Para o Natal, queria Cavaco com a boca cheia de bolo-rei

O Natal enternece-me tanto quanto me irrita.

Mesmo já não sendo católico, não deixo de ser cristão em muita coisa e viverei sempre marcado pelo presépio, pela imagem do menino ameaçado por um Herodes que faz parte da minha particular galeria de vilões, na eterna história edificante em que os fracos acabam por derrotar os mais fortes.

Mesmo quando era católico, já me irritava o Natal enquanto pequeno intervalo em que as pessoas se permitiam o exercício da bondade, depois de terem dado o pior que tinham e antes de o retomarem, já purificadas por uma esmola maior e saciadas de bolo-rei. O Natal é, afinal, um Carnaval em que nos disfarçamos de boas pessoas.

A minha embirração particular com Cavaco Silva não se limita ao facto de ser um homem de direita, dado que nunca foi suficiente nem necessário para que outra pessoa me suscitasse tal sentimento tão humano e tão pouco natalício.

Este ano, com o cabotinismo que caracteriza o casal Silva, o Presidente e sua esposa, voltam a incomodar-me com a mensagem de boas festas, terminando com “E um ano de 2012 tão bom quanto possível”, especialmente irónico quando é dito por alguém que ficará na história por ter desconfiado de escutas e por ter preocupações com vírgulas no Estatuto dos Açores, enquanto apoiava o empobrecimento dos portugueses.

O vídeo que se segue – um clássico – ilustra o único momento em que a figura presidencial foi eloquente.

Comments

  1. Quanto ao honorável presidente Cavaco Silva, talvez a reflexão mais importante a fazer seja a de como é que um povo elege e reelege um homem deste “calibre”. Não será essa a questão principal?

    • Albano Coelho says:

      Pergunto-me o mesmo quase obsessivamente…
      Desde a Galiza ressoa-me a nossa velha máxima que diz “menos mal que nos queda Portugal” e cada vez menos me parece mais distante da realidade. Cada vez mais me parece distante e apenas uma frase bonita que até rima mas à qual foge todo o significado. E é uma tristeza… Uma tristeza que em grande medida tem a ver precisamente com o não entender como é possível eleger e reeleger alguém deste “calibre”, como muito bem diz. Que os habitantes deste Reino Bourbónico façam semelhantes disparates em certa medida compreende-se – não estou a desculpar-nos – porque a construção do Estado Espanhol desde os Reis Católicos em muito dependeu (depende) da estupidificação do povo. Mas num país uno de Norte a Sul, esperava-se mais de seu povo.

    • Pentesileia says:

      Sem dúvida que essa é a questão principal! É o mesmo povo que vota sem consciência das consequências do seu voto; que vota piedosamente no candidato piedosamente recomendado pelo sr. Prior; que elege programas como “A Casa dos Segredos” como programa favorito; de onde saem aqueles progenitores de vão espancar os professores porque os filhos não tiveram boas notas; o mesmo que é capaz de matar pelo clube do seu coração, mas que aceita com a resignação de rebanho a sua vidinha medíocre e explorada por aqueles que elege. Gostaria que não fosse assim, mas não vislumbro qualquer indício de mudança de mentalidades..

  2. Dario Lourenço says:

    Excelente … e como revejo tãobem nestas palavras e na mensagem que as mesmas devem fazer chegar.
    Terei todo o gosto em partilha-las para que mais mentes deste País acordem para a realidade, quem têm sido “alimentar” esta cambada de “chupistas” e “chulos” sociais.
    Um Bem Haja a quem as escreveu.

  3. MAGRIÇO says:

    Imagens clássicas e eloquentes! Sinto-me um pouco melhor: pensava que era má vontade minha contra esta figura Kafkiana mas vejo agora que não estou sozinho. Imaginem que já li alguns comentários em que alguém iluminado defendia que Cavaco era um grande estadista! Ele há gostos para tudo…

  4. …na verdade,como é que é possível haver ainda tanta gente «iluminada» a defender este tecnocrata da política!

