O tratamento anterior não funcionou

Praça Syntagma (2012-02-12)

O tratamento anterior aplicado à Grécia não funcionou. Por isso, vamos repetir a dose e vamos esperar que funcione. Este será o terceiro pacote de austeridade. É de doidos, é óbvio que não vai funcionar.


 

O que o governo grego tenta aprovar são cortes equivalentes a 7% do PIB. Num país em recessão vão:

  • Cortar 150 000 empregos na função pública, 15000 já este ano;
  • Baixar o salário mínimo em 20% (32% para os menores de 25 anos);
  • Corte das pensões;
  • Congelamento dos salários até 2015;
  • Contratos colectivos de trabalho com mais de dois anos tornados nulos;
  • Aumentos de salários e pensões indexados à inflação suspensos até o desemprego cair abaixo dos 10% (está acima dos 20%);
  • Corte de 4 mil milhões nos gastos do estado;
  • Fusão de todos os fundos de pensões auxiliares;
  • Venda de seis companhias do estado, em particular companhias de energia e refinarias.

E muito mais, os deputados helénicos votaram 650 páginas de medidas, tiveram menos de 24 horas para as lerem e interpretarem, num processo ilegítimo e muito provavelmente inconstitucional.

Espera-se com estas medidas que haja uma contracção do PIB de 5% em 2012, o que não é para admirar, e o retorno ao crescimento em 2013 (Como? Porquê? – Magia?). Estão a brincar, não espanta que Atenas esteja a arder.

A solução parece ser sempre a mesma. Se temos um país endividado, com um crescimento que torna impossível o pagamento das suas dívidas então o tratamento recomendado é aumentar a dívida do país, aplicar políticas recessivas que o impeçam de crescer (e por isso vir a ter alguma hipótese de pagar as dívidas) e aplicar medidas de austeridade. Estas medidas de austeridade são, muitas delas, puramente ideológicas, quase todas dogmáticas e, na presente condição, inúteis para ultrapassar a crise.

Ao longo deste último ano as medidas impostas pela Troika à Grécia resultaram em 60000 falências de PMEs desde o Verão, as receitas do IVA baixaram 18.7%, as receitas gerais de impostos desceram 7%, o rendimento de 90% dos agregados familiares mais pobres desceu cerca de 45% apenas em 2011. O sistema de saúde grego está a desaparecer, o tecido social está a ser destruído é quase impossível encontrar emprego. É claro que daqui resultou um défice maior, aumento do desemprego e maior incapacidade do estado grego em cumprir o primeiro “plano de salvamento”.

Chegados a este ponto temos de nos perguntar, estes tipos serão estúpidos e não saberão o que estão a fazer? – Ou, pelo contrário, sabem perfeitamente o que estão a fazer, sugando do povo grego, português, romeno, etc, tudo quanto podem, roubando-lhes os poucos activos que lhes restam? – Condenando esses povos à miséria e ao serviço da dívida.

Não se esqueçam, em Portugal vai acontecer o mesmo.

Comments

  1. é curioso que apresentem a saída do euro e as suas consequências, desemprego, falências, recessão, empobrecimento e o caos exactamente como o que está a acontecer agora.

  2. Carlos Pinheiro says:

    Como é que isto alguma vez pode funcionar? Nem os mercados querem que funcione, pois se quisessem não estavam a cobrar juros de 189%. Mas esses juros alguma vez podem ser pagos?
    Há que diga que isto é o principio da 3ª Guerra Mundial, só que desta vez artilhada de outra forma. Não vai haver feridos nem mortos em combate. O que vai acontecer é que as pessoas morrerão à fome, à mingua por falta de condiçõs para se tratarem e assim os mercados vão matar muitos milhões de pessoas por enquanto saudáveis, se entretanto as pessoas não se revoltarem e não começarem a comer os ricos para matarem a fome.

  3. Fernando says:

    “Ou, pelo contrário, sabem perfeitamente o que estão a fazer”

    Ainda está nesta fase?

  4. Isto não tem nada a ver com o Euro ou com os mercados. Isto tem tudo a ver com o resgate encapotado que os alemães, franceses e britânicos querem fazer aos seus próprios bancos. Que se danem as pessoas.

    Notem que isto nem sequer tem nada a ver com a chamada “crise da dívida soberana”, há uma outra crise muito mais profunda e muito maior (ordens de grandeza maior). Essa crise maior é a crise do próprio sistema financeiro mundial que atingiu uma situação insustentável devido à desregulação nos últimos 30 anos.

    Vejam por exemplo esta infografia que ilustra a dívida dos PIIGS. Atentem na dívida privada (2910 mil milhões de euros) versus dívida soberana (560 mil milhões de euros). Mas nem isto é o fim da história, os créditos concedidos pelos bancos aos PIIGS não são mais do que uma pequena fracção do crédito total, crédito esse que nunca será pago. Os bancos estão efectivamente falidos.

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