OGE de 2012 – Moedas, Trocas & Baldrocas

Homens felizes

Carlos Moedas publica no “The Wall Street Journal” um artigo destinado, claramente, a contraditar notícias adversas e recentes, naquele mesmo jornal. Noticiava-se, antes, que “Portugal dificilmente terá capacidade de voltar aos mercados em 2013, em função da persistência e dimensão da crise…”.

Moedas – Secretário de Estado Adjunto do Primeiro-Ministro, note-se –recorre a um estilo superficial e hiperbólico. Contornando as difíceis realidades sociais, económicas e financeiras do País, declarou:

A descida do défice abre espaço a corte de impostos.

Moedas agora nega ter dito que vai baixar os impostos. Tem razão. No entanto, ao valer-se de um discurso meramente teórico, usou um princípio elementar (descida de défice público => corte de impostos) que, correcto em matéria de teoria de finanças públicas, se distancia da realidade da Economia Portuguesa; sobretudo, dos efeitos da política de austeridade que, respeitando e/ou excedendo as medidas da ‘troika’, o governo, de que faz parte, aplica de forma brutal.

O problema de Portugal, à semelhança de outros países em dificuldades, é não haver, no governo, quem entenda como o défice público deve descer e obter crescimento económico. E, a este respeito, o insuspeito NECEPNúcleo de Estudos de Conjuntura sobre a Economia Portuguesa, da Universidade Católica  prevê um cenário elucidativo e sombrio para 2012:

  • Contracção de 3,4% do PIB, contra as previsões de apenas 3% do governo e 3,1% do BdP;
  • Grandes dificuldades em cumprir um défice menor do que 6% – o compromisso com a ‘troika’ é de 4,5% no limite.

Deixem-se de “Trocas & Baldrocas” e, no lugar da teoria, o necessário e sério é focarem-se em problemas concretos. E concreto, bem concreto, é que o OGE de 2012, como assinalámos aqui e é assumido pelo governo desde Dezembro de 2011, terá que ser objecto de alteração através de orçamento rectificativo. Desde logo, porque os qualificadíssimos governantes  se esqueceram de orçamentar as pensões dos bancários; e também porque outros constrangimentos – quebra das receitas fiscais, por exemplo – obrigam  à  rectificação até finais do 1.º T deste ano, sem certeza de ser a última.

Eu, tal como os mercados financeiros que abomino, não acredito em discursos vácuos. Na realidade, o desastroso caminho da Economia Portuguesa é inevitável pela via, única, da austeridade. Para os mais pobres e classe média, entenda-se.

Comments

  1. marai celeste ramos says:

    E diz isto a rir sem vergonha na cara e nas palavras – estão sempre a rir como nos enterros

  2. Eu apenas pergunto, mas será que este “senhor da moedas” não tem um pingo de vergonha na cara? Sinceramente acham que os portugueses vão tolerar este tipo de ingerência até quando?
    Sejamos de uma vez por todas rigorosos com o OGE, a bandalheira financeira tem de acabar sob pena de…todos os portugueses pagarem a factura com sangue e suor.

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