Que fazer com esta vitória, François?

François Hollande conseguiu hoje o mais fácil: derrotar Nicolas Sarkozy.

Sem ter obtido uma vitória retumbante (cerca volta de 4% a separá-los à hora a que escrevo), Hollande fez-se eleger como segundo presidente socialista da França. Sarkozy, por seu turno, tornou-se o primeiro presidente não reeleito.

Agora Hollande vai descer à terra e confrontar-se com questões fundamentais. Romperá ou continuará o caminho que têm levado os socialistas europeus, a chamada terceira via? Manterá a promessa de taxação das grandes fortunas? E as outras promessas de campanha? Aumentará a solidariedade europeia? Dará passos no sentido de maior integração europeia? Conseguirá concretizar os eurobonds? Será capaz de ter voz política face ao primado actual da economia? Como se relacionará com Merkel? Terá peso, perante ela, para influenciar e conseguir mudanças que não sejam apenas cosméticas? E como lidará com os fantasmas franceses, em particular a emigração e o avanço da extrema-direita?

Estas são algumas das questões cuja resposta fará toda a diferença ou quase nenhuma. Que vais fazer com esta vitória, François?

Comments

  1. maria celeste ramos says:

    Esperar para ver – pelo menos um ano

  2. José Guinote says:

    Hollande conseguiu uma vitória muito dificil: derrotar um Presidente recandidato que, como mostra o resultado final, vendeu cara a derrota. Fê-lo num contexto de uma mobilização extrema com uma participação massiva dos franceses. Ganhou porque todas as esquerdas, e parte do sector centrista mais aflito com o crescimento da FN, quis uma mudança. Teve o apoio da frente de esquerda de Melanchon e do partido comunista francês. Partricularmente o Partido Comunista francês não teve dúvidas quanto ao que se jogava nestas eleições.Julgo que Hollande obteve uma vitória terrena. Hollande precisa para construir agora a estrutura que lhe permitirá arquitectar uma nova política comum europeia. Tem que ganhar as próximas eleições e ter um Governo maioritário a apoiá-lo.Julgo que vai conseguir isso com a mesma aliança que agora o elegeu. Isso fará toda a diferença e imporá mudanças políticas ao modus operandi dos Partidos Socialistas quer na política interna quer no contexto europeu. Hollande pode ser o iínicio de uma mudança que permita enterrar a sinistra lógica austeritária e conjugar democracia com desenvolvimento e equidade social. Hollande, que muitos referem como sendo centrista, aparece com um discurso mais à esquerda do que o tradicional. A práctica terá que seguir a teoria porque os tempos não estão para as decepções e/ou traições do costume.
    A senhora Merkel vai ter que se ajeitar. A Europa está a mudar porque as pessoas não suportam mais agressões. Os povos da Europa querem mudança e defender/melhorar o modelo social europeu. Recusam uma direita radical que usa uma política impiedosa de repressão salarial e o favorecimento do capital financeiro que tem destruído o sistema económico e lançado milhões de cidadãos no desemprego e na miséria. Mas, também estão fartos dos que sistematicamente se recusam a por a mão na massa ea trabalhar para um projecto comum.

  3. Giscard d’Estaing também não foi reeleito.

  4. Nuno Castelo-Branco says:

    Meu Deus, continuam as ilusões de amanhãs radiosos… Enfim, há que atender à posição da própria França, completamente dependente da boa vontade alemã. A França que consome uma enorme percentagem de fundos comunitários – substancialmente pagos pela Alemanha -, a França que goste o sr. Hollande ou não, continuará a seguir a política estabelecida por De Gaulle e Adenauer. Quanto ao peso do PCF cujos votos foram há muito engrossar as hostes de Le Pen, qual o seu peso eleitoral? Existe?
    Hollande venceu, não há dúvida. Resta saber a quem pertenciam os 7% de votos em branco que ajudar a guindá-lo ao Eliseu. Quase de certeza eram FN.

  5. Tito Lívio Santos Mota says:

    as manhãs radiosas não existem, nem nunca existiram. O que existe é a vontade dos povos e o trabalho de muitos no sentido de as coisas mudarem.
    Em França, desde 1978 que temos a sorte de ter uma esquerda que se sabe juntar e governar unida, para além das diferenças.
    é essa a mudança e os franceses, velha democracia sabem-no bem. Os mesmos franceses que fizeram 1789/93 1830 1848, 1871 e a resistência francesa.
    é mais dessa França que se pode aproximar esta vitória pois foi a vitória dos franceses que recusam o autoritarismo e o racismo contra os que o aprovam ou se acomodam vendo passar os comboios de deportados.
    Hollande venceu num país que vota tradicionalmente à direita.
    Foi uma vitória à moda do Mitterand. Mas, Hollande teve também o apoio dos democratas vindos da direita e do centro.
    Sarkozy só conseguiu 48% graças ao seu discurso ultra-direitista e racista que atraiu os votos da extrema-direita.
    Os votos nulos não vêm do FN pois toda a campanha de segunda volta não passou duma apropriação dos temas e propostas do FN pelo candidato Sarkozy.
    Vêm sim da direita que não quis votar Hollande mas recusou votar Sarkozy.
    Chamemos-lhe a direita com escrúpulos.

    Pessoalmente não me importo que essas pessoas tenham votado Hollande ou até votado em branco.
    De Gaulle vinha da direita e soube opor-se a Pétain, arrastando com ele essa mesma direita que recusa o nazismo e o racismo.
    São gente com quem não partilho ideias mas que merecem o nosso respeito por serem pessoas com honra e escrúpulos.

    Coisa que falta a certos monárquicos que lançam lama para o ar sem pensarem que lhes cai em cima.

    • Nuno Castelo-Branco says:

      Pois sim, acredite nessa lega-lenga velhota de dois séculos e se raspar um bocadinho, atrás do verniz da esquerda surgem depois uns tais Jacques Doriot ou Pierre laval. Melhor ainda, com ainda mais sorte terá um “presidã” como Mitterrand, condecorado com a francisque pelo marechal Pétain. E para cerejinha sobre o gateu, lá estarão os antigos votos comunistas reconvertidos em Saluto il Duce! e que foram esse quem, ao votarem em branco na espantosa cifra de 7% do eleitorado, impediram que o rasca “Sarko de Kapozy” vencesse. Não vale a pena disfarçar as coisas. Foi a sra. Le Pen que deu a vitória ao molusco “bon a rien”. Sans aucun doute.

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