Que diferença faz uma vagina?

Nas vésperas do Dia Internacional da Mulher, pode parecer que vou cometer a heresia de criticar algumas mulheres ou uma certa visão sobre as mulheres, mas, na realidade, vou escrever sobre o medo que temos de confirmar o lado negro da nossa História.

O politicamente correcto é mais uma importação dos Estados Unidos que nos chegou juntamente com os hambúrgueres e muitas outras coisas prejudiciais à saúde e o mesmo país que dizimou os índios chama-lhes nativos-americanos, numa espécie de expiação tardia, pagando em moeda linguística o que roubou em vidas impagáveis.

A preocupação com a susceptibilidade alheia ou o medo de descobrirmos que dentro de nós está algum monstro inesperado leva-nos a tentar calar a História que está marcada nas cicatrizes da língua e da linguagem que somos porque fomos. Quando a História não se cala ou é mal entendida, há quem tente reescrevê-la, retorcê-la, fazendo de conta que a interpreta.

É verdade que a História é brutal e violentamente masculina e todas as mulheres que sofreram e sofrem com isso nunca poderão ser compensadas das violações de toda a espécie a que foram sujeitas, restando-nos a possibilidade de sermos todos melhores e mulheres no futuro.

Dilma Roussef, Presidente do Brasil, passou pelo Porto e aproveitou para comer bacalhau, o que é, evidentemente, notícia. Também é, infelizmente, notícia o servilismo de alguma comunicação social que reproduz o “Presidenta” com que a Chefe de Estado brasileiro exige ser tratada, agredindo, ao mesmo tempo, a língua portuguesa que nos é comum.

Esta ânsia de encontrar um feminino que não existe revela, afinal, um estranho machismo ao contrário, ou, para ser considerado completamente preconceituoso, um machismo de saias. Há uns meses, Pilar del Rio considerou “néscio” qualquer um que não lhe chamasse Presidenta da Fundação José Saramago. A todos os que queiram merecer conscientemente esse epíteto aconselho a leitura deste texto do Francisco Miguel Valada.

Comments

  1. Nightwish says:

    Um hambúrguer é apenas carne moída, não há necessariamente problema nenhum com isso. Os molhos e tal já é outra história… Mas existem perfeitamente hambúrgueres saudáveis e deliciosos.

  2. António Fernando Nabais says:

    Tem razão, houve alguma injustiça da minha parte, foi uma maneira redutora de fazer referência ao “fast food”. Um dia, para me redimir, escrevo sobre os h3 🙂

  3. marai celeste ramos says:

    Há mulheres muito parvas não por serem mulgheres mas por serem parvas e se querem ser presidentas se calhar nada mais têm a dar ao mundo senão isso mesmo um machista “a” em vez de “o” – abençada Natália Correia (que não era boa de assoar para quem se lembra da sua accção na AR e no seu botequim) e que fez uma bela reportagem a passar na Tv – a “Mátria” sobre as grandes mulheres portuguesas – raínhas (actualmente há mais quem escreva sobre o mesmo tema e acho bem) – Mas mulheres-homem, é pior do que trangénicos e Golde Meyr é também alguém para esquecer. No entanto é agora “a vez delas” e muitos homens sabem isso e o aceitam com inteligência e até valorizam as suas, e outras mulheres, já que não há só homens idiotas e criminosos, embora abundem ainda em excesso, esses “bushes” de má memória e derivados – Mas há mulheres-homem tipo transgénicos – E homens que também já olham para muitas como olham para um ser humano ser precisar do “o” e do “a” – abençoados já que assim preparam os meninos e meninas que hão-de seguir a vida do todos e espero que não esqueçam os direitos de todos os animais e +plantas do planeta, da água e da VIDA pois, estes, estão-se nas “tintas” para o “a” e o “o” e são apenas vida da VIDA

  4. marai celeste ramos says:

