Apesar de me considerar uma pessoa bem-humorada, confesso que, nos últimos sete anos, tenho deixado de achar graça a piadas sobre os professores, esses calaceiros submergidos em férias em folgas. Já se sabe que há maus professores e também é verdade que qualquer mau professor é um professor a mais (ou a menos, conforme a perspectiva), mas as agressões à classe docente têm sido demasiadas e demasiado constantes.
No Público de hoje, lê-se um título bombástico baseado, segundo parece, em dados de um estudo da OCDE: “Professores com salários mais altos do que trabalhadores com a mesma qualificação”. Descubro, então, que sou um privilegiado e que, provavelmente, tenho andado a viver abaixo das minhas possibilidades, convencido de que ganho pouco e de que tenho perdido poder de compra, entre congelamentos vários, cortes nos salários e futuras supressões dos subsídios de férias e de Natal. Com esta minha tendência para Calimero, ainda acabo a estudar Filosofia em Paris.
Muito melhor do que eu alguma vez faria, o Paulo Guinote analisa o estudo: leiam aqui, aqui, aqui e aqui. Leiam, também, o que escreve o Palavrossaurus. Releiam este texto do João Paulo. Leiam muito, informem-se mais e, com todo o respeito por quem vive muito pior, fiquem a saber que não há dinheiro que pague o trabalho de um bom professor. Saibam, ainda, mais uma coisa: neste momento, o valor de um salário é apenas o suficiente para pagar o trabalho de um mau professor. Finalmente, fiquem a saber que, ainda assim, a questão salarial não é o principal problema dos professores.
Por vezes olha-se a floresta pela árvore – e eu vi ambas e talvez tenha visto por vezes confusamente e a quem alguma vez que aqui escrevi, exorbitei facilmente em certas “opiniões” peço desculpa – Tive sempre os melhores professores do mundo e, os que não foram, não retiram o brilho aos outros – E como dizia minha mamã, eu dou o que tenho e sou, e a Escola dar-te-á o “resto” – E como mal entendi na altura, mas aceitei o que me foi dito, embora mais tarde tarde tenha percebido que o melhor que tive, foi exactamente em casa que recebi e me fez ser o que fui, além de boa aluna, que talvez não fosse, sem essa raíz – Mas quem pode hoje dizer isso que eu digo – E, até se espera mais recentemente, que seja a Escola a dar, além de ensino e educação, o que em muitas casas não há, e tantos, até como eu, esperam que a escola se “exceda” atirando para cima dos professores, tantas vezes, a tarefa de super-heróis, que sucumbem. E não é em vão que esta é a classe profissional que mais consultas faz aos psiquiatras e tenha de “fugir” do seu ambiente profissional através de atestado médico, e que a tantas críticas se sujeitam – Mas foi memorável a greve gigantesca, e única, dos professores na avª da Liberdade em 2011 e que Deus ajude aqulees que por amor tentam fazer, dos meninos, homens para que o mundo mude
As estatísticas servem para mostrar o que queremos. Com os mesmo dados também se conclui que “Trabalhadores com a mesma qualificação de professores com salários ainda mais miseráveis”. E entäo se fizermos a comparaçäo europeia a nível de poder de compra…
Os professores portugueses deviam fazer greve durante uma semana inteira. Pelo menos.
Têm de ser os pais e mäes dos alunos, trabalham o dobro de um professor nórdico, e o MinEdu trata-os como refugo. Há que dizer basta. E nessa semana comem do quê? Se mais nada, façam sopa. É nutritivo. Ou preferem comer bifes mas serem psicologicamente massacrados?
Queria escrever algo, queria ter escrito algo, mas estou aqui a olhar para este espaço em branco sem conseguir concretizar uma frase de jeito. Penso, mas apenas suspiro. Haja quem entenda.
Obrigada.