Eu vi o debate Hollande/Sarkozy

Eu vi o debate Hollande/Sarkozy. Eu vi Hollande seguro de si, em pose presidencial, encostar Sarkozy a um canto. Eu vi Sarkozy perder a compostura e chamar pequeno caluniador a Hollande. Vi chamar-lhe Pôncio Pilatos. Vi Hollande quase hirto, de braços cruzados sobre o peito, avançar argumento atrás de argumento enquanto Sarkozy se desmanchava na cadeira em sofrida incomodidade. Eu vi os olhos de Sarkozy buscando compreensão e socorro. Vi aquela série fulminante de estocadas “Moi, président de la république,…”. Vi a surpresa e admiração no rosto dos jornalistas face a Hollande. Eu vi que, para a Europa, não é indiferente a eleição de um ou de outro. Vi aquele a quem chamavam frouxo tornar-se forte e o dito forte afrouxar. Vi que ambos se passeiam com antigos cadáveres no armário. Eu vi.

E vi que, até para Portugal, é mais importante esta eleição do que uma qualquer eleição presidencial entre portas, mesmo que os portugueses possam pensar o contrário.  O senhor que se sentar no Eliseu vai determinar mais as nossas vidas do que quem quer que se sente em Belém. Eu vi o debate Hollande/Sarkozy e gostei mais da Europa a que Hollande se refere. Domingo, os franceses escolherão.


Nota: este artigo não pretende debruçar-se sobre o conteúdo de um debate que durou duas horas e meia, recheado de temas como a economia, o nuclear, o ensino, a emigração, etc. No entando, o Público presta um mau serviço aos seus leitores. O artigo não reflecte quase nada do que se passou na realidade, nem do que foi discutido. Mau jornalismo.

Comments

  1. maria celeste ramos says:

    Pois concordo – eu também vi todo o tempo de debate – vamos ver – e agora há milhares de portugueses a emigrar de novo clandestinamente (???) – é ainda terra de esperança para tantos dos nossos que mais uma vez desfazem vidas e família para sobreviver – vi em abril várias reportagens até de um pelo menos que nem sabia para onde iria e nem fala uma só palavra de francês – e já há mais uma vez trabalho escravo – passadores ladrões mas esperança de conseguir – na suissa já há milhares de homeless portugueses – em Genèva pelo menos – a Europa está saturada de emigrantes – o nosso país despeja-se de heróis pela vida e sobrevivência para si e famílias – é um tempo de grande infelicidade e incerteza também na europa – mas França pode de facto mudar a europa – vamos ver em muito pouco tempo pois tudo acelera embora tenhamos poucas notícias da realidade que escondem convenientemente – talvez o “caso” do assalto ao supermercado seja mais importante e sigificativo do que se escreve – talvez mesmo os que se deslocaram de “carro” revelem muita dor à mistura

  2. A. Pedro says:

    E eu também concordo consigo, Maria Celeste. É como diz.

  3. xico says:

    Em que canal é que deu o debate que viu? É que nos canais em que eu vi (2 franceses e dois portugueses), Hollande levou quase uma tareia. E olhe que eu torcia por Hollande.

  4. A. Pedro says:

    Eu vi no France 24 e também vi o painel de comentadores que se seguiu. Em quatro, três acharam que Hollande ganhou. Alguém recordou um debate de, salvo erro, Miterrand, em que se previa a derrota deste. Na circunstância, concluiu-se que a não derrota havia sido uma vitória. O quarto comentador tanto achava uma coisa como outra.
    Hoje falei com franceses residentes em Portugal e compartilham a minha opinião.
    Mas, se quer que lhe diga, acho mesmo o que escrevi e não me debrucei sobre o debate passo a passo. Porque, sim, Sarkozy teve uma entrada de leão (que durou 20 minutos) e depois Hollande foi ganhando supremacia.
    Sarkozy, em linguagem futebolistica, entrou ao ataque e acabou à defesa, estourou cedo demais e perdeu o jogo. Digo eu, mas estou curioso em relação às sondagens.

  5. Tito Lívio Santos Mota says:

    se viram o debate ouviram pelo menos duas coisas :
    Hollande dizer que vai exigir a revisão dos tratados, nomeadamente no que respeita ao financiamento dos Estados diretamente pela BCE e não através da banca privada (que recebe o dinheiro dos nossos impostos a 1% e nos “empresta” a 7, 8 e até 18%).
    O Sarkozy dizer que quer a revisão do tratado de Schengen e mentir ao dizer que é para “reforçar” as fronteiras europeias, quando, de facto o quer fazer a penas com o objetivo de impedir a nova vaga de imigração portuguesa e de outros países cujo desemprego dispara por via da sua própria política de par com a Alemanha (schengen, não interfere na imigração extraeuropeia no que diz respeito à França pois os fluxos não se fazem dessa maneira, enquanto que os quase 100000 portugueses entrados em França este ano…).

    Se isto não interessou os portugueses… “je mange mon chapeau”.

  6. Tito Lívio Santos Mota says:

    Eu vi um caniche agarra-se às pernas dum homem sereno.
    Ouvi um mal-criado insultar um homem sereno.
    E sei que os franceses, ao contrário dos portugueses, têm horror às pessoas que insultam em vez de debater.

    Hoje o centro-direita acaba de apoiar oficialmente Hollande.
    Não podia fazer de outra maneia, após 10 dias de discursos racistas e frases copiadas dos discursos de Pierre Laval (PM de Pétain em Vichy).

    sarkozy escolheu apresentar-se como o candidato da extrema-direita racista e xenófoba.
    Nem a Marine o apoia porque lhe quer comer o cadáver.

