Funcionários Públicos:

Existe uma direita, por vezes acompanhada de certa esquerda envergonhada, que gosta de encher a boca com os funcionários públicos e apelidá-los a todos de “meliantes”. Um discurso gasto e repetitivo que esconde uma outra realidade.

 

Nunca fui funcionário público, como nunca fui funcionário por conta de outrem. Já perdi a conta aos anos que levo a trabalhar e sempre lidei com uns e outros. No funcionalismo público encontrei dos melhores e no sector privado idem. Não sei se foi por acaso ou mera sorte mas nunca notei que no sector público existissem mais incompetentes que no privado. Da minha experiência direi que é “ela por ela”, ou seja, o número de incompetentes com que me cruzei no público, uma minoria, é idêntica à mesma minoria que encontrei no privado.

 

Nos últimos anos, por força da minha profissão, tenho lidado com diferentes sectores do serviço público. Não preciso de fazer um grande esforço de memória para afirmar que em mais de 70% dos casos encontrei funcionários públicos competentes e dedicados. A exemplo do que vi e vejo no sector privado. Bons profissionais e maus profissionais encontro em todo lado. Por isso mesmo, esta conversa negativa recorrente contra o funcionalismo público já cheira mal.

 

Quem ouve certas almas fica com a ideia que a culpa do estado a que chegou o país é dos funcionários públicos. Ninguém se lembra ou faz um ligeiro esforço de memória para recordar (ou não interessa) que boa parte dos cargos de chefia no Estado, aqueles cargos que realmente decidem em matérias fundamentais para o presente e futuro do país, foram escolhidos e nomeados pelos diferentes actores políticos. Seja na Administração local, seja na administração regional ou central. É na Estradas de Portugal, nas principais empresas de transporte público, nas diferentes Comissões de Coordenação Regional, nas Direcções Regionais disto e daquilo. Tudo nomeações políticas. Desses, ninguém fala nem da responsabilidade dos mesmos em matérias de gestão irresponsável. Um verdadeiro manto de silêncio.

 

Os funcionários públicos, nos últimos anos, sofreram cortes atrás de cortes nos seus vencimentos, nas suas regalias e nem por isso os serviços pararam. Nem a qualidade piorou. Por isso mesmo, estes constantes ataques são uma estupidez. O país precisa, igualmente, dos seus funcionários públicos nesta missão de recuperar Portugal. Estes constantes ataques de certa classe política só servem para desmotivar e, pior, criar um clima de revolta desnecessário e contraproducente. Não perceber isto é trágico. Continuar a bater na mesma tecla é coisa de meninos, de garotada. Não é assim que se faz a mudança. Todos somos poucos para mudar o rumo do país.

 

Tenho em casa uma funcionária pública. Raro é o dia que não trabalhe mais de 12 horas. Raro é o fim-de-semana que não trabalhe. Sem qualquer ganho financeiro suplementar. Conheço, nos vários locais por onde passei e ainda passo, centenas e centenas de exemplos idênticos. Quando ouvem estes dislates ficam sem palavras. Sobretudo, por saberem que é essa gente que, quando no poder, costuma premiar os incompetentes e ignorar os competentes…

 

(publicado originalmente no Forte Apache)

Comments

  1. Bruno says:

    Belo post e muitos parabéns.

  2. marai celeste ramos says:

    Fernando Moreira de Sá – não se esqueça por favor de dizer que todo e qaulquer DIRECTOR geral é sempre e só de nomeação política e que ao “chegar” muda todos os directores de serviço que por sua b«vez at+e mudam os chefes de Divisão pois a CONTAMINAÇÂO começa por cima e vai até ao limite – não esqueça ainda que em cada ministério e, dentro de cada um, oa Decretos-Regulamentares não são UM só – cada Direcção geram tem o seu pelo que as promoções de careirra podem ser por concurso público (se houver e se o DG quizer abrir concurso para tos ou são para meter no quadro quem quizer e se tiver (ou não) lugares vah«gos no Quadro) ++++++ etc – não é só ao nivel de CM ou de CCR que são nameções p+olíticas – os partifos políticos são todos POLVOS – haver bons funcionários público é VERDADE mas há os contamináveis porque atéprecisam de sobreviver e há os que como antes antes quebrar que torcer e que, por isso, paga o preço – o que é visto por quem USA os serviçlos públicos só vê a casca da noz – mas como sabe que ao abrí-la, o fruto escondido pode estar mirrado e preto – Claro que há bons e muito bons FP – senão o país nem sequer existia nem os privados que TODOS, dependem desses (alguns) serviços para ratificar a sua existência e legalidade – já emaginou um país só com SERVILOS PRIVADOS ??´É uma IMPOSSIBILIDADE – e fncionários govermanentais (nem se chamam funcionários) são outra “casta” – um DG tem hierarquicamente acima um secretário de estado e ministro – o DG é charneira e no Ensino não sei como são as classes hierarquicas – mas creio que em Fraça não se passa o mesmo que aqui e por isso funcionam em contiuidade – aqui nem funcionam já que cada DG leva um ano para perceber o que vai encontar e o que lhe compete fazer e quantas vezes o seu papel é de TRAVÂO apenas e nem se mostra e boicota a quliae de algum esperto de algum tecnico de uma DG que quer fazer mais e melhor – truncam-lhe a vida

  3. foi necessário criar esse ressentimento por três razões muito práticas:
    1- concretizar o despedimento e diminuição salarial na função pública. E com metade do país contra a outra tudo isto vai sendo conseguido sem grande contestação
    2- criar o ambiente necessário ao fecho ou privatização de serviços tradicionalmente públicos.
    3- abrir caminho á diminuição das condições laborais no privado, sendo que a função pública sempre foi a bitola por cima, que definia o direito do trabaho.

    o mito da incompetência e das regalias é apenas um argumento inteligentemente legitimador destas três intenções. Pena que muita gente tenha mordido o isco.

