Saudades de Cerejeira

Posso gostar mais ou menos ou nada das opiniões emitidas por clérigos e afins, mas não gostaria de viver numa sociedade em que estivessem proibidos de falar. Por outro lado, as generalizações são sempre injustas, é certo, mas a História da Igreja Católica contém demasiados episódios de ligações a poderes opressivos ou de práticas sinistras, com torturas físicas e psicológicas incluídas.

De braço dado com o Estado Novo, a Igreja portuguesa do século XX participou em várias indignidades, quanto mais não fosse por omissão. A mesma instituição que nunca perdeu tempo a criticar as ditaduras de esquerda incitava os fiéis a acatar mansamente a miséria e a opressão.

Januário Torgal Ferreira poderá ter exagerado (ou não) na comparação entre Passos Coelho e Salazar, mas teve a coragem de dizer o que lhe vai na alma, ao convidar os portugueses a revoltarem-se. A Direita, sempre católica e pouco cristã, mostrou, imediatamente, as garras, esquecendo o carácter revolucionário de um messias que arrastou multidões e que, muito provavelmente, estaria hoje do lado das vítimas do poder.

A verdade é que a Direita gosta dos cardeais e dos bispos e dos padres que colaboram no adormecimento das ovelhas e vive saudosa de um certo aroma a Cerejeira.

Comments

  1. MAGRIÇO says:

    Nunca é demais recordar a cumplicidade que sempre existiu entre as ditaduras (não só por cá!) e a igreja. Quando um seu representante tem a coragem de criticar o poder que não defende os seus cidadãos, só podemos aplaudir. Infelizmente, não faltam espíritos limitados que colocam a igreja e os políticos da sua eleição acima de qualquer crítica e aceitam, com a resignação de carneiros, serem imolados no altar das vaidades e dos interesses económicos. Já não há pachorra!

  2. Subscrevo inteiramente este post!

  3. CM-sábado 08 junho 2012-Menina violada e filmada por colegas – crime cometido por alunos de Escola de Coimbra – fazendo refª ao post escrito por Magriço, gostava de saber quem são os “carneiros” de espírito limitado e a que classes etárias e socio-culturais se refere, para salvar o país de tão intrincado imbróglio – por mim gostava de saber quem de 20 a 30 anos se interessa por política, pela situação do país e porque é o que é, que cultura colectiva têm e mesmo escolar (não sabem ler nem escrever e o doutoramento não sei até onde é o que é) – com que população “conta” da que não emigra e trata da vidinha – do carrinho e da casinha e do canudinho Bolonha – que cultura política têm para não serem “carneiros”, como está o ensino médio dos meninos dos 10 aos 18 anos e que pêso socio-cultural têm, que nada mais querem a não ser propinas de borla e cantinas de borla e vida de borla ?? e copos – são esses os carneiros ?? e os futuros governantes ? que ensino há ?? e que grau de responsabilidade vão adquirindo até depois copiarem na entrada para o ensino universitário ?? – No meu bairro há 3 universidades (agronomia+Belas Artes+Veterinária+ Gestão) + Belas Artes (privada) e 3 Escolas de ensino Médio + escolas primárias pública e privada e 3 Creches – crianças aqui não faltam de todas as idades dos 03 anos aos mais de 20 – não falo com todos mas com muitos e sobretudo oiço muitos pois há lugares de parar e estar e estudar e conviver – e pelo andar da carruagem ? quem irá lá dentro ? E professores serão todos uma “maravilha” ???

  4. Tito Lívio Santos Mota says:

    que fez Bento XVI ao chegar a Portugal?

    Uma homenagem a Cerejeira.

    A maquilhagem muda, mas a merda é sempre a mesma.

  5. Maria de Portugal says:
  6. O bispo Torgal pertence às Forças Armadas e deve respeitar o que essse estatuto exige, nomeadamente a total abstenção de declarações políticas, de qualquer teor. O bispo Torgal é pago por todos nós para que os militares católicos tenham assistência religiosa, e não para que nos brinde com considerações inaceitáveis em qualquer país do 1º mundo. O bispo Torgal devia ter sido imediatamente demitido.

    • António Fernando Nabais says:

      E o que me diz, então, das declarações do Cardeal Patriarca a apoiar o corte parcial do subsídio de Natal, o ano passado? Não é isso uma declaração política? Se sim, o Cardeal Patriarca não deveria ser demitido? Posso ser tendencialmente anticlerical, mas não defendo, de maneira nenhuma, que um membro da Igreja esteja impedido de intervir civicamente ou de dar opiniões, sujeitando-se, evidentemente, a ser criticado, se for esse o caso.

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