Acordo Ortográfico: o que nasce torto nem a CPLP endireita

No dia 30 de Março, os Ministros da Educação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) reuniram-se e, entre outros assuntos, abordaram, também, a questão do Acordo Ortográfico de 1990. A Declaração Final pode ser lida aqui.

O primeiro aspecto a merecer destaque é o facto de o texto respeitar a ortografia portuguesa de 1945, talvez por vontade das representações angolana e moçambicana.

No que respeita à secção relativa à questão ortográfica, para além de declarações vagas sobre a “promoção e defesa da Língua Portuguesa no espaço da CPLP e no Mundo”, os presentes reconheceram que a “aplicação do Acordo Ortográfico de 1990 no processo de ensino e aprendizagem revelou a existência de constrangimentos que podem, no futuro, dificultar a boa aplicação do Acordo”.

Chegados aqui, há, pelo menos, duas perguntas a fazer:

a) Não seria possível, através de estudos rigorosos, saber, com antecedência, quais os problemas que o AO90 poderia causar no processo de ensino e aprendizagem?

b) Não seria importante explicitar a natureza desses constrangimentos?

Como se isso não bastasse, mais à frente, decide-se proceder a um “diagnóstico relativo aos constrangimentos e estrangulamentos na aplicação do Acordo Ortográfico de Língua Portuguesa de 1990”. Sabe-se, então, que há constrangimentos e não se sabe quais são? Para além dos constrangimentos, há, ainda, estrangulamentos? Foi preciso esperar pela aplicação do AO, ignorando pareceres sobre pareceres, para se descobrir a existência de problemas?

Finalmente, declara-se que, após o diagnóstico, irá ser feita “uma proposta de ajustamento do Acordo Ortográfico de Língua Portuguesa de 1990”. Poderá dar-se o caso de que, só ao fim de vinte anos, se tenham lembrado de fazer diagnósticos e que, poucos meses depois da aplicação, descubram problemas?

Em conclusão, este texto é mais uma confirmação de que estamos diante de um processo demasiado defeituoso. Espero que o ajustamento se concretize na morte do AO90. Até pode ser por estrangulamento.

Comments

  1. maria celeste ramos says:

    Não é um acordo – é um grande des-acordo – é a grande destruição cultural nem sequer previsível tanto a curto como a longo prazo – é mais um acto de desmantelamento que interfererirá em todos os actos da vida socio-cultural e mesmo económica passando por todos os actor criativos e não quero andar de “bomdji” nem que me atraiçoem nem a literatura nem sequer a poesia – Nem sequer há inteligência em nada de nada – nem estética nem poética na música que se desprente da minha língua que é tão bela até só de olhar a sua grafia que é´, até por si só, uma entidade estética – quando faço de “muda” e olho a forma que me é proposta de escrever e ler, até o meu olhar fica perturbado e que esforço faço para entender o ininteligível – que aberração – Não TORTUREM a minha língua nem falada nem escrita porque é um DESENHO do meu pensamento – não rabisquem e permitam-me dar os meus erros habituais ao escrevê-la mas não os amplifiquem e como hoje a mentira nos é impingida como verdade actual, não permitam que a grafia da minha lingua minta relativamente o sentido imediato pressuposto atrás de cada palavra – a pátria do meu sentir e comunicar — mesmo “mudamente” – se a lingua é o que resta para ser destruído do meu B.I. nacional, procurem outras coisas – não me lixem – deixem-me escrever (mal) xina com x ou com ch porque gosto de brincar com as palavras e a grafia, e toda a gente lê e entende mesmo com má sintaxe porque é a que calha na altura e não emendo porque me esqueço, como é que eu vou dar os meus “erros” derivados da minha espontaneidade com uma lingua de trapos ?? nem poderei brincar ?? Deixem-me em paz com a minha história e memória e herança cultural e a minha lingua é também o que eu faço dela e os usos que lhe dou porque me permite essa extraordinária versatilidade – não retirem essa grandeza – não me emendem o meu “desenho” – não se metam na minha VIDA

  2. Silva says:

    Nada de mais. São funcionários africanos herdeiros do linguajar da numenclatura da defunda URSS. A única coisa que o ministro angolano quer é que alguém de cá lhe vá lá estudar quais as palavras de umbundo que devem ser acrescentadas ao “português de Angola” para ele depois poder dizer que trabalhou muito, que é um funcionário indispensável, e que foi tudo um sucesso. Isto dará direito a mais um documento cheio de redundâncias e linguajar de burocrata. Depois é só continuar a comprar livros escolares em Portugal, daqueles que já existem, com o AO, e deixar de escrever c’s e p’s que ninguém lê, E tá feito.

  3. Realmente era muito bom se este acordo fosse abolido. Morro um bocadinho por dentro sempre que dou uma olhadela à televisão e vejo que um programa está a passar em “direto”.

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