A Direita e a escravatura

“O trabalho liberta” foi o terrível slogan usado pelo nazismo nos campos de concentração e parece ter-se transformado na solução que a Direita aponta para evitarmos a bancarrota, nomeadamente pela política de mais trabalho e menos salário como forma de aliviar o gigantesco défice interno e externo.  A tese tem como pressuposto que um Estado com menos encargos é capaz de se tornar menos pesado para a economia, assim lhe trazendo competitividade num contexto de mercado em auto-regulação por força da oferta e da procura.

O erro neste raciocínio reside em não se considerar se de facto existem iguais oportunidades quando se trata de competitividade. Vivemos num mundo globalizado ao nível da distribuição e assim continuaremos até que o petróleo seja absurdamente caro. Neste contexto, pouco importa que as matérias-primas, a capacidade produtiva, a oferta e a procura não coincidam geograficamente. Mas resumindo-se a globalização à distribuição, mão-de-obra barata e ausência de responsabilidade ambiental acabam por ser, de facto, os elementos geradores de competitividade, já que o conhecimento, a capacidade técnica e o capital circulam conforme as necessidades.

Quando a Direita apela ao sacrifício pessoal para que se equilibrem as contas, apenas está a comprar algum tempo até que o défice externo consuma novamente a poupança entretanto conseguida. É uma escravatura inútil e, enquanto a Direita permitir o dumping social e ambiental como factores competitivos, estes sacrifícios não passam de operações de implantação desse trabalho escravo na nossa sociedade.

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Segunda parte da série; primeira parte: A Esquerda e a escravatura

Comments

  1. maria celeste ramos says:

    Esta é outra guerra onde não existe menos crueldade, mas apenas diferente – alguns até se matam por não terem como viver – outros tornam-se animalmente violentos e matam familiares porque é sempre a familia que paga – outros ainda morrem de fome e de tuberculose que está a aumentar em Portugal, e já estava até irradicada – FOME – outra guerra cruel – fome que vem dirigida da direita cruelmente implantada, e com seguidores e mesmo acérrimos defensores – não sei se tanta guerra provocada pelos USA não tem relação directa com os meninos universitários que de vez em quando e com muita frequência, matam colegas e professores – a cultura da guerra e do direti de posse de arma desde criança, o que provocará em cada mente de menino ?Não sei, mas não são os “soladinhos de chumbo” com que dantes se brincava, embora haja mais sofisticadamente e aparentemente inocente, os jogos de guerra dos computadores e consolas – a omnipresença da guerra até para “brincar” – Até me apeteceria desejar que todos os meninos fossem maricas e brincassem com “bonecas” e se vestissem de cor-de-rosa

  2. na mouche. a certificação de produtos na eu deveria ser mais do que tudo a garantia das condições do trabalho e de protecção ambiental. tudo o resto viria por acrescento.

  3. Um aparte para a discussão – o poder tende a colar custo do trabalho à competitividade; só que já não estamos no séc.XIX. A produção nunca esteve tão mecanizada, dependente de custos energéticos, de transporte, de matérias primas. Quem já visitou uma fábrica de vidro (para dar só um exemplo) sabe do que estou a falar. Custo? Matéria prima e energia. Quantas pessoas se encontram quando visitamos uma fábrica que labora 24h/dia 365dias/ano? Qual o peso dos salários no custo do produto final entregue à porta do cliente?
    Esta discussão nunca interessou.
    Quando tínhamos dos custos de comunicações mais caros da Europa dizia-se ao povo: compre acções da PT para recuperar o que perde na factura.
    Para a Electricidade idem aspas.
    Assim não vamos lá…

  4. jorge fliscorno says:

    Interessante perspectiva, Cat. Mas quando vemos a produção na China, a perspectiva é outra. Vejo sempre uma quantidade de mão-de-obra enorme. Um exemplo? Veja-se o recente vídeo que andou a circular sobre a produção dos iPad.

  5. patriotaeliberal says:

    #0

    “A tese tem como pressuposto que um Estado com menos encargos é capaz de se tornar menos pesado para a economia, assim lhe trazendo competitividade num contexto de mercado em auto-regulação por força da oferta e da procura.

    O erro neste raciocínio reside em não se considerar se de facto existem iguais oportunidades quando se trata de competitividade.”

    Permita-me acrescentar outro “erro”:

    – o de se pensar que num país como Portugal, com altíssimo nº de desemprego, de pobreza, de clivagem enorme entre uma minoria que tudo detem e uma cada vez maior minoria de despojados e pré-despojados, com um sistema fiscal injusto, uma justiça para alguns, uma “comunidade” entre política e interesses financeiros (como lhe chamou JJP)…

    Falar-se em competitidade, como se estivéssemos num qualquer reino da Dinamarca, é atirar-se cimento (da construção civil parada) aos olhos das pessoas.

    E eu até já me protejo com estes óculos e lentes garrafais, imagino os que não têm dinheiro para óculos e novas lentes…eeehhhhhh

  6. patriotaeliberal says:

    Portugal faz parte da UE.

