Mudar de vida

Não sei se vivemos acima das nossas possibilidades; não sei se, depois do que foi feito nas últimas décadas, era possível estarmos numa situação menos aflitiva; não sei se os políticos atuais têm feito tudo o que está ao seu alcance para defenderem os interesses dos portugueses…

Por muito que os números sejam dramáticos, por muito que os números sejam escondidos, por muito que nos custe, temos a maior dívida pública de que há memória; vivemos num país que há 37 anos que não consegue ter contas equilibradas; produzimos pouco nos últimos anos. Chegamos a um ponto em que ninguém nos empresta dinheiro. Aqueles que se disponibilizaram a emprestar, mesmo que estejam a defender os seus interesses, conseguiram impor as suas condições. Portugal, depois de ter chegado à situação atual, não tinha muita margem para negociação, precisava do dinheiro para pagar salários, pensões e demais despesas correntes. Podíamos ter optado por outro caminho? Podíamos, mas não sei quais seriam as consequências.

Há quem se indigne contra as exigências dos credores, há quem diga que a nossa situação não é tão má como dizem, e que tudo isto é pura especulação; há quem não aceite perder a soberania. O que está a ser feito a Portugal como país tem sido feito aos portugueses como cidadãos.  O que acontece a uma família que se endivida para comprar uma casa e depois não consegue pagar a casa ao banco? Suponho que seja algo semelhante.

A minha intenção não é fazer qualquer juízo político, mas apenas alertar para os factos, os que não mentem. Há quem ainda pense que é possível continuar a viver da mesma forma. Há quem ainda se iluda com os caminhos de facilidade que todos os dias são apontados. Infelizmente, nunca foi isto que desejei para o meu Portugal. Não sei qual é o nosso futuro, mas sei que teremos um futuro risonho se decidirmos mudar de vida.

Texto de João Pinto / Cortesia de Criticamente Falando

Comments

  1. Nightwish says:

    Eu gostava de saber que futuro risonho é esse onde vive. Não será, certamente, em Portugal, em que a repetir-se tudo para 2013 teremos 45h de trabalho, nenhum feriado, ordenado médio a chegar aos 600€, desemprego nos 20%, pessoas a só ir ao médico quando já não podem trabalhar, uma televisão que só serve para propaganda, transportes públicos só em metade das áreas metropolitanas, uma educação cada vez mais inútil e os Amorins a descontarem pensos no IRS.
    É isto que o Português médio almeja para 2013 e que acha invevitável. Pois assim, vai ter o que merece e deseja.

    • Tiro ao Alvo says:

      Foi tiro e queda. Ainda eu não tinha acabado o meu comentário, e já estava aqui o amigo a defender não sei o quê, exagerando no seu pessimismo, que não leva a lado nenhum, julgando-se cheio de razão. Estamos lixados.

  2. Tiro ao Alvo says:

    Eu também penso mais ou menos assim, como o meu amigo. Mas a malta não quer ouvir falar dessa maneira. Essa postura não agrada muito ao nosso povo. A maioria das pessoas o que gosta é de ouvir falar na defesa dos direitos adquiridos, não se importando se esses direitos foram ou não roubados às gerações vindouras.
    Em conclusão, pensando como pensa, o amigo corre o risco de ficar aqui a falar sozinho. Lamentavelmente, penso eu.

  3. Diagnósticos e estudos é algo que não falta a Portugal.
    Agradeciam-se soluções, no plural.

    Escreve “Podíamos ter optado por outro caminho? Podíamos, mas não sei quais seriam as consequências.” e tem razão.
    Mas esquece-se, tal como a maioria das pessoas que pensa como você, que também não sabe quais serão as consequências do actual caminho, apesar de muitos se convencerem que sabem.

    E observando as muitas experiências anteriores daqueles que trilharam este caminho as expectativas dificilmente serão positivas.

    Mas suponho que é típico do povo português, preferem continuar mal do que arriscar o desconhecido, com medo de ficar pior…

  4. Por este caminho nao vamos lá se a gora vamos pagar 34 mil milhoes de juros certamente daqui a 4 ou 5 anos estamos apagar 60 ou 70 mil milhoes em juros . ha outras solucoes e nao passa por pedir mais dinheiro.

    • J.Pinto says:

      Desde já agradeço a todos a intervenção.

