Americanos retiram do Iraque, sem honra nem glória

Claro que na guerra nunca há honra ou glória é, afinal de contas, um negócio porco.

Soldados Americanos violam uma iraquiana de 14 anos - identificada como jovem mulher nos relatórios oficiais - clique na foto para ler a história dela e outras, em inglês

A guerra no Iraque foi um negócio especialmente porco porque se tratou de uma guerra de agressão. Guerra que o agressor nem teve coragem de declarar. Nos julgamentos de Nuremberg, as guerras de agressão, foram consideradas o crime internacional supremo.

 

 

Número de mortes violentas de civis por semana no Iraque

Na semana passada, os americanos marcaram o fim de uma ocupação de quase 9 anos, desde 20 de Março de 2003. A contabilidade desta ocupação é:

  • 4 484 soldados americanos mortos, recrutados entre os mais pobres do país;
  • 1 487 mercenários mortos;
  • 319 soldados da “coligação”;
  • 348 jornalistas;
  • 448 académicos;
  • 33 183 soldados americanos feridos com gravidade;
  • 113 755 civis iraquianos mortos (segundo o projecto Body Count), este número é de certeza muito mais alto dado que muitas mortes não foram registadas. Calcula-se que o número de mortos civis devido aos efeitos directos e indirectos da guerra possa chegar a mais de um milhão (mais informação aqui).

Terroristas mortos

Esta é a contabilidade diabólica destes anos e, infelizmente, não vai ficar por aqui. Vai demorar muito tempo até termos os números finais desta aventura assassina.

Em termos de tesouro, os americanos gastaram mais de um bilião de dólares. Há quem diga que esta despesa imensa precipitou o inicio da crise financeira global em que hoje estamos mergulhados.

Quanto aos objectivos, falharam em toda a linha, exceptuando talvez o derrube de um ditador. Não foram encontradas armas de destruição em massa, mas isso já se sabia antes da guerra, não passaram de um torpe pretexto; Não houve democratização do Iraque, nem vai haver nos tempos mais próximos. A influência shiita aumentou, como seria de esperar, por razões demográficas e o país corre ainda o real perigo de se desmembrar; Não se fez “guerra ao terrorismo”, antes pelo contrário, excitaram-se os ânimos de jovens um pouco por todo o mundo árabe, que foram desta foram levados a abraçar a luta contra os EUA. Lembrar que nenhum iraquiano esteve implicado nos ataques do 11 de Setembro, o próprio regime de Saddam Hussein era contra os vários movimentos e facções daquilo que no ocidente se chama da al-Qaeda.

Em resumo, a posição geo-estratégica dos EUA e do ocidente no médio oriente, é muito pior hoje do que antes da guerra no Iraque.

Finalmente, convém não esquecer os perpetradores, os criminosos, reuniram-se nas Lajes, em 16 de Março de 2003 para uma cimeira que tiveram o descaramento de chamar “da paz”, quando mais não foi que uma forma atabalhoada de justificar a guerra. Foram eles: George W. Bush (actualmente a gozar a sua imerecida reforma), Tony Blair (conferencista pouco famoso mas pago a peso de ouro), José Maria Aznar (administrador da News Corporation do democrata Rupert Murdoch) e o tolo conveniente do momento Durão Barroso (faz de figura de cartão num organismo internacional em desintegração).

Criminoso de Guerra

PS: Para melhor compreender os factores que levaram à guerra no Iraque, é fundamental que assista ao documentário da BBC, O Poder dos Pesadelos, presente não por acaso na série do Aventar, Hoje dá na net.

Comments

  1. Zuruspa says:

    O título deveria ser “ALGUNS americanos retiram do Iraque, sem honra nem glória”. Porque os mercenários ficam, e entre eles a maioria é americana. Aliás, parece que pelo menos desde 2005 que häo mais mercenários que soldados no Iraque.

    A guerra privatizada. Mais dinheiro para a Halliburton, contratadora de mercenários.

    • Tem razão. A utilização de mercenários nesta guerra faz lembrar outros tempos.

      As guerras expandiram-se quando descobriram que podiam pagar em medalhas a jovens ingénuos (patriotas!) para se matarem uns aos outros – poupou-se muito ouro dessa forma. Agora parece que essa tendência se inverteu, volta-se aos exércitos de mercenários, com todos os problemas que isso implica.

      • Zuruspa says:

        Agora o ouro poupa-se se outra forma. Reduziu-se a classe média a nada, e a baixa à fome. Logo quem tem fome alista-se por tuta e meia.

        O meu pai dizia que chegou a pensar ir para o Biafra, porque se ganhava bom dinheiro; hoje em dia väo para o exércitos público ou privado porque passam fome e näo h´outro emprego.

  2. kirk says:

    Olha a novidade!… Os américas já o faziam no Vietname. Os de hoje limitam-se a seguir a velha escola.
    K

  3. Adão Cruz says:

    Um abraço Helder e obrigado por este texto repleto de verdade sobre um dos maiores crimes contra a humanidade, de toda a história

Trackbacks

  1. […] presença militar americana no Iraque acabou sem honra no fim do ano passado. Neste momento a influência dos EUA permanece através da presença de mercenários, um exército […]

  2. […] hoje 9 anos que quatro malfeitores se reuniram na Base das Lajes para justificar o injustificável. Neste momento, os EUA já retiraram as suas forças do Iraque, substituídas largamente por mercenários. Os iraquianos continuam a sofrer. E quanto aos […]

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