Não percebo a que santo rezam os opinadores prostituidores da própria consciência na questão manhosa da judicialização da política. Só logram confirmar o quanto esta República está podre na medida em que se aceita como normal e não passível de escrutínio o rosário de crimes óbvios de um dado político amplamente sujo, mas elevado ao estatuto de santo benfeitor e mito intocável. Se esse político roubou descaradamente o erário público; se promoveu um sem-número de negociatas gravosas para as contas públicas; se arrastou com dolo o País para a bancarrota apenas pelo capricho de manter intactas as condições de reeleição, então os prostitutos da opinião que enfiem os seus pruridos quanto à suposta judicialização da política. Os políticos são cidadãos. Os políticos cidadãos convertidos em impunes e imunes são um escarro-em-gente nos demais cidadãos à sua mercê e não sujeitos à mesma obscena isenção arbitrária. Uma ditadura não faria pior. Não se pode despenalizar políticos que por incúria, malícia e avidez extremas em poucos anos explodiram com os equilíbrios financeiros de um Estado. Se esses políticos comprometeram gravemente o futuro dos nossos filhos, se de muitas maneiras lesaram o seu País, não é a pequena barganha das contas eleitorais que nos fará justiça. Democracia não é isto, ó vacas da opinião sagrada, cabras da cegueira facciosa! A lei que nos deveria fazer iguais, verdadeiramente iguais perante si, não passa de caricatura graças a delicados exílios e ainda mais delicados modos de defender o indefensável.
Pretender que a responsabilidade se esgota na eleição é o sonho de muito político. Mas porque hão-de os políticos serem diferentes dos outros profissionais? São pagos como qualquer outro gestor, têm responsabilidades como qualquer outro gestor, logo porque não hão-de ser responsabilizados perante gestão danosa como qualquer outro político? Por exemplo, porque há-de ficar impune a adjudicação do TGV Poceirão-Caia e das obras da Parque Escolar? É o próprio Tribunal Constitucional que diz ter havido ilegalidade, porra!
Exactamente. E andam as vacas sagradas da opinião publicada a pôr a mão por baixo dessa colecção de feitos asquerosos, meu caro!
Vacas e cabras … certíssimo! Só faltaram mesmo os Boys! 😉
A palavra-chave para manter “tudo com dantes, quartel-general em Abrantes”, é ser-se contra a “inversão do ónus da prova”.
Em 2005, o então presidente Jorge Sampaio, propôs a “inversão do ónus da prova”, nos casos de enriquecimento inexplicável, face aos rendimentos conhecidos e declarados por muita gente que se tem por boa. Então, apareceu logo um exército de gente iluminada, tipo Miguel Júdice, na época Bastonário da Ordem dos advogados, insurgindo-se contra essa eventualidade e a sugestão do presidente foi “arquivada”.
Como se pode ver, tudo se mantém na mesma, para mal das pessoas honestas (que são a maioria esmagadora do nosso povo), que nada teriam a perder se isso fosse implementado.
Daí resulta que nem o Isaltino cumpre a pena, nem os criminosos do BPN são constituídos arguidos… Uma desgraça.
Tudo muito bem, mas precisamos de justiça e tribunais a funcionar. Vejam casos Isaltino, BPN, Freeport, Face Oculta, e tantos, tantos, tantos outros.
Os políticos querem ser julgados nas urnas e na comunicação social, porque assim não vão presos nem têm que restituir o saque.
Muitos advogados são promiscuos, pois são deputados e criam leis que depois vão aplicar conhecendo todos os escapes e estratagemas que deixaram nos textos legais. Tentem ler um decreto ou uma portaria, comparem com os escritos de Fernão Mendes Pinto ou Fernão Lopes.
É mais fácil perceber um texto com séculos do que outro actual mas escrito propositadamente para ser pouco transparente!
Por isso não prendem Isaltino, não chegam a lado nenhum no Freeport, mas se for algum vulgar cidadão será decerto esmagado por toda a máquina judicial.
Acusem-se e julguem-se os políticos, se os tribunais não o fizerem o povo pode um dia decidir agir por si na praça pública, com resultados imprevisíveis.