Trabalho na infância, escola depois dos 65

 

foto de Lewis Hine

Faz agora duas décadas desde a publicação da primeira legislação em Portugal sobre trabalho infantil que reduziu significativamente os riscos para as crianças.
Mas a atual situação de crise económica pode levar a que algumas famílias recorram à mão-de-obra dos filhos “como fonte de receitas para o orçamento doméstico”, dizem especialistas.
Por outro lado, Portugal é o país da UE com a maior percentagem de pessoas a trabalhar depois dos 65 anos (uma notícia do Público de 14 /1/2012, exatamente igual a outra de 2002). Não admira, com as reformas miseráveis que têm, vergonhosas para todos nós.

Quem nos garante também que vamos ter a nossa?…
Muitos dos que têm que trabalhar depois dos 65 foram, em crianças,
obrigadas a abandonar a escola no final do ensino primário (ou mesmo antes de o concluírem)  para trabalharem no campo ou noutra atividade de forma a poderem ajudar os pais. Quase todos temos casos desses nas nossas famílias…
Deixo uma homenagem ao meu pai e a outras pessoas que aos 65 decidiram voltar à escola dando continuidade àquilo que cruelmente lhes foi negado.
Uma interrupção de décadas… Tanta vontade de aprender!

Comments

  1. Os jovens muitas vezes não percebem que as gerações passadas viveram em condições duras e que obrigavam a colocar de parte interesses individuais.
    Hoje, tudo parece fácil. Se, a conjuntura desfavorável se alargar no tempo, vamos voltar a sentir na pele esses tempos de grandes sacrifícios. A diferença, era que as crianças não conheciam o «outro» mundo…

  2. O contra-senso disto tudo: os Avós têm que trabalhar, para sustentar os filhos que não arranjam emprego, e os netos não podem estudar porque são todos pobres.
    Que futuro estaremos a preparar?
    Noutros tempos noutros lugares, regimes como o de Hitler, Mussolini, presidente McCarthy (USA), Salazar, Franco, etc. “prosperaram” na injustiça social e enraizaram na revolta de cidadãos a quem tudo é negado. Esperemos conseguir inverter o rumo antes de chegar a esse momento…

  3. Carlos Pinheiro says:

    É certo que já fiz os 66 mas não me esqueço do meu primeiro emprego, na Câmara Municipal da minha terra, aos 10 anos quando acabei a então chamada Escola Primária. É certo que, com muito sacrificio dos meus pais, ainda fiz a admissão à Escola Industrial de vila próxima (13Kms) mas não me matriculei porque entretanto o meu pai adoeceu e então eu estive mais de 3 anos na Câmara Municipal, sem ordenado, mas em horário completo, a fazer de moço de recados, a fazer de paquete, a fazer de tudo um pouco. Quando me aproximei da idade da reforma pedi à Câmara que abrisse um inquérito administrativo para confirmar a minha passagem pelos seus serviços durante 39 meses, para ver se esse tempo me ajudava na reforma. Fizeram o inquérito, foi confirmada a veracidade dos factos que apontei e fiz o requerimento à CGA para que me fosse contado aquele tempo. Mas a resposta foi negativa só porque, apesar da confirmação da realidade dos factos, o certo é que eu estive ali aqueles 39 meses sem nada receber. Portanto como não recebia, não descontava e só por isso não me foi contado o tempo. É caso para dizer, para além do trabalhao infantil gratuito, nem o tempo contou para a reforma. É a realidade dos factos. Estamos em Portugal.

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