A TDT e o fim do mito do Portugal tecnológico e inovador

“A imagem parada, a olhar para nós sem dizer nada” diz uma pessoa do Sardoal. São retratos de quem foi aconselhado pela PT a comprar o descodificador mas que não funcionou, acabando por comprar o conjunto de recepção por satélite. Testemunhos de quem quer ver a televisão para a qual paga mensalmente uma taxa mas que, à noite, não funciona.

Há clichés que aparecem como que naturalmente. Fale-se de gadgets e de novidades tecnológicas  e lá vêm os exemplos da Via Verde, do Multibanco e da curiosa adesão aos SMS. Diz-se então que os portugueses têm uma apetência natural para as novidades tecnológicas. Como se os outros povos fossem obtusos e não tivessem esta capacidade lusa de vislumbrar os el dourados electro-digitais.

A tese já tinha sido abalada com os chips nas matrículas e, agora se comprova, com fundamento. O verdadeiro objectivo era apenas preparar a cobrança das portagens nas SCUT. Tantas vantagens, tanta inovação, quando o objectivo estava afinal dissimulado. O mesmo se passa com a TDT. Foi vendida a ideia da televisão melhor, tanto no som como na imagem, para agora se constatar que as condições de recepção são piores e os canais são os mesmos. E que foi preciso pagar para piorar.

A imagem parada, a olhar para nós sem dizer nada” diz uma pessoa do Sardoal, na reportagem do programa Este Sábado, da Antena 1. Retratos de quem foi aconselhado pela PT a comprar o descodificador mas que não funcionou, acabando por comprar o conjunto de recepção por satélite. Testemunhos de quem quer ver a televisão para a qual paga mensalmente uma taxa mas que, à noite, não funciona.

Com a TDT, negócio ruim para os portugueses mas frutuoso para a PT e mais alguns, há o mito do Portugal tecnológico e inovador que cai, revelando  que, por entre negócios e  propaganda, apenas gostamos de geringonças tal como outros povos delas gostam. Este mito foi explorado na base de que a abertura à novidade seria ponto de partida para o sucesso da televisão digital. No entanto, faltou o básico: funcionar bem e não imputar  os custos da mudança a quem já estava servido. Não foi erro, pois esses não são premeditados.

Há agora um potencial de negócio nas frequências que ficaram livres como prova do dolo e que, na ausência de um estado que zele pelos interesses colectivos, nos sirva de aviso à próxima grande maravilha que nos seja anunciada.

Comments

  1. alguémquefalou says:

    isto está mas é tudo viciado. são sempre os mesmos que ganham. então isto do tdt foi cá um negocião!

  2. josé correia says:

    O assunto TDT não passa de uma grande burla: alguem (e todos sabemos quem) está a embolsar lucros tremendos à custa do zé pagante que, anteriormente ainda conseguia visionar quatro canais e que agora nada consegue ver… Afinal, apenas se retrocederam vinte anos na máquina do tempo…
    As entidades cuja missão é regular todo este negócio estão, como sempre, ao lado daqueles que lhes vão enchendo os bolsos e não, como seria natural, zelando pelos interesses de quem, com os seus impostos, lhes vai permitindo usufruir do tacho mensal…
    Também por aqui a Justiça deveria actuar, já que de autêntica gatunagem se trata.

  3. Chamar ladrões a estes tipos, é pouco. Sinto nojo.

    Não sei se no Sardoal isto é solução, sei que muita gente, mais junto da fronteira, aproveita este serviço.

  4. Isto é um escândalo de todo o tamanho uma autentica vergonha e um assalto aos portugueses.
    Tanta gente privada de ver televisão em pleno século xxi.
    Quatro canais de merda (RTP2 ainda se aproveita) pagos e com uma qualidade muito pobre e não se julgue que a má qualidade da imagem e emissão parada acontece só nas aldeias do interior, vivo no Porto e não há dia que a minha mãe idosa não reclama pelo serviço.

    cumps.

    • jorge fliscorno says:

      Acontece em todo o país. Basta haver uma zona de sombra.

      • Mas não era suposto a qualidade da imagem e o serviço no geral ser melhor do que o analógico?
        Zona sombra?? Já estou mais descansado então, por não ser só em minha casa, que alivio não sou o único burlado. Paguei um descodificador para ver musgo na TV e as vezes grandes obras plásticas no ecrã. Enfim

  5. chatice says:

    A próxima está já aqui, OS CONTADORES INTELIGENTES e Internet das Coisas, em parte a bronca já começou em relação às tarifas horárias mas como se torna claro em Évora e internacionalmente, como explicar o misterioso inexplicável aumento das facturas de electricidade?
    http://recusecontadoresinteligentes.blogspot.com/

    • jorge fliscorno says:

      «como explicar o misterioso inexplicável aumento das facturas de electricidade»

      Não há mistério algum. Por um lado, o estado, simplesmente, decidiu viabilizar o negócio das renováveis com a factura eléctrica e, por outro, há uma monopólio.

      Quanto ao link e as supostas radiações desses contadores, tal como já aqui foi amplamente discutido, isso é desinformação. Já agora, espero que siga os seus próprios princípios e não use telemóveis.

Trackbacks

  1. […] RTP tem agora este slogan.  Mesmo que fosse verdade (confrontar aqui e aqui), de que valeria isso se o conteúdo continua o mesmo? Filed Under: sociedade Tagged With: […]

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