      Caro Nightwish,
      A solução, penso eu, não deverá passar pelo que nos trouxe até aqui: a situação da dívida é calamitosa. Temos de diminuir a dívida no curto prazo. Só se resolve o problema da dívida se houver superávite orçamental – Portugal, desde o 25 de abril nunca o conseguiu.
      Há, no entanto, um problema mais grave, o problema económico. O problema económico só pode ser resolvido pelas empresas. São elas que vão resolver o problema económico. Há que facilitar a vida às empresas e aos investidores. Não é isso que tem sido feito em Portugal.

      Caro Tiro ao alvo,
      Concordo consigo. Há pessoas que ainda não perceberam que a história dos direitos adquiridos não passa… de uma história. Quem defende os direitos adquiridos é a economia. Não havendo economia, lá se vão os direitos adquiridos.

      Caro Martunis,
      Consigo projetar o outro caminho. Paradoxalmente, as pessoas que defendem ganhos no poder de compra e aumentos de salários são os mesmos que admitem como hipótese a saída do euro (até pode ser isso que nos vá acontecer, mas devemos evitar, se possível), com desvalorizações (perda de salários) na ordem dos 30 ou 40%. Os que trilharam o outro caminho também tiveram anos de sofrimento (por exemplo, a Argentina). Imagine que, de um momento para o outro, Portugal deixava de ter dinheiro emprestado. O que é que diz à possibilidade de, rapidamente e radicalmente, passarmos a ter a necessidade de défice 0 (já que ninguém nos emprestaria)?

      Caro JR,
      Relativamente aos juros que vamos ter de pagar, concordo consigo, é um absurdo. Mas foi a dívida avultada de nos trouxe aqui. No entanto, nada como tentar negociar com os credores. Veja esta posição da Irlanda (http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=524099). Temos de negociar taxas de juro mais baixas.

      • Só la vai com medidas radicais , a islandia negociou a divida e conseguio um juro baixo e prazo alargado ameaçando que nao pagava. depois só temos de investir na producao nacional , se não houver privados que avance o estado mas temos de produzir tudo o que podermos.

  5. MAGRIÇO says:

    Caro João Pinto, sem pretender fazer qualquer juízo de valores, o seu texto aproxima-se perigosamente da posição “oficial do regime”. Está no seu direito, o que não significa ter razão. Deixo-lhe aqui um extracto de um estudo de alguém fora das nossas paixões caseiras.

    .UM OLHAR SOBRE PORTUGAL, VINDO DE FORA DO PAÍS.
    A crise portuguesa segundo o sociólogo e filosofo francês, Jaques Amaury

    “Portugal atravessa um dos momentos mais difíceis da sua história que terá que resolver com urgência, sob o perigo de deflagrar crescentes tensões e consequentes convulsões sociais.
    Foi o país onde mais a CE investiu “per capita” e o que menos proveito retirou. Não se actualizou, não melhorou as classes laborais, regrediu na qualidade da educação, vendeu ou privatizou a esmo actividades primordiais e património que poderiam hoje ser um sustentáculo.
    Os dinheiros foram encaminhados para auto estradas, estádios de futebol, constituição de centenas de instituições público-privadas, fundações e institutos, de duvidosa utilidade, auxílios financeiros a empresas que os reverteram em seu exclusivo benefício, pagamento a agricultores para deixarem os campos e aos pescadores para venderem as embarcações, apoios estrategicamente endereçados a elementos ou a próximos deles, nos principais partidos, elevados vencimentos nas classes superiores da administração pública, o tácito desinteresse da Justiça, frente à corrupção galopante e um desinteresse quase total das Finanças no que respeita à cobrança na riqueza, na Banca, na especulação, nos grandes negócios, desenvolvendo, em contrário, uma atenção especialmente persecutória junto dos pequenos comerciantes e população mais pobre.”

    Se se lembrar de quem governava no tempo dos dinheiros vindos da então CEE, não me parece que lhe reste grande margem para tecer loas a um partido que é o principal responsável pelo atraso estrutural do país. E é disso que se trata: Portugal nunca foi capaz de acompanhar o crescimento médio dos parceiros europeus devido à falta de visão política e esbanjamento de dinheiros encaminhados para outros fins que não aqueles para que se destinavam. É bom tomarmos partido, mas só quando sabemos do que falamos.

    • Tiro ao Alvo says:

      Magriço, esse é um sociólogo estrangeiro bem informado, com o qual temos, infelizmente, de concordar.
      Só não me parece bem, é quando o amigo insinua que foi nos anos dos governos do Cavaco que mais dinheiro da CCE veio para Portugal, Se era isso que queria dizer, está enganado. Até no governo do Santana Lopes veio mais dinheiro, por ano, do que nos governos do Cavaco. Esses dados são públicos e há quem conheça fontes idóneas.

