No texto anterior, com a ajuda do AO90, Nota Explicativa incluída, ficou demonstrado que o dito AO90 não foi suficiente para alcançar a desejada uniformização ortográfica, o que, só por si, deveria ter sido suficiente para desencorajar tão escusado trabalho.
O texto que hoje publico serve para confirmar aquilo que há muito sabemos: mesmo que tivesse sido possível unificar a ortografia, continuaria a haver diferenças sintácticas e semânticas que continuariam a inviabilizar que um texto pudesse ser escrito da mesma maneira em Portugal e no Brasil.
Para ilustrar esse facto, já publiquei este vídeo e este texto. A consulta desta pequena lista serve como confirmação das muitas diferenças lexicais que se verificam entre o Português do Brasil e de Portugal.
No seu livro Demanda, deriva e desastre, Francisco Miguel Valada faz uma análise das modificações de que seriam alvo os discursos de Lula da Silva e de Cavaco Silva, proferidos na inauguração da exposição Um Novo Mundo, Um Novo Império – A Corte Portuguesa no Brasil, em 2007, tendo demonstrado que, mesmo com a aplicação do Acordo, não seria possível a existência de um texto único, devido a diferenças como a colocação de alguns pronomes pessoais na frase ou a supressão do artigo definido antes do determinante possessivo. Para melhor ilustração das diferenças, transcreverei, em primeiro lugar, uma parte do discurso de Lula da Silva, tal como foi proferida:
Nós, brasileiros, compartilhamos esse rico patrimônio do idioma e nos associamos a esse forte sentimento de família, um laço indissolúvel que nos une a Portugal.
Seguidamente, veja-se como, seguindo o Acordo, e na análise de Francisco Miguel Valada, ficaria este texto. Aquilo que for especificamente brasileiro ficará entre parênteses curvos e entre parênteses rectos ficarão os elementos da norma portuguesa:
Nós, brasileiros, compartilhamos esse rico (patrimônio) [património] do idioma e (nos associamos) [associamo-nos] a esse forte sentimento de família, um laço indissolúvel que nos une a Portugal.
Qualquer um que conheça o AO90 e que possua um conhecimento médio das características sintácticas e lexicais do Português do Brasil pode dedicar-se a este exercício, bastando escolher um texto ao acaso.
Conclui-se, portanto, que um texto escrito por um brasileiro e por um português será sempre diferente, em termos sintácticos, lexicais e – pasme-se! – ortográficos. Para que serve, então, o Acordo Ortográfico?
Texto 4 de 8. Contra o Acordo Ortográfico
espero que não se mutile a lingua que está no estádio mais perfeito jan«mais atingido pois que já tive 2 alterações ortográficas mas sem trapalhices à brasilês e as eis colónias portugueses, quem fala e escreve, fá-lo na perfeição – a inutiliade de perder tempo para agradar não sei q qiuê e quem e inulizar milhes de milhões de euros a mudar todos os docuemtos já consagrados e ainda obrigar os escritores em geral a gatafunhar e a atrofiar as crianças que começam a aprender a ler e escrever – quem não sabe fazer nada faz rotundas
Acho que preferia as rotundas, com um jardinzinho no meio ao menos são mais bonitas.
Em todo o mundo as rotundas servem para tornar o tráfego mais escorreito, eliminando (e muito bem) os perigos dos cruzamentos. Em todo o mundo, excepto, é claro, Portugal. Näo é por culpa das rotundas, mas sim pelos péssimos condutores.
Relativo ao artigo, o AO90 serve para… olha, pelo menos serve para separar as águas de quem realmente defende a Língua Portuguesa e descredibilizar os “iluminados” vendidos tipo Malaca Casteleiro, que devem ter recebido grandes luvas para aprovar aquilo. Se o AO90 tivesse consistência interna, eu seria dos primeiros a apoiá-lo. Assim como foi feito… nem morto apoio a poia!
(este texto foi escrito de accordo com o que me apetece, mas pelo menos a grafia é internamente consistente)
Bom post. Obrigado pelos seus esclarecimentos. Concordo inteiramente com os seus pontos de vista.
Reparei, todavia, que este assunto só mereceu o interesse de um número reduzido de comentadores, o que não prenuncia a vinda de bons ventos, sobretudo para quem, como é o meu caso, é contra este des(acordo) que dá pela sigla AO90.
#4
Os textos têm tido um número razoável de leitores. A luta contra o AO tem de ser encarada como uma maratona e não como uma corrida de velocidade.
“não há uniformização da escrita”
e… NÃO À UNIFORMIZAÇÃO DA ESCRITA!!!