Vaclav Havel

As ideias de Vaclav Havel (1936-2011) têm sido lembradas e sublinhadas por jornalistas (Henrique Monteiro no Expresso e Jorge Almeida Fernandes no Público) e até pelo padre Anselmo Borges (no DN).
Havel disse que 1) estamos a desenvolver desenfreadamente a primeira civilização ateia, uma vez que se “perdeu a conexão com o infinito e a eternidade” ; 2) preferimos o ganho a curto prazo; 3) somos arrogantes (achamos que conhecemos tudo e que “aquilo que ignoramos depressa o descobriremos, porque vamos saber tudo”; somos ingratos (” esquecemos o que as anteriores civilizações sabiam”); a recente crise financeira e económica “é um aviso contra a desproporcionada autoconfiança e o orgulho da civilização moderna” – ela é “como um pequeno apelo à humildade”; não tomemos nada como automaticamente garantido”; não somos Deus (a nossa “estúpida convicção de omnisciência”); é preciso convocar o “sentido de antecipação”.
Havel, que se dizia “meio crente”, tinha a “certeza de que tudo no mundo não é apenas efeito do acaso: “estou convencido de que há um ser, uma força velada por um manto de mistério. E é o mistério que me fascina.”
Falava, por isso, em “transcendência”, que considerava ser “a única alternativa real à extinção.”
Não quis silenciar o que pensava ser a verdade.
Como político, reconhecia o défice de legitimidade da política, que deve orientar-se por valores éticos e espirituais.
Havel acreditava que Humanidade ainda teria que passar por mais sofrimento “ antes de compreender quão incrivelmente míope pode ser um ser humano ao esquecer que não é Deus”.
A propósito disto, vem-me à memória a notícia sobre a ‘partícula de Deus’ que o CERN procura isolar. O Bosão de Higgs ou a ‘partícula de Deus’ é, segundo os cientistas daquela organização europeia de Pesquisa Nuclear, “a peça que falta no puzzle” para explicar porque existe o universo.
Quantos milhões de euros serão necessários gastar (em detrimento de descobertas essenciais no âmbito da Saúde e /ou no sentido de minimizar o sofrimento real de milhões de seres humanos) para fazer entender ao Homem que não pode explicar tudo, embora possa fazer todas as perguntas
Primeiros votos para 2012: mais ética e mais sensibilidade/espiritualidade na política e que a ‘partícula de Deus’ seja reconhecida como sendo, efetivamente, a  peça que só Deus sabe onde guardou e a que o Homem não tem nem terá acesso por mais que queime as pestanas!!

Comments

  1. Adão Cruz says:

    Em primeiro lugar não subscrevo nada do que dizia ou pensava Vaclav Havel. Pelo contrário, considero, segundo a minha forma de pensar, que seria um bem para a humanidade, uma civilização ateia. Em segundo lugar, o Homem é, por natureza, curioso e ávido de saber, pelo que são perfeitamente legítimas, saudáveis e necessárias todas as investigações científicas, conquanto elas contribuam para o desenvolvimento global do ser humano. O mal não está no avanço da ciência mas no mau uso que, tantas vezes, se lhe dá.

  2. Nuno says:

    Essa vontade para que o Bosão de Higgs não seja encontrado reflecte o quê? Uma enorme incerteza quanto às suas crenças ou simples vontade de que a Humanidade possa ser controlado pelo obscurantismo das religiões?

  3. desculpe mas a investigação em física é importantíssima para o entendimento do mundo que nos rodeia… pode perfeitamente abrir caminho para novas formas de produção de energia renovável ou ecoligicamente responsavel.

    Acredite que muitos milhares de milhoes de euros muito mais mal gastos!

  4. maria celeste d'oliveira ramos says:

    Quem foi o eis ministro da Cultura de França que afirmou que o Homem do
    século XXI ou seria profundamente religioso ou não seria coisa nenhuma ?? tem nome composto (dois nomes separado de ífen) e tenho pena de não me lembrar – Mas entretanto leia-se a vida de grandes cientistas, sobretudo físicos, como Newton ou Einstein e os que quizerem que escreveram sobre a existência de ser superior e que era paenas homem de cultura e não eclesiástico

  5. kalidas says:

    Se no limite, cruzes canhoto, tiver-mos de emigrar *todos, deixar a Terra e partir para um outro planeta, o que seria mais importante guardar no cofre?

    *incluindo o sr Passos e a sra Merkel.

  6. xico says:

    Onde você se foi meter!!!…
    Concordo com muito que disse, no entanto julgo que os cientistas têm a obrigação de tudo investigar, mesmo podendo saber que nem todas as respostas obterão.
    Caro Adão Cruz,
    nós já vivemos numa civilização ateia! Nietsche há muito declarou a morte de Deus, porque a reconheceu na sociedade que fundámos no século XIX. Se a ideia de que do transcendente provém o fundamento do direito, não serviu para refrear o que de mais sanguinário têm os homens, como acha que a falta dessa ideia será melhor travão? Se os exemplos de um lado são maus, do outro são piores.

  7. Aires Gameiro says:

    A Civilização ateia foi iniciada nos tempos modernos com a Revolução Francesa e não têm cessado de se desenvolver. Estará já no seu pico máximo ou fossa mais profunda, com se queira com a Babel actual? Talvez ainda não tenha chegado ao fundo da fossa.

  8. Nightwish says:

    Para quem Deus é a resposta, fazer perguntas realmente é irrelevante, mas é estranho achar que os outros é que pensam que sabem tudo.
    Já quanto ao Higgs Boson, só os média é que lhe chamam partícula de Deus, nenhuma pessoa com um mínimo de conhecimento científico acha que é mais do que um passo para descobrir os mistérios do universo. Quanto ao custo, entre isso e mais umas guerras no médio oriente, eu sei o que prefiro: afinal, ir à lua trouxe-nos um número incontável de tecnologias essenciais para a nossa vida actual.

  9. Evandro Gueiros Leite says:

    Muito importa o que Havel falou sobre espiritualidade, sobretudo porque revela uma qualidade que os incrédulos não têm: quebrantamento e humildade. Não achei até agora o que gostaria de saber dele de tão humilde que recusou um título importante pois não tinha certeza se o merecia.

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