Com ou sem Ele, amigos na mesma

Isto de escrever sobre ou pensar Deus é um nunca mais acabar… Por isso, é um tema interessante.

Num outro post, trouxe à discussão o caso do filósofo Flew que, ao fim de mais de meio século a defender o ateísmo, admite a existência de um “Ser auto-existente, imutável, imaterial, omnipotente e omnisciente”.

Desta vez, pretendo trazer para este espaço a mensagem que Carl Sagan deixa na «Introdução» à obra Breve História do Tempo (Gradiva, 1988) do famoso Físico inglês Stephen W. Hawking (1942), que uma neuropatia motora deixou preso a uma cadeira há muitos anos, para além de ter perdido a voz em 1985 na sequência de uma pneumonia. Apesar de dispensar apresentações, não custa lembrar que Hawking é uma lenda no mundo científico, considerado um dos físicos teóricos mais brilhantes desde Einstein, tendo ocupado o mesmo lugar que Isaac Newton na Universidade de Cambridge (numa sucessão de mérito).

Sagan escreve que se encontram neste livro “revelações lúcidas nos domínios da física, da astronomia, da cosmologia e da coragem”. E, no último parágrafo, refere que “é também um livro sobre Deus…ou talvez sobre a ausência de Deus. A palavra Deus enche estas páginas. Hawking parte em demanda da resposta à famosa pergunta de Einstein sobre se Deus teve alguma escolha na Criação do Universo.” Hawking tenta “entender o pensamento de Deus”.

Hawking e outros cientistas procuram entendê-Lo…tentando responder a questões como: «Por que é que o Universo se dá ao trabalho de existir?».

Se até os cientistas procuram conhecer o pensamento de Deus, provando a sua existência ou a sua ausência, é legítimo que o homem comum também se questione, usando as suas próprias «ferramentas», «instrumentos», inteligência.

Uns procuram, outros evitam, outros negam Deus. Para uns, a vida faz mais (algum) sentido com Ele. Para outros, Ele não faz nela sentido nenhum.

Amigos na mesma!

Comments

  1. MAGRIÇO says:

    Claro, Céu! Pela minha parte, sem ressentimentos. Mas não deixa de ser curioso ter mencionado Carl Sagan porque foi um nome que também me ocorreu anteriormente. Não posso garantir que tenha toda a obra dele, porque alguma me pode ter escapado, mas tenho seguramente a maior parte, e quem a seguiu decerto não deixou de reparar que nos seus primeiros livros ele era manifestamente contrário à ideia de deus e que para o fim essa posição se inverteu completamente. Nunca percebi se essa mudança foi devida à doença se por pressões externas, já que, a partir de certa altura, era inevitavelmente uma figura pública e, como tal, tinha de observar o princípio do politicamente correcto. Quanto a Stephen Hawking, uma das poucas pessoas por quem nutro grande admiração, as suas limitações físicas em contraste com o seu imenso intelecto, pode muito bem tê-lo atirado para o campo da metafísica, ele que é o expoente máximo das ciências exactas como a física e a matemática.