  5. LUCINO PREZA says:

    Ao sr. que escreveu este artigo e que se diz não ser católico, tem toda a democracia consigo para abraçar a religião e as cores do partido que veste (vermelho)… Contudo tenho a dizer que os maiores culpados de transformarem o Natal numa festa pagã, se deve única e exclusivamente ao “bicho homem” para, assim ,delapidar a carteira do seu semelhante.Èis
    a luxúria e a desonestidade no seu expoente máximo para qual a festividade do Natal nunca ensinou que as mesmas deveriam decorrer desta maneira. Escreve em eleger Cavaco e Silva… Duas pergunta somente: quem elegeu o famoso delapidador da exemplar descolonização por duas vezes? Duas como PM e as outras duas vezes como PR?… Talvês o sr. porque andou a comer durante esse tempo todo à custa dele, lambendo-lhe as botas…
    Quem elegeu por duas vezes o maior vigarista depois de Alves dos Réis como PM (sempre do PS) e que se chama José Sócrates? Pelos vistos, também, o sr. comeu a grande e a francesa à custa desse “malabarista”… Não ofenda por favor os honestos católicos por gostarem de, uma vez por ano, reunirem-se à volta dumas “brasas” em comunhão com toda a família e, na Paz de Deus. Quem tem acudido e tem feito grandes esforços para acudir os mais desprotegidos, fazendo de cada dia e noite que haja Natal durante todo o ano para os desempregados? Estes que o sr. está a acusar de maus católicos. Se não gosta da nossa religião, além de puder escolher outra (seita), faça como quando está a comer peixe… ponha a borda do prato.

    • Constato que certos católicos ofendidos destllam ódio e fúria por todos os poros!
      Ainda bem que ainda temos bons cristãos…

      • Albano Coelho says:

        Homem, a verdade é que este “discurso” parece muito pouco católico. Se não soubesse eu diria que a pessoa era um evangélico estadunidense, fanático e fundamentalista, daqueles que andam a assassinar os proprietários das clínicas onde se faz a IVG tudo “em nome de Deus”.

        • MAGRIÇO says:

          Confesso que, depois de ler o que escreveu Lucino Preza sobre os ingleses, este seu comentário foi para mim uma decepção! Os não crentes não reagem às opções religiosas de católicos ou de qualquer outro credo (cada um come do que gosta, quando pode!), por isso fico sempre admirado com a fúria militante destes contra os que não apreciam as ementas oferecidas pelas variadíssimas crenças disponíveis no mercado.

          • Albano Coelho says:

            Honestamente não compreendi aonde pretende chegar… Nem muito menos sei o que Lucino Preza escrever sobre os ingleses e o que isso tem a ver com o que quer que seja. Pode reformular, por favor?

          • MAGRIÇO says:

            Caro Albano Coelho, tenho o maior gosto em esclarecer, até porque penso que sei o que está na origem desta sua dúvida: quando escrevi “este seu comentário foi para mim uma decepção” referia-me ao comentário de Lucino Preza ao artigo “A Arte de Não Querer Saber”, da autoria de Daniela Major, em que Lucino me deixou (mau juízo meu!) uma impressão completamente diferente desta última. Da minha falta de clareza me penitencio.

        • LUCINO PREZA says:

          Sr. A. Coelho: não se trata dum discurso, mas sim, dum comentário sobre o paradoxo do sr. Nabais que diz: “MESMO NÃO SENDO CATÓLICO, NÃO DEIXO DE SER CRISTÃO”… Em que ficámos?… Compreendo aquele senhor, mas não totalmente. Será que é cristão pelo batismo?… Tudo bem… mas dever-se-ia explicar melhor. Graças a Deus, nós católicos não andámos de porta em porta como se regem certas seitas. Nós temos sempre as nossas portas abertas para caatólicos e não católicos. São sempre benvindos. Contudo, se certas seitas andam de porta em porta, são pagos pelos seus superiores com o dízimo. Na nossa igreja nada disso existe. O peditório serve muitas vezes para para o sustento do prior e para qualquer obra que a igreja necessita. Não somos bandos de assassinos como a que estámos habituados a ouvir relatos na Índia, Indonésia, C. do Norte, etc.,etc. onde os católicos são massacrados sem dó nem piedade.
          Onde o sr. tinha os seus óculos quando leu este comentário feito por mim?..
          Releia outra vez e veja se eu me refiro aos ingleses… Não acha que deve mudar de lentes de ver ao perto?… Leia a minha resposta que deixei ao sr. ou srª. M. Ralha. Ponto Final.

