O ano passado fiz esta montagem vídeo para o 1º de Maio, um mashup, ou seja: misturei imagens e música a partir de duas obras que não são minhas.
Uma, o filme Tempos Modernos, é do domínio público. A outra, a Engrenagem do José Mário Branco (que afirmou ser “filosoficamente contra o próprio conceito de direito de autor em qualquer arte”, como de resto sendo o grande artista e pessoa inteligente e civilizada que é não podia deixar de ser), numa versão dos Corpo Diplomático, feita em 1979 e que não está disponível no mercado.
Uns dias atrás recebo um mail do youtube: alguém tinha reclamado direitos de autor sobre o vídeo. E quem? a Amrita TV, uma televisão indiana por satélite, cabo e ip.
Claro que reclamei, assumindo que caso o Corpo Diplomático reclamasse até retirava o vídeo (o Pedro Ayres Magalhães ou o Emanuel Ramalho dos Delfins a exigirem direitos pela sua fase punk-esquerdista, até pago para ver), agora uma tv indiana não faltava mesmo mais nada.
Os senhores andaram a reclamar os direitos de um clássico de Charles Chaplin publicado em 1936 e pelo menos mais dois cidadãos foram incomodados. Há centenas (ou mesmo milhares) de publicações do filme no youtube. Estão a ver um maluquinho que decide reclamar o copyright disto tudo? E no youtube quem deixa passar um disparate destes, a empregada de limpeza que ia a passar e carregou num botão sem querer? Um tipo que não reconheceu Charles Chaplin? esse tipo trabalha no youtube?
A resposta chegou ontem: “amritatv analisou a sua contestação e libertou o seu vídeo da reivindicação por violação de direitos de autor“.
Libertou? o mundo está maluco, não está?
De facto… Estão para lá da demência absoluta.
Patentes e direitos de autor estão a ser levados a um extremo tirânico.
É por isso que se tem de atacar com determinação propostas como a SOPA, ACTA, e agora a mais recentemente (parece que é ainda pior) a CISPA!
Será que não acham estranho estes ataques à liberdade na net, logo agora, que a contestação aos governos aumenta?
Os chamados “direitos de autor” foram tradicionalmente associados à compra e partilha de objectos físicos (livros, quadros, suportes de gravação) e foram estabelecidas entidades para gerir esses fluxos de dinheiro (em Portugal, APA por exemplo).
Entretanto com a net, tudo se tornou virtual e o conhecimento e obras transmitem-se electronicamente sem recurso a suportes físicos, logo há uma grande dificuldade a controlar e taxar as obras, e as entidades que antes se ocupavam disso tornaram-se completamente obsoletas. Estas é que estão muito empenhadas em garantir a sua existência muito mais do que em fazer chegar aos autores os direitos devidos por suas obras!
Na música resolveu-se facilmente, os músicos voltaram a actuar ao vivo, para grande satisfação dos jovens e de quem organiza festivais de verão.
Nos filmes e afins, se verá.
O problema não é a empregada de limpeza do Youtube. O problema é que o Youtube (e outras plataformas semelhantes) dão acesso automático a determinadas entidades, para que estas possam AUTOMATICAMENTE fazer o takedown dos vídeos. Depois, se os donos dos vídeos se queixarem, eles logo olham para a questão. Mas, até ao momento em que se queixam, o Youtube não sabe que existem.
E sim, tenho a certeza daquilo que estou a dizer.
Também fiquei com essa impressão, a empregada era mais prá metáfora, até porque a primeira mensagem me pareceu mais automatizada do que a segunda.
Pronto…. eu confirmo o procedimento automático, com acesso directo dos que reclamam direitos de autor 🙂
Aposto a minha reforma em como quem reclamou os direitos de autor em nome da tal TV indiana nem sequer tem ligação nenhuma a essa entidade, é simplesmente alguém que criou um bot para mandar e-mails a ver se alguém dá bola e se descai com algum dinheiro…
A maior motivação para disseminação da net nos anos 90 (Europa e US) foi pornografia, nos anos 2000 (países “emergentes”) foram as fraudes.
Não creio, João Pinto, pelo que a Mª João explicou e também porque a tal TV tem o seu canal no youtube. A hipótese de alguém querer descredibilzá-los fazendo queixas em seu nome, faria algum sentido, mas o youtube terá é aceite uma queixa porque vinha de um dos seus clientes…
Neste caso,quem de direito poderia reclamar qualquer taxa?
Os filhos de Charlie Chaplin?!
Ninguém, o filme já está no domínio público.