O passadismo nacional.

Quero tanto saber de Olivença, como de Zeca Afonso, ou seja muito pouco. Ambos os assuntos me soam vagamente passadistas: peças observadas do ponto de vista de um antropólogo ou um historiador. Ou talvez, mesmo, de um simples visitante de museu. Parece haver nas elites portuguesas, electrizadas ocasionalmente com assuntos de que apenas sabem falar pela rama, uma capacidade inata para se agarrarem a momentos do passado que logo transformam em coisas idolatradas. Vão transitando de anacronismo em anacronismo a tentar encontrar algo que os conforte para as circunstâncias do presente. Sem querer generalizar (mas generalizando) os monárquicos agarram-se à questão de Olivença e alguns de Esquerda, ao Zeca Afonso.
Aos primeiros sugiro a leitura atenta e repetida da História de Portugal – isto para não os obrigar a saber mais sobre a formação dos países, sujeitos a flutuações de propriedade. De resto, um bom monárquico mais depressa faria jus ao dístico que corria de boca em boa na Primeira República: antes um Afonso XIII que o Afonso Costa. Meus caros, a única guerra que força a nossa preocupação, hoje em dia, não é só de laranjas. É de laranjas e rosas. O resto é estória.
No concernente aos segundos lamento a proverbial incapacidade de se renovarem. É o triste síndrome marxista. Ainda houve quem tentasse adoptar os Deolinda como grupo de folk-intervenção, mas debalde. Zeca Afonso é um homem de um tempo. Duvido que o seu género singrasse nos dias de hoje, em melodia ou em conteúdo. Ponham-no a “tocar” numa sala cheia de adolescentes e procurem reacções.
De resto, o que será que o José Afonso clandestino pensaria dos assuntos fracturantes que fazem as delícias de uma esquerda actual? por esta entrevista não é claro, mas creio que seria uma desilusão para muitos.
Uma coisa é certa: já passou o tempo de qualquer uma destas cantigas.

Comments

  1. Concordo inteiramente.

  2. Observador says:

    Meu caro,

    O sr. não deve querer saber de nada.Nnem da sua existência, ou insignificância!…e, se quiser apostar, vamos imaginar que após 25 da sua morte, alguém se lembrará da sua passagem por cá!…

    O Zeca, foi um Senhor no seu tempo. E, não foi noutro, porque lá não chegou.

  3. eyelash says:

    comentários para quê?!
    “os cães ladram, mas a caravana passa”

  4. Fernando Lacerda says:

    Sr Nuno, apesar da sua sapiência, permita-me que lhe diga que enquanto houver VAMPIROS, (sabe como se comportam?) , Zeca estará sempre presente.
    Fernando Lacerda

  5. O “cidadão” Nuno “destila juventude” por todos poros… Parabéns, meu caro, seja feliz…!

  6. Meus caros, se calhar um bocadinho de educação não fazia mal nenhum. Também não concordo com o post – a modernidade da música de José Afonso é bem visível ainda hoje na forma como influencia os músicos actuais – mas isso não é razão para insultar o autor. Digo eu…

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