      • LUCINO PREZA says:

        Ao sr. ou srª. M.Ralha:Constatou na minha singela intervecção que certos católicos destilam ódio e fúria por todos os poros… Caro amigo (a): está completamente enganado porque, nós destilamos paz e amor aos mais necessitados e,ao mesmo, para qualquer credo. Quer no licéu, quer na faculdade sempre tive colegas de todos os credos e raças os quais, eram tratados da msema maneira como se se tratasse dum católico. Não somos, felizmente, nem racistas, nem muçulmanos nem, islamitas.
        Há momentos e situações em que é preciso ser forte, calmo e sereno, quase sobre humano para não sucumbirmos,para não perdermos a cabeça, a esperança, a motivação, a alegria de viver.
        Para quê plantar a erva daninha do ódio, da intriga e da discórdia, onde o amor pode e deve crescer? O importante, na vida, não é realizar grandes obras, mas realizar pesssoas, deixando a marca da nossa bondade no canteiro de muitos corações. Deus nunca ensinou-me a ter ódio a um irmão meu, mas, também não toleramos que nos ofendam por daqui aquela palha!….
        Leia uma bonita história verdadeira sobre o Padre Ferreira da Silva aquando da invasão dos indianos a Goa, Damão e Diu.

        • Bastaria clicar em m.ralha para saber mais sobre mim…

          Ainda bem que não se trata de ódio.
          Mas posso afiançar-lhe que, no meu caso, a interpretação das suas palavras levou a essa conclusão. Ainda bem que estava enganado…

    • António Fernando Nabais says:

      O senhor Preza é a prova provada de que um fundamentalista não consegue realizar um acto tão simples como compreender o conteúdo de um texto. Descobriu qual é o meu partido, descobriu em quem votei, descobriu as botas que lambi e até descobriu que não gosto de peixe. É um milagre só ao alcance de quem treslê. Valha-lhe Deus, homem!

      • LUCINO PREZA says:

        Escrevi aquele comentário ao ser artigo por dois motivos.
        Compreendi muito bem o conteúdo do mesmo porque, não pertenço a espécie asinina. O que não compreendi foi a grande confusão que engendrou sobre a quadra natalícia e, de ser ou não cristão. É timbre de quem escreve como politólogo ou jornalista, estar associado a artistas do mesmo ofício para que em conjunto, denegrirem quem não está de acordo. Ponto Final.
        O segundo caso está relacionado com a eleição do Dr. Cavaco e Silva: ao fazer uma introspecção de todos os PR e PM, pergunto: TODOS DEVER-SE-IAM SENTAR NO BANCO DO TRIBUNAL POR PÉSSIMA GOVERNAÇÃO DESTE PEQUENO PAÍS. Não vale a pena denúnciar ou a bater no “ceguinho” porque, melhor do que eu por estar associado a sua tertúlia, sabe muito bem do que estou a escrever. Não sou fundamentalista graças a Deus. E, aprendi muito nos comandos quando na guerra no antigo Ultramar. Ajudar o próximo tal como Deus nos pediu. Creia-me Sr. Nabais que, numa companhia de 180 homens havia de tudo e, no entanto, eram tratados da mesma maneira. Ponto Final.

        • António Fernando Nabais says:

          Nunca disse que o senhor não percebeu por pertencer à espécie asinina. O senhor, simplesmente, comentou o que escrevi, baseando-se não no que escrevi, mas em preconceitos seus (e preconceitos todos temos).
          Considero-me cristão, não no sentido de ser um crente, mas porque muito do que aprendi na catequese e no contacto com a Igreja fez de mim alguém que procura ser tolerante e ajudar o próximo, o que não é incompatível com criticar a própria Igreja ou os católicos. O problema é que há muitos católicos que não são cristãos, o que é, aparentemente, contraditório.
          Que o senhor não perceba isso admite-se, porque há um jogo de palavras que pode tornar ambígua a mensagem. Que, a partir disso, conclua tanta coisa sobre quem não conhece nasce de preconceitos seus, como, aliás, se confirma quando escreve “É timbre de quem escreve como politólogo ou jornalista, estar associado a artistas do mesmo ofício para que em conjunto, denegrirem quem não está de acordo.”

  6. ..o comentário do senhor Preza (des)Preza!Valha-lhe TODOS OS SANTOS! “A ignorância dócil é desculpável, a presumida e refractária é desprezível e intolerável.”

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