persistindo na ignorância! Depois, os revisionistas são os outros.

    • Usurpador? isso é conversa de reis, essa praga funesta de inúteis que nunca foi referendada. Deixe-se disso homem, parasitas como o Carlos de Bragança acabaram.

  8. Os especialistas confirmam que as Monarquias são mais livres e menos corruptas(http://arvoresdespidas.blogspot.com/2012/07/os-especialistas-confirmam-monarquias.html).

    No entanto, os especialistas omitem que as Monarquias “não têm qualquer espécie de legitimidade”. Quer dizer, todos os especialistas excepto o João José Cardoso, claro.

  9. Pedro L says:

    Mais que o papel ou melhor o pergaminho importa o verbo se a palavra sempre se qebrou nem por isso se deixou de quebrar por ser lavrada a escrito. Pouco importa o objecto suporte do tratado mas sim o evento q se assinala. Até porque mais que a data vale o simbolo, inusitado é um país não celebrar a sua fundação seja em que data for. 5 de Outubro pela República em 1910 e pela fundação, por 1143 porque não? talvez até que a república se tenha fundado nessa data não por acaso afinal tambem o Natal não se firmou sobre festas pagâs anteriores. Deixai lá os simbolos somos todos “filhos do que fomos” melhor querer aprender com os erros e deixar os simbolos que nos podem unir que qerer agora fazer pleja ou tábua raza da tradição. Que se ilucide a verdade da história muito bem mas para quê dirimir datas? Tudo nunca é só num dia ou num instante, mas celebram-se as coisas num dia, por algo por uma asinatura, um pacto uma guerra ou o fim dela, porque não o encontro de Zamora sempre fica um dia só para a fundação e do País e da República. Sou democrata e não tenho vontade que Portugal entre em guerra com Inglaterra e nem por isso rejeito o Hino os simbolos valem pelo significado que lhe atribuimos em cada instante; melhor aprender com o bom e mau do passado que esquecer ou refregar plejas por ele.
    Pedro L

  10. Mas que rico diálogo de bandeira às avessas – Quanto ao Tratado de Tordesilhas vi há uma semana reportagem sobre a Bblioteca do Vaticano que começa a ser aberta ao público ??? mostraram sim, era menina portuguesa ue a visitou e foimostrado o velho papiro do tratado que de tão velho e roído está a ser restaurado – foi reportagem muito interessante e relatada por padre português residente no Vaticano – creio ter dado essa notícia ao aventar – muito interessante as imagens dos mlhares de km de prateleiras do Arquivo Papal

  11. MAGRIÇO says:

    É um regalo ver aqui tanta gente fina a defender a monarquia, esquecendo que foi a sua própria prática iníqua, elitista e imoral que esteve na génese do seu próprio colapso. Mas os saudosistas dos escândalos e das orgias palacianas que continuam teimosa e obstinadamente a referirem-se a outras monarquias, que ainda sobrevivem, como um sistema melhor que a República, ainda não perceberam que elas sobreviveram precisamente porque não enfermavam da mesma perversidade moral e social. É certo que essa perversidade continua a existir – o que prova que o defeito não estará no modo mas no conteúdo – mas temos a possibilidade de o corrigir quando aprendermos a emendar os próprios erros. Na monarquia, o pacóvio e ridículo conceito de “direito divino” nega-nos essa possibilidade, obrigando a sociedade civil a uma fidelidade anti-natura, que pode até incidir sobre alguém com graves problemas emocionais e de carácter. Não posso deixar de comparar alguns monárquicos de ocasião com as moscas varejeiras: ninguém os vê, mas quando algo cheira mal aparecem logo a exigirem o seu quinhão.

  12. Ora vamos ver, caro João José (e para estas afirmações baseio-me unicamente em José Mattoso):

    Não será errado considerar Portugal um reino independente desde 1143, já que, por alturas do Tratado de Zamora (ou da Conferência de Zamora, para o caso de não ter existido o tratado), Afonso Henriques terá prestado homenagem ao cardeal Guido de Vico, legado papal, que lhe prometeu a proteção da Santa Sé, ou seja, a independência em relação a qualquer poder temporal, o que incluía o do imperador da Hispânia (eu gosto de dizer assim e, não, Espanha, para não se confundir com o país atual).

    Este ato, no entanto, não ficou registado por escrito. Seguindo as instruções do cardeal Guido de Vico, Afonso Henriques enviou a Roma a carta “claves regni”, mas, na sua resposta, em 1144, o papa Lúcio II não foi conclusivo, intitulando o nosso primeiro rei de “dux” (duque) em vez de “rex” (rei).

    Mas, enfim: Portugal pode ser considerado um reino independente desde 1143, já que o cardeal Guido de Vico aceitou a homenagem de Afonso Henriques, libertando-o do jugo de Afonso VII. Não será é muito correto apontar o Tratado de Zamora como prova documental deste facto (até porque pode não ter existido). Mas considerando que se assinou algum documento nessa conferência, tanto Afonso Henriques, como o cardeal deram o dito por não dito, ou seja, acordaram com a vassalagem ao imperador e este reconheceu o título real ao primo. Apesar de Afonso Henriques já se intitular “rei” desde Ourique (1139) e aparecer como tal em muitos documentos, parece ter sido esta a primeira vez que o primo o reconheceu oficialmente como tal.

    Se quiser ler tudo o que escrevi sobre este tema:

    http://andancasmedievais.blogspot.de/2012/10/869-aniversario-do-tratado-de-zamora.html

    Lá encontrará links para outros textos relacionados.

    • Formalmente a independência só existe a partir de 1189 (já que em 1134 o Papa o trata por dux portucalensis). A independência efectiva até acho que vai esperar por 1385, que acima das formalidades está o ter territórios, estado e sobretudo povo (ou consciência nacional como lhe chamou Mattoso).
      Se queremos escolher uma data simbólica, ou a Bula ou a Batalha fundadora.
      Sinceramente, 1143 é um episódio como tantos outros de um processo complexo e demorado. Caiu-lhe rimar o três com português, mas não me parece que tenha muito mais valor do que isso.

      • Processo complexo e demorado, com muitas ambiguidades, sem dúvida, o que para muito contribuiu também a atitude do próprio Afonso VII, que não é muito bem visto na História de Espanha, precisamente por causa disto, apesar de ter sido imperador como o avô.

  13. Gosto disso

  14. A frase de JMattoso “tensões entre os dois soberanos” diz mais do que o autor pretende que diga…mas penso que o autor desta mensagem está mais preocupado em apontar a propaganda de outros do que revelar a sua.

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