  2. LUCINO DE MOURA PREZA says:

    Tornar-se cristão é apenas o início de uma vida maravilhosa. Deus raramente leva as pessoas para o céu no momento em que se tornam cristãos. Ele tem trabalho para si aqui naTerra.
    “Nascer de novo” é como sair de dentro dum ovo. Muito antes do seu nascimento, ainda antes de você ser concebido, Deus já o tinha em mente. Desde o princípio que Deus já tinha um propósito especial, um papel para você desempenhar aqui na Terra e na Eternidade. No entanto, você nunca encontrará nem cumprirá esse propósito se não crescer na sua vida cristã. Não basta simplesmente sair do ovo… você tem que voar.
    Soren Kierkegaard, um filósofo dinamarquês, contou certa vez uma história passada na sua terra, sobre um bando de gansos. Todos os domingos os gansos reuniam-se num quintal à volta de uma gamela. Um dos gansos, o “pregador”, subia com dificuldades à barra mais alta da cerca e exortava os gansos, falando da glória da “gansidade”. Lembrava aos seus ouvintes como era maravilhoso ser ganso e não uma simples galinha ou um reles perú. Lambrava aos gansos a sua grande herança e falava das maravilhosas possibilidades do futuro.
    De vez em quando, enquanto ele pregava, passava lá no alto um bando de gansos selvagens, que vinham da Suécia, voando sobre o mar Báltico, em direcção à soalheira França – formando um perfeiro V. Quando isso acontecia, todos os gansos do quintal olhavam para cima e comentavam entre si, entusiasmados: ” Na verdade nós somos assim. Não fomos feitos para viver neste quintal mal-cheiroso. O nosso destino é voar”.
    Mas os gansos selvagens acabavam por desaparecer do alcance das suas vistas, enquanto os seus grasnados ecoavam no horizonte. Os gansos do quintal olhavam a sua volta, viam o seu pequeno mundo familiar, suspiravam e voltavam a patinhar na lama e na sujidade do quintal.
    Nunca voaram.
    Tristemente, há um grande número de pessoas no reino de Deus que permanecem no quintal, sem nunca estenderem as suas asas nem aprender a voar.
    Deus tem um objectivo para si.
    A Salvação- no seu sentido mais elevado – é o processo pelo qual você se transforma naquilo que realmente é no entender de Deus.
    A Conversão – o novo nascimento- é um acontecimento.
    Acontece apenas uma vez. É a experiência de sair ds trevas para a luz, de passar da morte para a vida. A Salvação, por outro lado, é um processo. Começa com a conversão e, continua até que você esteja completamente transformado de acordo com a imagem de Jesus Cristo.
    Amigos na mesma!!!!!

  3. nightwishpt says:

    Amigo de um qualquer deus cruel, ou na melhor das hipóteses completamente indiferente, não sou certamente.
    E como me é incrivelmente difícil acreditar noutro tipo, pois os que temos nas religiões só dizem para matar, torturar entre outras coisas simpáticas e estes ou são a favor ou não se importam que esses escritos sejam levados a sério.

  4. Tiro ao Alvo says:

    Caro nightwishpt, quando, nos comentários acima, escreveram “amigos na mesma”, não era para dizer, penso eu, “amigos na mesma” de … Deus. Não. O que ali se pretendia dizer, pareceu-me e eu estou de acordo, é que, mesmo quando um é ateu e outro é cristão, podem ser “amigos na mesma”, e vice-versa.
    Passe bem.

  5. Céu Mota says:

    claro: amigos na mesma (ateu amigo de cristão e cristão amigo de ateu).

  6. Com tudo o que levamos, o que somos e possamos expressar no ir sendo, eu noto toda a boa fé neste e anteriores post de Céu Mota e levo-me com eles o seu valor em bons momentos de aprendizagem. Nada tem que ver com discordar em questões de fé em algum Deus. Como limpamente noto a boa fé no que comunica Céu Mota, limpamente noto a adulteração da tragédia quando entra o “serviço” de Deus a “velar pela nossas” vidas. Coincido que é um tema interessante e à vez sério.

  7. antonio oliveira says:

  8. adão cruz says:

    Com todo o respeito pelo amigo Lucino Preza e pelo inalienável direito que ele tem de acreditar no que quiser, eu pasmo ao ver como é possível levar a sério um texto destes!

  9. Abel Barreto says:

    Cresci e fui educado no seio de uma família católica de um meio rural. Frequentei a igreja, onde a presença era obrigatória ao domingo e dias santos; fiz a comunhão e fui benzido pelo bispo.
    Rezei e solicitei ajuda muitas vezes a Deus.
    A partir de certa altura fui-me afastando. A igreja, os padres, toda aquela conversa repetida, Eucaristia após Eucaristia, e o sentimento da necessidade de Deus, deixou de fazer qualquer sentido.
    Senti-me, então, ludibriado e usado.
    Agora, não descartando a hipótese da existência de qualquer força ou energia fora do alcance da nossa capacidade de compreensão e que tenha influência, directa ou indirecta, na evolução do universo no seu todo ou na minha vida enquanto ser vivo, entendo que a existência ou razão de ser de tal “entidade” será, sempre, explicável à luz da razão.
    No que toca ao Deus, seja ele de que religião for, compreendo que exista na cabeça da generalidade dos homens e mulheres e que muitos o encarem como uma solução para os seus males e uma ajuda nos momentos de aflição. Não compreendo, porém, que pessoas com inteligência, capazes de pensar pela sua cabeça e muitas vezes fortemente ligadas à ciência, se assumem como praticantes de uma religião em que a “verdade” que a sustém está cheia de incongruências, mentiras e quem a professa o faz com tanto fervor quanto a hipocrisia que emana das suas palavras.