    E já agora quem teria sido para a economia mundial o sr Strauss-Khan que envolvido em mulherenguices foi apeado do FMI – Foi grave porque vivemos nas virtudes públicas e vícios e pecados privados, alguns que vão sendo condenados publicamente pois que tdos se lembrarão dos “casos Profumo” , e tem mesmo que ser, mas quem é Christine Lagarde, tão masculinamente escorreita e aparentemente diferente do antecessor, não guardará ela discretamente outros pecados “públicos” ?? Pois vivemos num mundo imperfeito em que olhamos os que andam lá por cima a derramar as suas convicções cá para baixo e, afastem-se, que essas “viscondessas” andam por aí a fazer não sei o quê, inúteis e pelo menos “feias” e esperamos e precisamos de gente bonita não por fora, mas que emanem a sua grandeza como pessoa e se perceba que dão o seu lelhor pra o bem comum a partir do luhar que lhe deram ou conqueistaram (de preferência) – Sempre foi difícil à mulher sair do anonimato e reacato do “lar” e essa é a história do patriarcado, mas só saindo para a “arena” poderemos avaliar quem é quem e para que serve, mais do que mudar o “o” em “a” porque, não preciso, obrigada – Queremos, homens e mulheres, muito mais do que isso – queremos pessoas sem “o” nem “a” – só pessoas – queremos (quereria eu) “Natálias Correia e Lurdes Pintassilgo” que nada enjeitavam do seu ser e se devotaram ao serviço e bem colectivo, sem atrapalhar o sexo nem os “os” nem “as” – só SER – serem – mas algo as derrotou – como a todos. Mas pior do que o machismo e marialvismo masculino é de facto o feminino e não gostaria eu de ver o mundo governado por mulheres – que horror – muito têm que andar – e quantas mulheres já há por aí a fazer avançar o mundo e não correm para se mostar na TV como professoras e investigadoras, discretas e sem exibicionismos de egos bacocos ? Se calhar a sociedade só vê o que se mostra em bicos de pés – mas lá iremos até precebermos que eles ou elas faráo pelo sociedade o que devem e para tal foram escolhidas ou decidiram por si, porque se notará até no nosso quotidiano – na carteira – no preço do sol e da chva e das batatas – notar-se-á em tudo e não somos estúpidos lá porque não temos a fotografia no jornal – mas não se educa a sociedade em tdo, por decreto – ou se aprende só, ou é artificial – mas se for para ben de todos, que venham as “quotas” para se andar mais depressa antes que morram mais sem ter podido ter alegria de existir como queizeram existir, por decisão em liberdade e não por filha-de-putice social e gangsterismo

  5. Excelente análise! Adorei a parte: “Esta ânsia de encontrar um feminino que não existe revela, afinal, um estranho machismo ao contrário, ou, para ser considerado completamente preconceituoso, um machismo de saias.”

    É exactamente isso que se passa com a grande maioria das mulheres. Lamentavelmente, falta-lhes siso para se aperceberem do absurdo da coisa!

  6. Eu sei que você é portuga e os portugas tratam as mulheres como se fossem sacos de cimento. É da cultura desconhecer que mulher precisa de carinho. Mas isso não é desculpa para ser mixógeno.Sua namorada e sua mãe podem te responder bem que diferença faz uma vagina se preferir ignorar as obviedades da história. Veja bem: tantas vaginas disponiveis e nenhuma serviu para chefiar o poder executivo portugues ainda.
    António Fernando Nabais, sera que te ensinaram na universidade que neologismo só existe no Brasil ? Presidenta, é um neologismo não um erro de ortografia.

  7. António Fernando Nabais says:

    #6

    Tenho demasiado respeito pelo ser humano, em geral, e pelos brasileiros, em particular, para cair na estupidez de deixar escapar generalizações idiotas acerca dos brasileiros, das mulheres, dos homens ou de qualquer outro grupo. Em Portugal, a violência doméstica exercida sobre as mulheres é, infelizmente, um facto tristemente comum, o que muito me penaliza. Folgo em saber que o Brasil não sofre de problema semelhante. De qualquer modo, agora que está estabelecido que sou um portuga, ou seja, um homem das cavernas, posso responder-lhe com outro à-vontade.
    Se tivesse lido o meu texto com atenção, teria percebido que não critico as mulheres, critico uma atitude que consiste em ter medo da linguagem, pensando que os problemas e os preconceitos desaparecem se se alterar essa mesma linguagem, ainda que, para isso, se cometam erros (e presidenta é um erro, o que teria percebido se se tivesse dado ao trabalho de ler o artigo para que remeto no final. O facto de haver dicionários que se prestam a servilismos idiotas não me serve de referência, a não ser que, por uma questão de coerência, passem a incluir “doenta” ou “agenta”, por exemplo. O futuro será, aliás, radioso, quando algum homenzinho complexado vier reclamar que lhe chamem “presidento”).
    Quanto à ideia de que o poder executivo em Portugal nunca foi chefiado por uma mulher, devia informar-se melhor antes de escrever, mas deixo-lhe aqui duas ligações:http://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_de_Lourdes_Pintasilgo e http://www.arquivopintasilgo.pt/arquivopintasilgo/Site/Default.aspx. Note que Maria de Lourdes Pintassilgo foi Primeira-Ministra, porque o feminino faz, aqui, sentido.
    Finalmente, você queria ter escrito “misógino”. Se me quer insultar devidamente, aprenda a escrever, pelo menos. E nem falo dos acentos em falta ou da vírgula a separar sujeito de predicado, coisas que já sabia anos antes de ter andado na universidade.

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