Deputados e ex-presidentes com dignidade, tenham-na

Aos anos que ouvimos a direita na mesma choraminguice, que as comemorações oficiais do 25 de Abril não fazem sentido, que ninguém liga nenhuma aquilo, que não é pedagógico, que é como as velhas comemorações do 5 de Outubro uma mera romagem de saudade, carpindo-se com a periodicidade anual dos pólens nesta altura abundantes e difusores de alergias.

Subitamente tudo mudou, apenas porque quem fez o golpe militar afirma que apenas na rua onde se fez a Revolução (que quiseram “evolução“, lembram-se?) o vai comemorar este ano. Aflição geral na direita, que a democracia são eles, os que foram eleitos (o facto de o terem sido prometendo não fazer tudo o que têm feito não interessa nada, é a democracia-voto-cheque-em-branco onde escrevem as mentiras que ainda hão-de vir), que é um despautério, afrontamentos da terceira idade, balha-me-deus.

Só vejo uma atitude digna amanhã, dos ex-presidentes em quem votei e dos deputados dos partidos a quem já entreguei o meu voto: não meterem lá os pés. Não há discurso mais de Abril que uma cadeira vazia quando a democracia está entregue a um Magina, palreada por um Relvas, soletrada todos os dias por um Gaspar. A rua, essa sim, ainda é nossa.

No mesmo palácio de S. Bento estariam os outros preparados para as comemorações do 28 de maio mesmo que não tivesse havido Abril, nomeados pela União Nacional de que sempre foram, embora talvez não no governo, que a tradição salazarista sempre exigia aos ministros saberem ler e escrever. Aqueles que sem Abril estariam talvez entre Peniche e Caxias, amanhã deixem-nos sozinhos e as vossas cadeiras vazias. A malta agradece.

fotografia Victor Valente

Prova dos Nove: Vital Moreira está contra. Confere.

Comments

  1. rui gomes says:

    “Mário Soares tem o direito de ter a opiniões que quiser. Porém, como antigo Presidente da República a quem pagamos, dos nossos impostos, gabinete, automóvel e motorista (e não sabemos se também as multas), tem também obrigações. Obrigações institucionais. Sucede que as comemorações do 25 de Abril na Assembleia da República, lugar onde todos os partidos têm acento e têm voz, não são as comemorações deste ou daquele partido ou governo ou maioria, são as comemorações institucionais e plurais da democracia. Os membros da Associação 25 de Abril podem fazer o que entenderem, nomeadamente andarem para aí a dizer que “é preciso um outro 25 de Abril”, mas o antigo Presidente tem o dever de defender as instituições democráticas, a começar pela Assembleia da República, palco das comemorações oficiais. Entender que não deve ir “em solidariedade para com os militares” não é apenas um capricho político, é um acto irresponsável e grave. A democracia defende-se quando se está no governo e, sobretudo, quando se está na oposição. E a democracia necessita de ser sempre defendida, sobretudo em tempos difíceis como os que vivemos. É isso que Soares não está a fazer – pelo contrário, está a alinhar com os que pensam que a democracia só lhes serve quando cumpre os seus programas políticos. E isso é, para alguém com a sua responsabilidade, imperdoável.”
    José Manuel Fernandes

  2. No mínimo é falta de educação e de baixo nível fazer um comentário a partir de um copypast, seja de quem for.
    O JMF acha que se pagamos aos ex-presidentes (coisa com que nem concordo) eles estão obrigados a portarem-se bem. O JMF obedece a quem lhe paga, é conhecido. Pelos vistos o rui gomes também. Sucede que nem todos somos a voz do dono, por muito que vos custe ainda há homens livres e que não se vendem.

  3. João Paulo says:

    JJC eu iria um bocadinho mais longe e lembro-me da anedota q s contava, aqui pela invicta, sobre Lisboa… Nós cá fora. Eles lá dentro. Fechar a portinha e encher de água 🙂
    JP

  4. O jmf só sabe o que é uma democracia quando lhe convém e vai de acordo àquilo que ele quer. É um desperdício de tempo falar no homem ou sobre o que ele diz.
    O 25 de Abril começa a não fazer sentido face ao retrocesso a que chegamos e face àqueles que nos mandam e o que fazem com o poder.