    Daí que apontarem-me constantemente o caso da China, torna-se monótono e não gosto.

    Não queremos a referência chinesa, mesmo quando nos tentam empurrar para ela, de um modo ou de outro.

  7. joao says:

    Falar-se de Holocausto e de escravatura para analisar o que se passa, em concreto em Portugal, não me agrada porque, sem querer, distorce-se a realidade e passa-se uma certa ideia de que é difícil combater-se este estado de coisas.

  8. jorge fliscorno says:

    Mas todos os dias, a cada contentor de produtos feitos em condições que rejeitamos, nos atiram com a competitividade para cima.

  9. jorge fliscorno says:

    Não pretendo abordar o holocausto mas sim a propaganda associada ao conceito do trabalho como saída para a nossa crise. Que curiosamente tem esse ponto comum no que toca à “libertação”.

  10. joao says:

    Sim, mas o que temos de fazer é contrariar a propaganda e fazer qualquer coisa.

    Quando colocarmos os esqueletos no armário talvez possa surgir alguma coisa boa. Afinal, somos a maioria, ou não somos? Ecoar o que nos impingem já chega!

  11. chatice_tuga says:

    Hitler, o Nazismo e a Esquerda

  12. A culpa de muito do descrito acima foi de quem negociou a abertura das fronteiras da Europa a produtos que têm custos de produção muito inferiores por via de externalizarem o custo de:
    -condições de HST,
    -protecção social dos trabalhadores.
    -cuidado com o ambiente
    -eficiência energética
    Ainda se pode corrigir isso, mas agora avolumou-se outro problema, o mundo financeiro modificou-se. O dinheiro deslocou-se das potências tradicionais para os BRICS (Brasil, Rússia Índia, China).
    Estes já não precisam de produzir e exportar para a Europa, porque já detêm títulos de dívida dos Europeus por um lado, basta-lhes ir cobrando as dívidas.
    Por outro têm grandes mercados internos para abastecer, as exportações são um extra, mas não fundamental para a sobrevivência.
    Por fim foram adquirindo as empresas multinacionais, de forma que participam nos dividendos e mantêm o dinheiro a fluir a seu favor.

    A solução:aliviar os impostos como o IVA e colocar taxas nos produtos segundo os recursos que são necessários para a sua fabricação. Assim se fomentava a re-industrialização da Europa e se mantinham os nossos empregos.

  13. Jorge, a China não produz TUDO o que consumimos. Comece a tentar descobrir de onde vêem todos os produtos que o rodeiam, todos mesmo. Vai ver como é deprimente ver que não produzimos nada; nadinha de nada; e pior; que há muita coisa que vem de países bem mais ricos do que nós.
    Em Portugal as maiores empresas são as ex-estatais monopólios cujas rendas e preços hipotecam o nosso futuro (energia; comunicações, etc…) e empresas de distribuição. Isto não é assim em todos os países.

  14. O trabalho liberta, mas o trabalho liberta o quê ou liberta do quê?
    A grande diferença entre a esquerda e a direita começa precisamente na origem, filosoficamente a esquerda considera o homem um ser bom por natureza enquanto a direita parte do princípio que o ser humano é mau por natureza e portanto tem de ser “domesticado”, sendo que o castigo é e sempre foi uma componente dessa “domesticação”, o trabalho, como realidade anti-natura, contrário à natureza humana, imposto de forma intensiva é com certeza um castigo, portanto para a direita o trabalho liberta do mal que existe em cada ser humano, ao ser forçado a contrariar a sua natureza, através do trabalho, o homem está a contrariar a sua natureza maldosa.
    A este princípio junta-se-lhe a magnifica observação de Darwin que nos diz que na natureza de que fazemos parte apenas os mais fortes sobrevivem e chegamos á doutrina em que alguns bem nascidos e superiormente mais fortes estão isentos do mal.

    Voltando ao presente, o facto de um país, o nosso país, quando em caso de necessidade de aumentar a produção apresentar como solução o aumento do horário de trabalho dos seus cidadãos revela um de dois factos ou até os dois em conjunto, que o país não atingiu o nível de desenvolvimento suficiente para que o aumento da produção não signifique mais horas de trabalho, pois um pais desenvolvido produz mais com a mesma carga horária, caso contrário os Alemães trabalhavam dia e noite ou perfilha a doutrina de que o trabalho liberta do mal, ou ambos.

    De qualquer das formas, a questão não é só de produção, é de distribuição da riqueza e de monopólios, concentração, apoderação dos meios de produção.

    Sinto ter de utilizar estes termos, mas é realmente assim que as coisas são.

  15. Tiro ao Alvo says:

    Este horizonte XXI anda enganado: ele ainda nem chegou ao XX, como se pode ver pelas posições que defende.

  16. Tiro ao alvo!

    Sim? Espera pela privatização da água e vais ver quanto custa um gole, depois de andares 10 horas á volta da nora.

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