      • MAGRIÇO says:

        Meu caro, decida-se: começa por dizer que concorda com uma fonte bem informada para depois defender o que é indefensável. Tem todo o direito de ter as suas simpatias políticas, mas tentar manipular a verdade é falta de honestidade intelectual. Não tenho números que me permitam afirmar se foi no consulado de Santana Lopes que veio mais dinheiro, nem me parece que isso seja relevante uma vez que são farinha do mesmo saco, mas lembro que o estudo refere CE e no tempo de Santana já integrávamos a UE, e não tenho memória de se terem sido pagos subsídios para abater barcos de pesca ou para arrancar vinhas e oliveiras no governo de Santana Lopes. Sabe, a minha vantagem moral é que o meu único ídolo é a minha Pátria. Os políticos passam, mesmo os maus, mas Ela será eterna.

        • Tiro ao Alvo says:

          Julga o amigo que está em vantagem? Em relação a quê ou a quem? Presunção e água benta, cada um toma a que quer…
          Insinua o amigo que eu tentei manipular a verdade, o que é falso. Eu apenas lhe chamei a atenção para um aspecto que, no seu escrito, me pareceu afastar-se da realidade. Eu não falei de sobreiros, nem de vinhas, nem de barcos. Eu só lhe disse que não foi durante os governos de Cavaco Silva que Portugal recebeu mais ajudas da UE, não. Esses valores foram muito superiores durante os governos de Guterres e, até, de Santana Lopes. Eu só disse isto, e isto corresponde à verdade, mais nada. Baixe a bola, pf.

          • MAGRIÇO says:

            Meu caro, concordo em absoluto consigo: presunção e água benta… Parece-me que o meu caro tem alguma dificuldade em compreender o que lê. Vejamos: eu não disse que tinha falado de sobreiros ou vinhas, mas o estudo que referi fala, aponta esse facto como consequência das nossas actuais dificuldades, e não se pode ignorar a evidência de que essas medidas foram tomadas durante o governo de Cavaco Silva. Ao vir a logo terreiro defender este, estava a manipular a verdade. Como mostrou – e mostra, até na truculência da sua resposta! – tanto empenho na defesa daquele senhor, não pode criticar o facto de legitimamente se inferir que tem por ele alguma empatia – está no seu legítimo direito – e daí eu aludir à minha vantagem moral, uma vez que não estou limitado nas minhas análises por qualquer afinidade política, colectiva ou pessoal. Repito: as minhas energias não serão nunca gastas na defesa de qualquer profissional da política, mas na defesa dos interesses da minha Pátria. Não me parece muito difícil de perceber.

    • J.Pinto says:

      Magriço,

      Não vejo muita coisa no seu texto (nas palavras do tal sociólogo) que não pense. Aliás, por isso, é que o título do meu artigo se denomina “mudar de vida”.

      No meu texto referi as últimas décadas e não apenas as do Governo do Cavaco, do Sócrates ou do Guterres.
      Ao contrário do Magriço, que atribui as culpas a um Governo que já deixou o poder há 16 anos, eu culpo todos, sem exceção. Pelos vistos, é o Magriço que se aproxima de uma regime.

      • MAGRIÇO says:

        Confesso que sinto algum fascínio pelo modo como gosta de manipular os factos! Eu nunca atribui culpas a um só governo (escrevi, algures, que “após Abril de 94, a um Estado Novo sucedeu um Estado Chulo”) como afirma, e o seu último parágrafo fez soar um alarme no meu cérebro: o “regime” também defende que temos de empobrecer para, tal como qualquer Fénix, renascer-mos ricos e felizes. Já sei: não disse isso! Mas que quer? Estas analogias ocorrem-me sem serem convocadas.

        • Tiro ao Alvo says:

          Magriço, o amigo trata toda a gente como manipuladora, considerando a si como um dos que apenas dizem verdades e só verdades. Mas não é assim: ninguém é dono da verdade, muito menos o amigo. E fique sabendo que não sou político, no sentido que o senhor lhe dá, nem profissional, nem amador.
          E acabou-se. Fique-se com a sua razão, que eu fico com a minha.

          • MAGRIÇO says:

            Que desilusão! Esqueceu-se de acrescentar o tão castiço “Baixe a bola, pf.”

