Carnaval, carnaval, carnaval

Depois de anos como assunto oficioso, a parvalheira é agora tema oficial das discussões políticas deste país falido. E quanto custa o pagode? Usando um trabalho do Público sobre o carnaval de 2011, vemos que quatro municípios (Ovar, Mealhada, Torres Vedras e Loulé), só em dinheiro vivo, deram para esse carnaval 950 mil euros, ao qual se somou apoio logístico e humano, este num valor não especificado. Noutro ponto de vista, em ajustes directos entre 2009 e 2011 (detalhes; dados recolhidos com o auxílio do site Despesa Pública),  2,882,505.67 € saíram directos do bolso dos contribuintes para a folia.

Quem defende o carnaval fala de um «um boom turístico e económico – directamente visível nas receitas de bilheteira e nos lucros da restauração e hotelaria, mas que também abrange o comércio e indústrias locais». Por outro lado, quem organiza estes eventos afirma recorrentemente que não seria possível realizá-los sem os subsídios que anualmente recebem. Das duas três, ou a festa não traz retorno suficiente para se pagar a si mesma ou os nossos impostos estão a ser usados para financiamento directo de actividades comerciais como a restauração e a hotelaria.

Finalmente, há a questão da tolerância de ponto que anualmente tem sido dada à função pública no carnaval. Este ano o governo vai dar uma nega e, sem surpresa, os sindicatos manifestam-se contra. Igualmente sem surpresa, os partidos de esquerda, e até o PS, cavalgam a onda fácil dos descontentes com a medida. Mesmo assim, quem deixa de ter tolerância de ponto poderá fazer como os restantes trabalhadores sempre fizeram: ir com um rouge mais extravagante para o trabalho.

Com valores assim, bem se vê que carnaval não é brincadeira, não. Afinal, é assunto digno de paralamentares.

Comments

  1. eyelash says:

    a folia virou números, só números, então, carnaval já era!

  2. J.Pinto says:

    O problema português não se resolve com mais trabalho. O que nos falta é qualidade do nosso trabalho (produtos de valor acrescentado), não é mais quantidade de trabalho.

    Apesar de não concordar com a medida, compreendo a posição do Governo, visto que não fará muito sentido tirar 4 feriados e, ao mesmo tempo, dar tolerância de ponto num dia que não é feriado.

    Os partidos da oposição, como é costume, já estão a fazer o seu próprio carnaval.

    No que respeita aos números, também não concordo com os gastos públicos em eventos que nunca saberemos se são rentáveis.

  3. jorge fliscorno says:

    Antes da folia ter virado números, já era números, nomeadamente, os números dos subsídios. A folia já era há muito tempo.

  4. jorge fliscorno says:

    J. Pinto, não vejo que a ausência de ponte tenha que estar relacionada com a produtividade. Já a questão de todos os trabalhadores terem o mesmo número de feriados/dias de descanso parece-me elementar. E nem estou a falar do menor número de horas de trabalho na função pública.

  5. A vida vai muito além dos números. Aliás, os números podem até ser perigosos por exemplo quando se trata de decidir acerca da vida… Por outro lado, mexer em números implica visão global e competência…
    Por acaso alguém tem ideia de quanto vai custar ao contribuinte manter abertos os serviços públicos no tempo que agora será de trabalho? Qual o custo energético? Qual o custo de “outsourcing” de segurança (por exemplo). Eu não sei, mas imagino que dada a dimensão do Estado, um dia a mais significará realmente muita “massa”. E o retorno? O que é que o País ganha? O “investimento” no Carnaval sempre geraria algum, e pelo menos a “malta” divertia-se (para quem se diverte com estas coisas…). O “fecho” da festa no fim de contas é capaz de sair mais caro e ninguém achar graça nenhuma!…

  6. J.Pinto says:

    Boa tarde, Jorge

    O objetivo do Governo, a confiar no que vão dizendo, é aumentar o número de horas de trabalho e, consequentemente, a produtividade, o que não é verdade. É esta a lógica do governo para a abolição dos 4 feriados e, claro, da não tolerância de ponto no Carnaval.

  7. jorge fliscorno says:

    Por essa ordem de ideias, LuisF, fechavam-se os serviços de vez.

  8. A minha opinião sobre o assassinato da identidade nacional: http://joaquimmarques.wordpress.com/2012/02/05/adeus-carnaval/

  9. Pisca says:

    Só falta aqui um alarve, como o outro que perguntava:

    – A Junta de Freguesia dá prejuizo ? Então fecha-se !!

    Mai Nada !

  10. @ jorge fliscorno – A minha intenção foi sobretudo alertar para o ridículo de certas “problemáticas” à qual se junta uma boa dose de miopia na gestão do País!… Aparentemente não são contempladas numa mesma matriz, a expressão que terá o aumento da carga horária do trabalho versus o correspondente retorno efetivo e o consequente beneficio direto (ou indireto) para o contribuinte.
    Este governo veste-se de presunção de virtude tecnocrática e “rigor”, quando na verdade parece governar as contas públicas com o alcance dum gestor medíocre que “corta a direito” de forma prepotente e selvática, quando efetivamente não consegue compor um “plano de negócio” consistente, lúcido e sensato que consiga catalisar os “empregados”. Normalmente a aplicação desta tendência precede as falências…
    E, finalmente, a sua “provocação” poderia ter algum sentido, sim! Porque não encerrar certos serviços alguns dias por mês? Não é o que fazem algumas empresas bem sucedidas quando não tem encomendas?
    O governo quer que as pessoas estejam mais horas nos locais de trabalho para quê? Para as “castigar”? Vai dar-me tecnologia e processos mais eficientes e eficazes? Vai promover a criatividade? Vai motivar? Seria bom, mas infelizmente, nada disso se vê…

  11. Pisca says:

    Cerâmica Valadares – 2 meses sem salário
    Ordem do Carmo – 9 meses sem salário

    Cambada de calões vão mas é trabalhar e em especial na 3ª feira de carnaval, há que produzir

    Era o que faltava quererem isso do salário, há que ser tudo “custe o que custar” temos que nos sacrificar pela Pátria

    Não é assim ?

  12. jorge fliscorno says:

    Quanto à tolerância de ponto, o meu argumento nada tem a ver com os feriados e produtividade mas sim com o facto de alguns trabalhadores terem ou não direito a mais um feriado quando comparados com os restantes.

    Se o governo fala em produtividade, isso é lá com eles.

  13. Uma decisão sem sentido no aspecto da produtividade, tomada em cima do joelho causando muita confusão e gorando expectativas, e que vai atingir apenas alguns, o que a torna uma medida odiosa. Não se pode estar constantemente a mudar as coisas ao sabor da demagogia ou humor do momento. Pergunto-me se Passos Coelho tem algum problema relacionado com a autorida ou com a sua afirmação, porque começo a ficar convencido que há problemas nessa matéria que ele tem que resolver e talvez necessite de ajuda profissional.
    Abraço do Zé

  14. Miguel says:

    Concordo plenamente com o Jorge Fliscorno.

  15. marai celeste ramos says:

    Productividade ?? não falaram nas chefias e no que fazem e como têm programa de gestão dos serviços pelos quais são responsáveis ou i-responsáveis – quem tanto fa já trabalhou numa repartição pública e olhou bem para cada director-geral e o que fizeram em cada DG onde foram postos pelos governos ?’ e quem compara com o privado é melhor não comparam o incomparável – vale sim a pena saber o que é um FP e quem nesles manda e como e poruê e como é – o resto é falacioso – ou então trabalhram em locais que eu desconheço e andei anganada todo o tempo em que fui FP – devo ser mesmo parva

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