  10. insulas ocidentaes. says:

    A prezada autora,queria por certo referir crente amigo de ateu/amigo de crente.
    O conhecimento da matemática e da física,pode levar-nos a tentar “completar”o círculo.
    Seja ponto de partida/chegada, .
    A “viagem” é tudo e não é nada,”ser ou não…”
    Perdoe-me a insolencia;sinc. Cumpr.

  11. Se Deus fosse batata, alforreca, guindaste ou pedra pomes ou, no limite, uma simples brisa, seria fácil entender a “imagem” que Ele forma nos crentes, ou descrentes (há pessoas que acreditam no que vêem, e pessoas que nem mesmo tendo a realidade escarrapachada na ponta do nariz, conseguem “ver”).
    Porém Deus – exista ou não! – começa por não ser assim. Ele é diferente consoante o ponto de vista e varia muito na forma eventual que tenha ou no conteúdo que lhe encontram. Assim, o Deus do Manuel é forçosamente diferente do Deus da Joana, ou do Einstein…
    Há depois os que acreditam porque se confortam com isso, e também alguns que não acreditam para chatear, ou porque querem ser radicais e diferentes…
    E depois há aqueles que nunca acreditando, denunciando crendices e insultando a pobreza de intelecto dos professantes de uma fé, ao envelhecerem, ao decaírem na espiral inevitável da vida, acabam por se voltar para Ele…
    Pois bem, estou convicto de que Deus existe! Ele talvez não tenha criado o Universo ou a Humanidade, mas esta criou-O de certeza. A “fé” é a resposta tranquila às incertezas e sobretudo ao medo… Lá diz o ditado:”quem tem cu tem medo”. Quem tem (um) Deus vive melhor e receia menos…
    Não ter um Deus é uma enorme responsabilidade… Nem todos – genuinamente – conseguem transportar o pesado fardo da sua emancipação.

  12. MAGRIÇO says:

    Bem visto, Luís! É uma abordagem com sentido.

  13. A ideia de Deus será sempre uma forma de o homem se completar. Encontrar, assim, um conceito de plenitude de Ser. Deus é Amor, Esperança, Misericórdia…
    Deus é aquilo que nós não somos plenamente. Viver sem Deus… Ou, viver sem Deuses…
    Sem Mitos…
    Sem esses IDEAIS…
    É viver sem significado…
    Agora, podemos elevar as estatuto de DEUSES – ENTES SAGRADOS ou PROFANOS!…

  14. MAGRIÇO says:

    Caro António Sequeira, a generalização é sempre um risco. O que diz não duvido que possa ser verdade, mas não verdade universal. O Homem pode ter todas as virtudes que o dignifiquem sem ter necessidade de crer. Ao invés, há muitos crentes fervorosos que são seres abomináveis. Acredite! Conheço alguns…

  15. maria celeste ramos says:

    Nem só os aleijadinhos e que partem uma perna se aproximam de Deus mesmo que anteriormente não estivesse no seu quotidina – Vi todos os programas se Sagan que era relator do seu pensamento – era cientista rigoroso e funcionário da NASA . e nem me recordo a designação do programa que vi há anos mais de 20 anos e adorei -até me recordo de ter aproximada astronomia e astrologia o que achei interessando pois que passei por me aproximar desse “saber odiado pelos inteectuais e cépticoe e demasiados sábios para mim” assim como sua mulher que era biólogo foi perseguida por ter lançado o conceitto de existência de “célula primordial” aliás como também foi perseguida (a massa é de facto cruel e dogmática) Alice Bayley que é uma grande senhora de quem li algumas coisas que são claras como água (até se pode ler na NET) – isto do preconceito limita muito os homens – teríamos que negar e renegar os conhecimentos deixados pela Babilónia – vou mas é pensar no que direi amanhã aos meninos do 1º ano de arquitectura e “provocá-los” – com pessoas de 20 anos entendo-me eu – se calhar “não cresci” – ainda bem

  16. maria celeste ramos says:

    A essência não se vê – só a vê o coração – Saint Éxupéry
    racionalidade não é tudo no homem – e os animais também a têm + inteligência + capacidade dedutiva + coisas que os homens perderam

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