O texto comentado já tem uns anos, mas serve para ilustrar alguns dos mitos criados pelo Acordo Ortográfico, que continuam em vigor.
Em declarações a este portal, Carlos Alberto Xavier, então assessor especial do ministro da Educação do Brasil, defendeu o Acordo Ortográfico:
Para facilitar a cooperação na África e no Timor, por exemplo, é fundamental essa ‘universalização’. Não dá para uma professora dizer ‘dictado’, seguindo um livro de Portugal e ‘ditado’ quando utilizar um livro do Brasil.
Não comento a possível insinuação machista ou feminista que reserva a docência às mulheres, mas a verdade é que um assessor especial de um ministro da Educação que queira pronunciar-se sobre as diferenças ortográficas não pode cair no erro de afirmar que em Portugal se escreva “dictado”.
Para além disso, seria interessante que o mesmo assessor especial do ministro da Educação explicasse o que deve fazer “uma professora” quando, após a aplicação do AO, deparar com diferenças como antônimo (Brasil)/antónimo (Portugal) ou recepção (Brasil)/receção (Portugal). Aproveitando, ainda, o texto do portal em que surgem estas declarações, o que deverá a mesma professora quando tiver de escolher entre registro (Brasil) e registo (Portugal)? Finalmente, como é possível uma professora conviver com expressões como “no Timor” (Brasil) e “em Timor” (Portugal)?
Quanto à afirmação de que “a existência de duas ortografias oficiais dificulta sua capacidade de difusão internacional.” seria importante que o assessor especial do ministro da Educação tivesse explicado como conseguiu o Inglês atingir essa mesma capacidade, tendo em conta tantas diferenças também ortográficas.
É, ainda, curioso confirmar, no mesmo texto, que o AO deveria ter sido ratificado por oito países, mas, para “agilizar a aprovação”, permitiu-se que o número passasse para três, o que não é mais do que a universalização do chico-espertismo, essa característica tão portuguesa.
Não sei se conhecem o teletrabalho através do clickorker.com?
Pois eu, como estou desempregada, inscrevi-me no site, e no processo de avaliação em redactora de textos portugueses consegui 100%. Acontece que agora me propõem, já como trabalho, a elaboração de textos para promoção de ofertas da Groupon para o mercado brasileiro. Não sei se serei burra ou não, mas fiquei bloqueada e não consigo desenvolver os textos porque não me sinto segura a escrever para brasileiro ler!!
A Ana ainda esta inscrita ?
Pois, Ana, a verdade é que continua a haver diferenças ortográficas entre Portugal e o Brasil, já para não falar das lexicais e das semânticas. O problema é que o AO veio vender a ilusão de que é possível escrever textos iguais para os dois países. Muito provavelmente, isso nunca será possível. Seria muito interessante, caso o deseje, relatar a sua experiência.
#3
…das lexicais e das sintácticas, queria eu dizer.
Caro António,
Pois a minha experiência acaba por ser uma não-experiência! 😉
Quando me inscrevi no clickworker para redactora e correctora de textos em português, não pensei que iria ter que escrever e corrigir textos para o mercado brasileiro. Pois os textos consistem em publicitar de uma forma apelativa os descontos do Groupon. E o meu drama é que começo a escrever o texto, e sinto que qualquer brasileiro que o vá ler o vai achar no mínimo insípido, pois comparando a minha escrita com a de alguns sites e blogues brasileiros, noto que não temos o mesmo “ritmo”! E sem querer ser chauvinista, acho que os textos que me dão para corrigir são bastante pobres e fico um pouco perdida e frustrada!
Se eu ler um livro em brasileiro que o traduziu do inglês, por exemplo, não sei ler – prefiro e percebo o riginal
mas percebendo o brasileiro falado já não percebo o brasileiro escrito- então que fiquem com a lingua desles e nos deixem em paz com a nossa lingua-mãe – já basta de abastaraamentos e que os brasileiros façam o que querem da sua lingua e me deixem em paz poruqe, como diz, não têm conteúdo, e a minha lingua tem sempre mesmo a escrever parvoices pois que á uma das linguas mais versáteis e belas do mundo pois que as 4 que falo ()e escreo e leio) me chegam para reconhecer as diferenças fundamentais – não me lixem a lingua – ao menos isso – é a minha pátria e de pa+ises lusófonos que falam e escrevem tão bem como eu, pelo menos e é belo ouvir eta lingua em espaços africamos e goeses
Era director de equipa de programaçäo para um dos Nokias e, como falante de português, perguntaram se eu näo poderia dar uma mäozinha na verificaçäo ortográfica da versäo portuguesa. Aceitei.
E o verbo “aceitar” foi logo problemático. Ao ler “aceito” e “aceita” (consoante o género) em vez de “aceite” comecei a marcar como erro. Mas como eram tantos, mas tantos casos, que perguntei a brasileiros “Entäo mas lá na colónia vocês näo usam ‘aceite’ no particípio passado?” e eles “Näo, ‘aceite’ é só aquele negócio de Direito Comercial.” E logo aprendi. E aceitei, até faz mais sentido.
Quanto à Ana, recomendo que escreva na mesma, com o ritmo a que se habituou. Se näo quiserem, pedem a outro; se quiserem, pode continuar!!!
Conclusão; os portugueses acham que são mais estúpidos que os outros que conseguem ler e aceitar versões diferentes sem problemas.
Quem fica a ganhar? Os maus tradudores que inventam quintais com base na auto-declarada limitação intelectual dos portugueses que só conseguem entender “a sua” versão do idioma comum.
O AO90 tem tido outros defensores notáveis. Um bom exemplo é Celso Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores do Brasil. A 2 de Novembro de 2007, em declarações à Lusa, afirmou: «”Para que possamos todos trabalhar em conjunto, o acordo é fundamental. Como podemos trabalhar se um diz actual e o outro, atual?”… Sim, como é possível trabalhar em conjunto com diferenças destas? Afinal, o facto de uma “laqueação” (em Portugal, só pode ser das trompas…) ser feita no Brasil numa fábrica de móveis (onde fazem a nossa “lacagem”…) já nos permite “trabalhar em conjunto”…
O melhor que os brasileiros têm a fazer é reaprender a língua-mãe portuguesa e depois, logo se vê.