E as pessoas?

austeridade

(latim austeritas, -atis)

 s. f.

1. Qualidade de austero.

2. Cuidado escrupuloso em não se deixar dominar pelo que agrada aos sentidos ou deleita a concupiscência.

3. Severidade, rigor.

austero |é|

(latim austerus, -a, -um)

adj.

1. Que é muito rigoroso nos seus princípios.

2. Rígido, severo.

3. Sério e grave.

4. Penoso.

5. Ríspido.

6. Sombrio, escuro.

Um homem austero é sério e rígido, de uma honestidade inflexível. Nos últimos tempos, austeridade tem sido uma palavra impropriamente usada: se é certo que entre aqueles que impõem medidas duras à Europa há inflexibilidade, a seriedade é-lhes estranha, porque não pode ser honesto resolver problemas de contabilidades privadas ou mesmo secretas, criando mais empobrecimento e mais insegurança aos cidadãos europeus.

A sociedade em que quero viver é filha de ideais muito antigos, nem sempre cumpridos e muitas vezes verbalizados. Sou um filho dos ideais da Revolução Francesa, sem a parte da guilhotina. Sou um filho dos ideais da Revolução Americana, sem a parte do extermínio dos índios. Sou filho de boas ideias e de ideais generosos, mesmo quando a sua prática foi, tantas vezes, pervertida. Há poucos dias em que não me sinta como um católico envergonhado com o Vaticano ou um comunista que sempre odiou o Muro de Berlim.

Esta Europa em que vivo não é o farol civilizacional em que me julguei razoavelmente seguro. É uma parte do mundo dominada por uma gente perigosa, gente sem alma, gente anti-social, porque este marialvismo que chama pieguice às queixas de quem é diariamente roubado é próprio de quem é anti-social.

Na Grécia, o parlamento submete-se às ordens de Berlim, prometendo mais austeridade, mais dificuldade, mais pobreza. Aquilo que foi aprovado ontem no parlamento alemão de Atenas prevê, entre outras coisas, a obrigatoriedade de despedir funcionários públicos, sempre por razões contabilísticas.

A direita limitar-se-á a dizer que é natural que assim seja, que tem de ser, que não há direitos adquiridos, que o mal está todo naquilo que é público. E as pessoas? Meros grãos de areia numa engrenagem em que banqueiros, empresários e políticos se governam. O resto é brincar ao Monopólio e ir à missa aos Domingos, deixando uma esmola ao mendigo providencial que existe para que o esmoler se sinta bondoso.

Entretanto, enquanto a direita engole uma hóstia devota, não perde tempo a pensar no funcionário público ou no operário gregos que irão ser despedidos e que voltarão para casa carregados de revolta ou de pieguice. A direita, ao sair da missa, limitar-se-á a trocar palavras graves e descontraídas como inevitabilidade ou emitirá um conselho sisudo sobre a necessidade de trabalhar mais. Perder tempo a pensar nas pessoas, nos seus problemas? Isso seria uma fraqueza.

Comments

  1. Caro António, excelente texto! Incisivo q.b.! Adorei a frase “O resto é brincar ao Monopólio e ir à missa aos Domingos”!

  2. e as pessoas no haiti?
    e as pessoas cujo único laço de ordem é um grupo islâmico somali?

    e as pessoas que continuam a morrer de frio e tuberculose numa europa farta?

    na europa em que diz viver não há grande diferença para essas pessoas…passam é a ter mais companhia

    e com estruturas turísticas no caos desde a tunísia à grécia…e com economias semi-paralisadas num mediterrâneo em mau-estado

    as pessoas…geralmente ou saqueiam o que podem ou lixam-se

  3. não há sol na eira nem água nos nabais

    e se não chover até 25….e pela alta pressão que não se mexe nã chove

    vai faltar alface e água a muita gente…mas a pessoas al facinhas nan….c’est la vie em rouge

  4. António Fernando Nabais says:

    #2 Nada a opor, tudo a denunciar, com certeza.

  5. Não esquecer que são esses ideais que deram origem ao “estúpido século XIX”, sendo que este lembrete, embora curto, não é gratuito.

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