Fanny, Passos Coelho e o javali

Fanny é uma das muitas figuras públicas a quem chamam mediáticas. Alcançou esse estatuto ao manter uma distância doentia face a qualquer assomo de inteligência, equiparando-se, portanto, a Passos Coelho, concorrente de uma versão da Casa dos Segredos em que o objectivo é enganar os telespectadores com a colaboração dos restantes elementos da casa.

O Correio da Manhã, sempre atento àquilo que verdadeiramente interessa aos portugueses, relata um acidente em que participam a Fanny, um amigo da Fanny, um carro e um javali. Para que isto fosse notícia, impunha-se, no mínimo, que a Fanny tivesse um pequeno derrame cerebral e perdesse, portanto, uma quantidade mínima de silicone. Nada: o próprio javali, desrespeitando a tradição dos atropelamentos, fugiu do local, atitude, como se sabe, reservada aos condutores.

O texto é, portanto, um repositório de inutilidades, a começar por uma expressão que adoro: “não ganhou para a susto”. É natural que num país em crise, não haja dinheiro para pagar sustos, sobretudo porque se gasta muito em presenças. Fanny, o pai da Fanny e Passos Coelho, por exemplo, são, frequentemente, pagos para aparecer, mesmo que não tenham nada de importante para dizer.

Ainda no plano do linguajar irreflectido dos profissionais da comunicação social, ficamos a saber que Fanny “seguia” num carro, expressão que pertencerá a uma língua que desistiu de ser portuguesa e não chegou a ser castelhana, algo tão difícil de descortinar como um neurónio da Fanny ou a seriedade de Passos Coelho.

A narração do acidente é feita com uma eloquência assustadora: “Foi horrível. O animal acabou por fugir.” Tenho a certeza de que o javali, depois de ler estas declarações, terá pensado: “Tiraste-me as palavras da boca.”

Passos Coelho, para quem o cidadão português é, afinal, um javali, continua a pensar que ainda não houve atropelamentos suficientes.

Comments

  1. davidmsilva says:

    Um texto, sem dúvida, divinal.
    Parabéns!

  2. Luís Teixeira Neves says:

    Um javali inteligente. Como todos os javalis com quem tenho tido o prazer de privar.

  3. antonio oliveira says:

    Fanny, coelho, javali…só falta o lobo.

  4. Maquiavel says:

    Neste Portugal surrealista, o coelho é o lobo!

    Ou será que o coelho é um daqueles que apareceram no filme Monty Python e o Cálice Sagrado???

  5. MAGRIÇO says:

    Neste momento vejo cinco votos positivos e dois negativos na apreciação do texto. Aposto uma foto do pretendente à coroa em como os votos negativos são de virgens ofendidas que elegeram Sócrates como inimigo de estimação e não perdem uma oportunidade para matarem o falecido, nas apoiam incondicionalmente um farsante pior. Como eu gosto de Tartufos! A sério! Divertem-me imenso!

  6. António Fernando Nabais says:

    #5
    Um dos votos deve ser do javali: já viu o que é ser atropelado desta maneira infame?

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