    Fora disso, o que os comentadores disserem, sobre tudo os franceses de Portugal, é perfeitamente acessório.

  7. Maquiavel says:

    O Sarko provocou, para ver se o Hollande caía na esparrela de puxar o financiamento da sua anterior campanha pelo amigo (na altura, claro) Kaddafi.
    Querias! Apesar de tudo, é uma coisa que ainda näo foi provada. Lá chegaremos, que na França ser PR näo iliba para a vida, só enquanto dura o mandato. Que o diga o Chirac que anda a ser julgado por corrupçäo enquanto Presdente do município parisiense…

    • Tito Lívio Santos Mota says:

      O Sarkozy será julgado e até já está a ser julgado por interposta pessoa pois vários colaboradores e ministros seus já compareceram em tribunal e os autos foram levantados.
      Ainda esta semana condenaram um assessor dele quando era presidente da Câmara de Neuilly-sur-Seine por motivos de corrupção.
      Sarkozy conseguiu retardar a instrução de dois processos pendentes porque em França, ao contrário de Portugal, os procuradores são nomeados diretamente pelo Ministério da Justiça :
      O caso do atentado de Karachi (provocado por manobras do Sarkozy em relação a financiamentos ocultos da campanha de Balladur de que era o chefe).
      O caso Bethencourt relacionado com financiamento da sua campanha de 2007 e que se provou ter sido obtido em troca de “ajuda” à fraude fiscal e fuga de capitais. (o seu ministro das finanças teve que se demitir pois era a própria esposa quem “tratava” de aconselhar a dita Mme. Bethencourt).

      Vem-se juntar agora o caso Kadhafi : financiamento em 50 milhões de euros da campanha de 2007 (mais do dobro do admitido legalmente para uma campanha).
      há já duas testemunhas do caso : o antigo PM líbio e o próprio intermediário oficial de Sarkozy em matéria de relações com os terroristas e governos ditatoriais.
      Resta também uma suspeita : porque é que o antigo ministro do interior do Kadhafi, autor da carta publicada pela Mediapart, se encontra em França sob proteção dum passaporte Sírio caducado, enquanto corre um mandato de captura da Interpol?

      O Sarko disse que ia apresentar queixa. Pois… só que, primeiro levou dois dias para negar, mais dois para anunciar a queixa, mais dois para a apresentar. Ou seja, o tempo necessário para que a veracidade do documento não possa ser verificada antes de domingo 6 de Maio.

      Resta esperar que justiça possa ser feita a partir de segunda-feira.

  8. José Guinote says:

    Concordo com o post e com alguns dos comentários. Tendo acompanhado o debate em directo e lido a imprensa francesa pré-.debate e pós-debate fiquei com a sensação que Hollande resisitiu bem aos ataques – muito fulanizados e a atacarem o carácter do advsersário e a sua estatura política – de Sarkozy. A generalidade dos comentadores apontam para um empate o que é bom para Hollande que está na frente. Mas, sinceramente, julgo que Hollande ganhou. Concordo que estas eleições são as mais importantes dos últimos anos para os portugueses. Para todos os europeus segragados e empobrecidos pelo eixo Merkozy. Gostei de ver Hollande assegurar que o tempo de o BCE emprestar dinheiro aos bancos a 1% para eles emprestarem aos Estados a 7,8 e mais por cento. Sem resposta do outro lado. Gostei da defesa do valor do trabalho e da importância dos imigrantes para a França. Com este Hollande os nossos socialistas encostam, naturalmente, mais à esquerda e isso é bom. Importante é reconhecer o papel que desempenhou o resultado e a campanha de Melanchon e a pressão que ele colocou sobre a candidatura de Hollande. A mudança na Europa tem que se fazer a partir do diálogo e do compromisso das esquerdas capazes de repensarem o Estado e concretizarem uma plataforma política social-democrata que ponha fim ao fantasma do neoliberalismo.Coisa dificil em Portugal já que aqui os campos dividem-se entre os adoradores do mercado e os adoradores do Estado todo poderoso.

    • Tito Lívio Santos Mota says:

      sem dúvida alguma que o facto de haver maioria de esquerda em perspetiva nas legislativas de junho, empurram o PS para a esquerda.
      é aliás esse o único sentido da candidatura Mélanchon. Assumido aliás.
      Por minha parte, tal como a maior parte, aguardo a primeira volta das legislativas para me decidir sobre o candidato que vou escolher : votar no meu partido logo à primeira, ou votar noutro candidato à primeira volta para reforçar um ponto de vista mais à esquerda (no meu caso) ou mais ecologista (para outros).
      E claro, votarei no candidato da esquerda que chegar em primeiro lugar na primeira volta.
      é a regra da honestidade política e do respeito pelas alianças.

      no dia em que eu vir um programa de esquerda do PS português, apoiado pelo PCP e pelo BE acreditarei que há esquerda em Portugal.
      Por agora, e desde há 38 anos que não vejo nada disso.
      Já houve atitudes adultas por parte do PCP (o apelo de Cunhal a votar Soares nas presidenciais, por exemplo), já houve programas de esquerda no PS.
      falta é a honestidade necessária que permita pensar primeiro nos interesses dos portugueses antes de proteger os interesses estratégicos do partido e/ou das respetivas clientelas, coisa que a direita faz muito bem mas que não é uma atitude de esquerda.

      Nesse dia, poderemos dizer que temos esquerda (gente que faz política para servir o povo e não interesses privados).

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