Despacho de organização do ano lectivo 2012/2013 – segunda análise

Os leitores do Aventar, menos interessados nas coisas dos Professores, merecem uma palavra de atenção da minha parte. Neste momento, a catástrofe que Nuno Crato tem montada sob a Escola é de tal ordem monstruosa (tantos adjetivos!) que não há como escapar ao tema. E é um assunto tão técnico, que nem sempre é fácil desmontar os argumentos para quem está “de fora”. Mas, vou tentar – vamos lá então.

Mesmo correndo o risco de ser epidérmico ou adjetivante, penso que valerá a pena olhar para o Despacho mais famoso dos últimos dias, ainda que através do olhar de um professor. E vou voltar à questão dos minutos e dos tempos, uma vez que a alteração de 45 para 50 minutos, segundo a minha leitura, vai fomentar o desemprego entre os professores.

Vejamos esta matéria, observando dois pontos:

Ponto 1:

Até agora, a componente letiva (“aulas”) ia de 14 a 22 horas, havendo um ou dois tempos da “famosa terceira coluna” (TOA, remanescente, superveniente, …) para apoios a alunos, projetos ou outro tipo de atividades (não podiam ser usados em substituições).

Um professor sem redução trabalhava 24 tempos, dos quais só 22 eram aulas com as suas turmas. Ou seja, 990 minutos com os seus alunos e mais 90 para a tal terceira coluna.

Com o novo Despacho, os tempos da terceira coluna são incorporados na componente letiva. Do ponto de vista dos professores que ficam no sistema, quase não há diferença – continuam a trabalhar 24 tempos, por exemplo. Mas, há uma diferença MUITO significativa – os 24 tempos podem ser totalmente letivos.

Uma observação atenta da tabela verde (coluna dos minutos) permite perceber que cada professor vai trabalhar mais dois tempos com turma (os docentes com 14 ou 16 tempos, vão trabalhar mais um). Esta situação vai gerar, claro, mais desemprego, porque se eu posso dar mais duas horas, há alguém contratado que vai deixar de as dar…

Ponto 2:

A sugestão de organização curricular do MEC aponta para tempos de 45 minutos. Mas, no Despacho de Organização do ano letivo indicam que o horário completo de um professor será 22 tempos de 50 minutos (1100 minutos).

Esta nova forma de apresentar as coisas em minutos leva-me a uma enorme dúvida, expressa na coluna das sobras (tabela verde). Um horário completo de 1100 minutos, organizado em aulas de 45, dá qualquer coisa como 24 tempos e 20 minutos.

O que vai acontecer com estas “sobras”?

Juntar as sobras do mês e dar uma aula suplementar em cada um dos meses?

Juntar as sobras e acrescentar tempos de aulas no fim do ano? Do trimestre?

Compensar esse tempo com aulas de apoio aos alunos com mais dificuldades?

Juntar todas as sobras em créditos para a escola? Para o grupo?

Responda quem souber.

Comments

  1. Rosário Besteiro says:

    So a testemunha fiel de que com esta (des)organização, ao fim de 31 anos de ensino e sempre a dar o meu máximo e quem me conhece sabe disso fiquei sem trabalho e um ano ainda as coisas se vºã compondo porque poso ficar com horáro zero, no fim do próximo ano vou para o desemprego com 53 anos de idade. Como pode alguém no seu perfeito juízo fazer face a uma situação destas? Sou mais um à beira não sei bem ainda de quê, no ento posso-vos assegurar nada de bom se me afigura e só me resta desaparecer…

  2. Maria Cunha says:

    Pois… Já o sr. primeiro ministro nos “convidou” a emigrar… Ele sabia bem o que dizia… O pior é que não são os filhos dele que ficam em risco de passar dificuldades! Apetece-me perder a pose e chamar nomes, mas não vale a pena!

    • beijoca says:

      Vale bem a pena, sim. E eu bem que emigraria se soubesse para onde, mas sem antes ir a S.Bento à Assembleia ou aos quintos dos infernos e chamar todos os nomes feios e maus aos políticos deste país, sobretudo aos políticos da educação que, ao longo dos últimos anos tem andado a bater nos professores que tantas pestanas queimaram, tanto dinheiro gastaram e tantos nervos padeceram. Em vez de nos louvarem, deitam-nos abaixo e querem eles continuar a chamar estado de direito a este sítio onde vivemos. Sem educação a sério e sem professores a sério é impossível. Se nos querem despedir, comecem por cima e averiguem quem trabalhou, mostrou resultados e isto também abrange a formação individual, dita contínua de cada um.

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