  6. Pisca says:

    Expliquem-me devagarinho que tenho muuuuiiiiita dificuldade em entender:

    Se eu tiver um contrato com uma empresa onde trabalhe, está nesse contrato o horário e o salário que deverão pagar. correcto ?

    Como não há direitos adquiridos, segundo umas avantesmas aqui proclamam, pode a empresa em qualquer altura, mudar o horário para mais umas horas e baixar o salário, correcto, segundo as avantesmas que por aqui proclamam a não aplicação dos direitos adquiridos

    Uma empresa que tenha feito uma Parceria Publico Privada, com um contrato que lesa o estado, que rouba os dinheiros dos contribuintes e que foi “engolido” por um qualquer assinante de turno (dito governo), aí já não se pode tocar, porque a lei não permite

    Óh cambada de imbecis, no segundo caso não falamos também de direitos adquiridos ? Ou isso só serve para o que “verga a mola” ?

    Provoca-me vomitos ver indigentes mentais a debitar o paleio dos amanuenses da troika ou lá o que são, vão longe assim, não se queixem quando os puserem a trabalhar com uma corrente ao pescoço e um prato à beira

    • Tiro ao Alvo says:

      Podias discutir, sem insultar. Podias, mas não queres. Mas vou responder-te.
      A firma de tu falas podia também falir e não cumprir qualquer contrato, Percebeste? E, quando isso acontece, e está a acontecer todos os dias, os trabalhadores ficam sem esses direitos adquiridos, que tu julgas eternos, mas não são, não.
      Pela tua conversa, deves ser funcionário público e estás convencido que tens emprego para toda a vida e que o Estado vai pagar-te uma reforma choruda, quando fores velho. Mas olha que isso pode não ser bem assim. A vida dá muitas voltas.

      • Pisca says:

        Só há uma forma de responder a quem se acha no direito de considerar que todos devemos ser sabujos, eu não sou nem quero ser, entendido ?

        Não sou funcionário publico, trabalho por conta própria por várias partes do mundo, entendido ?

        E quem me insulta e insulta os que dia a dia labutam para ter o seu pão, não devem em caso algum ser tratados como anormais por “especialistas de frases feitas” é o que vi neste post e em parte dos comentários, entendido ?

        Por isso não quero, e comento insultando quem insulta a minha inteligência, acordem um dia vai-lhes tocar á porta e nessa altura nem coleirinha de bom rafeiro comportado os vai salvar, entendido ?

    • J.Pinto says:

      Caro Pisca,

      Vou tentar explicar-lhe. Imagine então que, como diz, vai trabalhar para uma empresa; tem um contrato de trabalho com um horário e o respetivo salário. A empresa, devido, por exemplo, à concorrência dos produtos chineses, e outros, não consegue vender o que produz. Quem lhe vai pagar o salário? A empresa não vende, logo não tem dinheiro, como é que deve fazer?
      Imagine outra situação.

      A empresa A, onde o caro Pisca trabalha, tem uma encomenda de um cliente para entregar amanhã. No entanto, depois de amanhã e durante uma semana, a empresa não tem encomendas. Por que é que o empresário não deve ter a liberdade de poder aproveitar os trabalhadores, de acordo com alguns limites, para quando precisa, dispensando-os quando não tem encomendas (pagando-lhes)? É que a atual legislação obriga o empregador a pagar horas extraordinárias para realizar a encomenda que tem de ser entregue até amanhã, ao mesmo tempo que o obriga a pagar ao trabalhador na semana seguinte, mesmo que não tenha trabalho para ele.

      O caro Pisca pode achar-se no direito de não trabalhar mais quando a empresa precisa, ao mesmo tempo que exige o pagamento dos dias que fica em casa. Eu pergunto: onde é que a empresa vai buscar o dinheiro para lhe pagar os dias que fica em casa? O Pisca pode pensar: “não tenha pena dos empregadores, eles ganham sempre”. Se assim for, nada melhor do que o caro Pisca constituir a sua própria empresa e fazer aos seus trabalhadores o que defende agora.

      • Pisca says:

        Uma resposta destas seria de rir até às lágrimas se o assunto não fosse tão sério

        Segundo a sua brilhante teoria só há uma solução:

        Arranjar uns fulanos para fazer o trabalho, que se esfalfem até acabar o mesmo e depois são pagos “um dia destes” que o “empresário” tem as suas necessidades e “esta cambada quer é greves a roubar-me”

        Assim economia funciona na perfeição e quem investe tem o seu capital sempre garantido

        Sabe meu caro, a questão é muito simples, por mais empresário/patrão ou lá o que seja que crie empresas ou xafaricas de vão de escada, há algo que nunca pode faltar o trabalho e o saber de quem faz as coisas, por acaso nunca pensou no tempo que demora a ter um padeiro em condições para lhe fazer o pão que come de manhã ? Ou pensa que aprende numa universidade de papel e lápis ?