  5. Zé Carioca says:

    Hã, e então enquanto a “porra” ia ao fundo os discursos no “galinheiro” já podiam ser ouvidos?
    Construíram um sistema de favores que está podre, e agora que fede a culpa é dos últimos que lá chegaram, safa não há mesmo pachorra para esta falta de vergonha.

  6. Já sabíamos, estes são os inocentes. Nem sequer lá estiveram antes. É só virgens.

  7. pedro says:

    vou incorrer num pecado. comentar usando escritos de outros. dizem q a cópia é a maior forma de elogio. seja como for.

    «A linha política seguida pelo actual poder político deixou de reflectir o regime democrático herdeiro do 25 de Abril», Vasco Lourenço, reformado

    .

    Conclusões possíveis:

    *o regime democrático tem linhas politicas que não podem ser seguidas, mesmo quando democráticas, isto é, fruto da vontade do povo;

    * o regime herdeiro do 25 de Abril não é compatível com certas escolhas democráticas;

    * o regime democratico herdeiro do 25 de Abril não é democrático ao ponto de tolerar diferentes linhas politicas democrácticas;

    * os herdeiros do regime político saído do 25 de Abril reinvidicam uma certa tutela sobre o regime democrático;

    * os herdeiros do regime político saído do 25 de Abril entendem determinar quando certa linha politica seguida pelo poder político reflecte ou não o regime que criaram;

    * os herdeiros do regime politico saído do 25 de Abril não são democráticos;

  8. A falácia do raciocínio é muito simples: pressupõe que quem é eleito pode fazer o que muito bem entende, começando por fazer tudo o que prometeu não fazer, violando grosseiramente a constituição escudado num tribunal constitucional partidarizado, incluindo a liberdade de manifestação como um faz um tal de Magina sem ser de imediato demitido.
    Não falo de simples promessas por cumprir, isso é rotina.
    E já agora, Hitler também foi eleito, democraticamente.

  9. pedro says:

    podemos ficar aqui a vida toda a discorrer sobre tudo o q este governo fez de mal, e os outros fizeram de menos bem. e terá toda a razão em muitas coisas. agora sobre um ponto não há como fugir. a tomada de posição da Associação 25 de Abril, (e a sua defesa dela) mostra uma incapacidade para conviver com a diferença, uma limitada definição de democracia ( a nossa) e (e acho q isso é o q choca mais) uma demonstração de posse sobre algo que, fundamentalmente, não é deles!

    ah. e a referência a hitler apenas ilustra (talvez demasiado) o ponto que procurei fazer. Comparar escolhas (algumas forçadas, outras voluntárias) de um governo que recebeu o seu país sob um contrato de ajuda esterna, a hitler, não lhe fica mt bem.

    resumidamente (sobre a “posse”) : “A Associação 25 de Abril não quer assinalar o 25 de Abril. Dizem que não gostam do governo. O 25 de Abril é deles e não o emprestam a ninguém.”

  10. pedro says:

    desculpe voltar a isto (e sem lhe dar tempo pra responser, se o quiser fazer, naturalemtne), mas sabe do que me lembrei assim de repente? do q me faz lembrar esta conversa toda( de de destruição da democracia, a conversa do hitler, etc.)? o discurso dos fanáticos republicanos (tb n serão todos) a acusar o Pres. Obama de alterar a profundamente o país (tb comparando-o a hitler mts vezes). o exagero para construir um argumento. a berraria como nova forma de fazer política. a histeria da ignorância.
    foi só isto.
    ah..
    e tenha um óptimo 25 de abril.

  11. O contrato com a troica era claro, e foi aprovado pelos 2 partidos que estão no governo antes de irem a votos, não estava escondido numa gaveta.
    Já o que temos neste momento, e nem falo de questões económicas, é:
    – liberdade de informação limitada. Quantas vezes vai alguém que seja contra o discurso dos partidos do poder à televisão?
    – liberdade de manifestação com avisos solenes como o de ontem, em plenas vésperas de manifestações que em 30 e tal anos nunca tiveram um incidente digno de nota
    Nestas circunstâncias claro que invoco Hitler, não comparo os personagens, não têm qualquer semelhança, comparo os factos e a realidade.

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  1. […] José Cardoso, no Aventar, April 24, 2012 at 10:00AM Partilhe:Gostar disto:GostoBe the first to like this […]

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