  4. Tito Lívio Santos Mota says:

    Apetece-me dizer “Até que enfim alguém com juízo sem ser funcionário público”.
    Mas somos muitos a pensar assim.
    Tanto mais quando se trabalhou num sector privado onde o despedimento “não era problema” e se encontrava a mesma carga de competentes e incompetentes que em qualquer outro setor de atividade.

    Alguém acima lembra as nomeações políticas dos “diretores gerais”. Se se instituírem os despedimentos sem justa causa no setor público, é certo e sabido que todos os funcionários passarão a ser nomeados por cunha ou se tornarão servis defensores da “situação” sem qualquer margem de manobra para recusar ou denunciar seja o que for.
    Foi aliás por isso que se tornaram os funcionários públicos “inamovíveis”.
    O que faz falta é que os Diretores Gerais também sejam nomeados por concurso público e de forma definitiva.
    Mas, e a apregoada “mobilidade”?
    Questão de se abrirem concursos quando é necessário e não quando se precisa de meter amigos ou concertar tachos.

    Mas isso…

    Tito Lívio Santos Mota

  5. Por acaso hoje num serviço público, com lugares a concurso adorei ouvir dizer olha o cu daquela, tão novinhas…gosto particularmente dos serviços que imprimem circulares e curriculos vitae ao monte para preencherem uma vaga temporária por licença…

  6. Tal como no tempo do Salazarismo vende-se o corpo ou partes dele para ficar num lugar, ter direito a um recibo verde, enquanto alguém recupera de uma depressão ou de um enfarte de estar sentado 8 horas por dia com 5 pausas para café,cigarros e almoço…

    e não digo mais que já fiquei sem o lugar….a con tece né?

  7. António Fernando Nabais says:

    Muitos parabéns, Fernando. Não te cumprimento por elogiares os funcionários públicos, mas porque o que afirmas neste texto é o que deveria pensar qualquer governante com o mínimo de bom senso e o mínimo de bom senso obriga a afirmar que bons e maus trabalhadores existem no sector público e no privado. Mas há mais: seja em que sector for, por muito boa vontade e dedicação que exista, não há aumento de produtividade sem motivação, como não há aumento de produtividade só porque se passa mais tempo a trabalhar. Que um texto destes saia da pena de alguém do teu quadrante ideológico é uma lição para intolerantes de esquerda ou de direita.

  8. muntos parabéns, Fernando. Não te cumprimente por loggiares como os maçons os funcionários púbicos, mas porque já fui um …e descendo de uma longa linhagem de funk cio nários infelizmente todos reformados…com reformas de miséria
    nenhuma chega à reforma do presidente de todos os funcionárrios
    a maioria fica em metade ou menos…

  9. ter inveja da própria famelga é muto feyo…

    como o barata feyo ou o mARIAno feyo…funk cio nários ao serviço da nação-mação

    a bem da nação

    exterminem a canalha inbejosa como yo…mim até ayuda e comete sepuku já já…

  10. tenho é de esperar pelo dia da greve geral pra cravar uns trocos

    hoje fui visitar o funcionalismo praticante e eles acharam mal…

    queu tivesse paciência que eles tão stressados e há muyto curricula vitinhus pra imprimir

    qualquer dia leêm-nos

    talvez prá semanas…ou pró mês

  11. maria says:

    Caro Fernando
    Parabéns pela sua assertividade.

  12. João Brazão says:

    Sr. Fernando Moreira de Sá, apoio por completo o seu direito de manifestar a sua opinião e sou obrigado a concordar consigo em certos aspecto, dos quais não vou perder o meu tempo em mostra-los, pois é obvio que os funcionários públicos também são humanos. O problema é que eu não consigo compreender, como é possível trabalhar bem, no meio de tanta corrupção e desleixo, que pelo menos, na terra onde eu vivo, assisti muito no passado e continuo a assistir no presente, embora com menos intensidade, depois de tanta polémica. Para finalizar, conheço pessoalmente funcionários públicos, que passaram muitos anos da sua carreira, a receberem o seu ordenado a custa dos contribuintes e a se gabarem que ganhavam mais dinheiro “ fora” do que “dentro”, pelo que concluo que você deve estar a se referir mais a casos pontuais do que a generalidade.
    Pode ser que eles agora estejam a trabalhar melhor, mas mal tenham uma brechazinha, volta tudo a ser o que era, é só esperar para ver.
    Passe bem e continue a dar a sua opinião, porque por enquanto não é crime.

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