        Um empresário, basta ir a uma conservatória qualquer, assinar uns papeis depositar 5.000 euros e levantar no dia a seguir e já está, ninguém lhe pede formação, basta atrevimento

        Depois é só ir á vida

        É isto mais ou menos não é ?

        Dec.Interesses: repito trabalho por conta propria e por várias partes do mundo

        • J.Pinto says:

          Caro Pisca,

          Não sei se, propositadamente ou não, o amigo distorceu as minhas palavras. Quem é que disse que o empregado não tem o direito de receber a tempo e horas?

          Apenas quis dizer que deve haver alguma liberdade: nem sempre é possível controlar as encomendas. Por isso, será normal que a gestão de uma empresa tenha liberdade para adaptar os recursos para quando precisa para que o funcionário possa ficar em casa (a receber) quando não existem encomendas. Parece-me justo.

  7. João Batalha says:

    Isto (a situação) é básico e todos vêem como se fosse algo cuja a solução é muito complexa (como diz a banca, não há culpados, a situação económica é que é muito complicada). O que nos vale é que temos um país cheio de humoristas e entendidos na matéria. Já imaginaram, se todos os portugueses, de memoria efémera, se se lembrassem de todos os escândalos desde o 25 de Abril, o que poderia-mos fazer? É lamentável que todos tenham memoria de peixe e deixem de usar os exemplos, factuais, da corrupção, negligencia, má gestão e gastos dos dinheiros públicos. Porque razão é que o Zé Manel não pode produzir as suas couves e batatas, mas o senhor, excelentíssimo, doutor, engenheiro, director (sabe-se lá mais o que) tem esse direito e mais que isso? Porque que é que regredimos ate à idade media?
    Má gestão implica renovação de pessoal, por exemplo no restaurante do António ele pode despedir 3 membros de uma equipa de 5 para renovar e melhorar o serviço, melhorar a gestão, mas nós não nos impomos como patrões do nosso restaurante. Eles estão a gerir o país porque nós assim o quisemos, contra muitas vontades, mas o que é certo é que a escolha é nossa. Atitudes radicais são difíceis de tomar, embora possam ter consequências negativas há com certeza algo positivo a retirar, sempre, não me digam que é melhor continuar a roubalheira?

  8. Caro João Pinto e comentadores,

    Ao contrário da maioria das pessoas não tenho grandes convicções e muito menos certezas. Talvez seja ignorante demais.

    Por isso, sobre o caminho a seguir não consigo defender nenhuma posição, apenas ir fazendo algumas observações. Por exemplo, segundo muitos economistas credenciados a dívida de Portugal (e Grécia e possivelmente outros) é impagável. Isto quer dizer que provavelmente teremos de entrar em default eventualmente e, logo, sairemos do Euro, se este entretanto não tiver acabado.
    Dando esta hipótese como a mais provável não faria mais sentido apostar no crescimento em vez da austeridade? E não estou a falar de aumentar salários ao calhas ou distribuir subsídios por quem pedir, mas simplesmente investir na indústria e agricultura como tanto se apregoa, mas não se faz já que o pouco dinheiro que existe está afecto à dívida.

    Ou seja, se a dívida é impagável, como alguns dos maiores economistas mundiais dizem não valeria mais entrar em default imediatamente, sair do euro e desenvolver a indústria exportadora?

    Sim, a inflacção aumentaria e o poder de compra diminuiria drasticamente, mas pelo caminho da austeridade o poder de compra também diminui, ainda que mais lentamente, e sem que se preveja virem daí quaisquer benefícios…

    Prefiro empobrecer brutalmente, mas sabendo que mais tarde poderei aumentar a minha qualidade de vida, do que empobrecer devagar, mas sem qualquer expectativa de melhoria.

    Por estas razões me parece que a austeridade não será o melhor caminho, não porque me recuse a empobrecer, porque isso é inevitável (mas não posso deixar de notar que distribuição dos sacrifícios, até agora, têm sido iníqua, mas isso é outra questão), mas porque a austeridade parece ser simplesmente inútil. Não corrige nenhum dos actuais problemas e ainda cria mais.

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