Carta do Canadá: A deferência ministerial

Por entre jactos de  imundice que jorram da sujeira do chamado  “caso das secretas”,  as primeiras páginas dos jornais informam: “Relvas recebia mensagens a que respondia “por deferência”.

Fico pasmada com esta originalidade à portuguesa. Na verdade, num daqueles países democráticos e normais, um ministro que receba mensagens clandestinas dum funcionário pago com os dinheiros públicos, chama a polícia e obtem garantias de o caso ser julgado em sede própria. Isto é, mostra deferência pelo lugar que ocupa e pelo povo que lhe paga a cadeira ministerial e as mordomias inerentes. Numa palavra: respeita e dá-se ao respeito.
Mas também fico edificada com a mensagem que o ministro Relvas fez passar com esta actuação e que o povo unido registará na memória para o que der e vier. Há cerca de um ano morreu subitamente em Toronto um jovem português, o Tiago Lopes, trabalhador que entrou no Canadá  como turista, a exemplo do que largas centenas de compatriotas têm feito movidos pelo desespero de não arranjarem trabalho em Portugal. Tentou a sua sorte como muitos outros o têm feito. Natural de Tomar e sem parentes no Canadá, era mais do que lógico e natural ser sepultado na sua terra. Mas os pais não tinham meios de proceder ao transporte do corpo. Bateu-se à porta do Consulado de Portugal e à da Secretaria de Estado das Comunidades: nenhuma se abriu. O que se compreende porque são como a polícia de giro: nunca aparecem quando é preciso. A sua vocação é  pedir votos e remessas de dinheiro aos emigrantes portugeses. Adiante.  Desesperados, os familiares do  Tiago apelaram ao ministro Relvas. Porque o ministro Relvas acumula com a presidência da Assembleia Municipal de Tomar, uma autarquia que, no dizer despachado
do governante, é como as outras todas: também sofre de “esquizofrenia”. Relvas não respondeu, nem como membro do governo nem como homem solidário.  Não  teve essa deferência.  O funeral foi pago pelo povo de Tomar e alguns compatriotas.
A mensagem é clara: a deferência ministerial vai por inteiro para os “irmãos da Loja”.  Ficamos cientes. E aguardamos eleições. O resto é  conversa da  treta.

Comments

  1. Tito Lívio Santos Mota says:

    QUE DIZER MAIS ?
    FICOU TUDO DITO !

  2. maria celeste ramos says:

    Ou foi em 2011, deportada do Canadá xutada para os Açores, família de vários membros e que já lá vivia há não sei quantos anos sem problemas nem ajudas estatais, e deram entrevista na TV – que vi – não perceberam a expulsão pois eram emigrantes mas não “clandestinos” – mas é sabido que agoar o Canadá já não precisa de emigrantes para ser “construído” em habitação ou estrdas, ou com+ercio ou outros, pelo que, co mo a Suissa (que já não quer nem mais emigrantes portuguses que igualmente recontruiram pedra a pedra a europa detruída por hitler) +++++++++++ etc
    Relvas ?? só para os caezinhos fazerem cócó com mais confordo que que nos passeios

  3. Fernanda Leitao says:

    MARIA CELESTE RAMOS. Tanto quanto percebi da sua intervenção,que agradeço, está revoltada com o Canadá por causa das deportações. De facto, é triste que aconteçam essas deportações. Mas as leis e regras da imigração são de malha apertada e por isso é preferivel os candidatos a imigrantes irem à embaixada do Canadá para saberem que profissões está o país a pedir, que hipóteses têm,etc. Mas não podendo ser, tendo de entrar como turistas, então é aconselhável que, arranjado o primeiro trabalho clandestino, arranjem logo um advogado da especialidade que ponha o processo a correr na Imigração do Canadá e lhes arranje uma licença de trabalho. É meio caminho andado. Muitas pessoas não procedem assim, em geral por falta de informação, deixam-se andar e podem ser apanhadas pela Polícia da Imigração. Algumas vezes isso acontece por denúncia de falsos amigos.
    Como deve calcular, o Canadá não ficou parado no tempo. Evoluíu. Tem hoje necessidade doutras profissões que não as chamadas braçais e admite aqueles de que precisa. Não podemos censurar por isso, tanto mais que os milhares de trabalhadores sem qualificação que recebeu foram respeitados, fizeram a sua vida, compraram casas e negócios, educaram os filhos, tiveram pleno direito ao Serviço de Saúde e às reformas quando o tempo chegou. O Canadá é um (enorme) país feito por imigrantes de 180 países. Isso, creio, não é pecado.
    Pecado foi Portugal ter evoluido pouco em termos produtivos e ediuadionais, , além de ter tido por 500anos um vasto e rico império, sem que tivesse criado condições que evitassem a saída. dos seus cidadãos. Algumas vezes, como agora,em massa. Resulta até chocante que países mais pequenos do que Portugal recebam grande número de emgrantes portugueses. Creio que Portugal tem de arrepiar caminho, cortar de vez com a incompetência, a irresponsabilidade,a corrupção, a partidocracia estúpida que dá estas relvas e coelhos sem préstimo.
    Espero ter esclarecido um pouco. Disponha sempre.

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