Fartos de Sujeira

Fernanda Leitão

Algumas vezes tenho ouvido e lido pessoas com responsabilidades na vida pública inquietas com o que lhes parece a aversão dos portugueses aos políticos e à política. Nem sempre o que parece é e por isso discordo dessa opinião. E explico porquê.

Os portugueses apreciam a política quanto baste e, em algumas ocasiões,têm mostrado discernimento e maturidade. Uma dessas ocasiões foi quando, nas primeiras eleições livres, rejeitaram a maioria que o PC ambicionava: perceberam que não era inteligente, nem sensato, substituir uma ditadura de 48 anos por outra ditadura que, na altura, já escravizava há dezenas de anos vários países no mundo. Na sua grande maioria, os portugueses apreciam o centro-esquerda e por isso o CDS só tem chegado ao poder como atrelado do PS ou do PSD, para fazer número e negociatas, ao passo que o PC e a extrema esquerda se mantêm numa marginalidade ruidosa mas de utilidade. Reviram-se em Francisco Sá Carneiro e os fundadores do PSD,todos eles de centro esquerda, homens que se pautaram por honestidade e mãos limpas de quem, com verdade, não se pode dizer que usaram a política para encherem os bolsos. E deram o seu apoio eleitoral ao PS sempre que este enfrentou os comunistas ou simplesmente era alternativa de poder.

Mas o tempo passou e as coisas mudaram nesses partidos. A morte de Sá Carneiro e de alguns outros, bem como o afastamento de muitos por idade, trouxeram o abastardamento e corrupção do PSD graças ao protagonismo de emergentes saídos da JSD ou de prateleiras obscuras onde a ambição sem freio era bem maior do que o mérito dos dirigentes a haver. Nada seria como é se Francisco Sá Carneiro fosse vivo, pois já teria partido a loiça toda e varrido os cacos Isaltino, Valentim Loureiro, Dias Loureiro, Oliveira e Costa, Catroga, vários autarcas, vários secretários de estado,Relvas e companhia. Mesmo Cavaco Silva já teria levado um valente puxão de orelhas e não é garantido que tivesse chegado a PR e menos ainda que ganhasse um segundo mandato. Garantidamente, não poderia haver um governo como o que há hoje por ser impossível Sá Carneiro aceitar passivamente estes “dótores” de fancaria formados por universidades de encher chouriços. Nem essas universidades andavam à rédea solta como têm andado.

Porque a corrupção não nasceu hoje, vem desde os finais da década de 1980. Quem anda no PSD desde esse tempo sabe muito bem o que tem feito Relvas e quejandos. Mas todos se calaram, por cobardia ou conveniêcia, e foi com uma ovação que há dias saudaram Relvas no último Conselho Nacional do PSD. Ficam as acções com quem as pratica e ficamos nós, os eleitores, todos cientes do que a casa gasta. Como também ficamos elucidados quanto ao facto de o vice-presidente do PSD no Porto, Firmino Pereira, ter tido a honradez de declarar ao país que o PSD tem o dever de condenar o procedimento do ainda ministro Revas, o que lhe valeu ter sido admoestado e mandado calar por Meneses, o de Gaia, o medíocre com mais olhos que barriga, o pai dum garotola que anda pelo parlamento a dizer asneiras com ar emproado, e os contribuintes a pagarem esta política hereditária como uma doença. Passos Coelho finge-se de virgem, dá a entender que não sabe de nada, mas já não engana ninguém: pertence ao grupo. E até aquilo que se apontava como as suas “boas mneiras” está a caír como uma máscara. Basta ver como perde a linha quando é confrontado,seja por populares ou pelo presidente do Tribunal Constitucional: põe a mão na anca e responde em estilo peixeiral. E, entretanto, todos continuam impunes enquanto a Justiça dorme. E esse é o maior problema do país.

Também o PS nunca se recompôs do tiro de canhão que foi o livro de Rui Mateus nos anos 90. Mais uma vez, tudo ficou embrulhado, ninguém foi chamado à responsabilidade.
O que é mau para o país. Mas, apesar de tudo, os portugueses encaram-no como uma alternativa perante o estronoso fracasso dum PSD neo-liberal, todo adepto de uma direita selvagem e revanchista.

Há, no entanto, um pormenor importante. É uma constante os figurões de toda esta lama política e académica serem apontados publicamente como membros da maçonaria. E porque a memória histórica existe, pelo menos desde os assassinatos do Rei D. Carlos e do Príncipe D. Luis Filipe, logo seguidos dos de Sidónio Pais, dos da Noite Sangrenta de 1921, em que o pombo-correio que levou os assassinos às moradas das vitimas foi um repórter do Correio da Manhã, por tudo isso é caso de perguntar à maçonaria: até quando vais ajudar a destruir Portugal? Ainda não estás satisfeita?

Seja como for, os portugueses anseiam por políticos honestos. Boa prova disso foi o sentido pesar do país inteiro quando morreram Saldanha Sanches e Miguel Portas. Ninguém se importou que fossem da esquerda radical, todos lamentaram o desparecimento de dois políticos inteligentes, corajosos, honrados, que encaravam a politica como um serviço ao povo. Ao povo apenas faltam líderes para que acabe esta maldição.

Comments

  1. Pisca says:

    Este tipo e posts são para mim delirantes, começam e acabam sempre numa unica ideia, o Sá Carneiro vivo teria colocado o País no Paraíso, como não sucedeu, só resta ir tudo numa romagem, de joelhos se possível, pedir a vinda de um qualquer “iluminado sucessor”, os que andam por lá, há que esquecer com urgência

    Mas não consegue ver que andam a “governar” esta terra há 35 anos, com as mais variadas formas e feitios ? Mesmo na dita “oposição” quando é preciso juntam logo os trapinhos

    Enquanto a tal “descida à terra”, teremos que ir engolindo o que há, já que a tal “esquerda radical” só serve para enfeitar, no entender da escritora

    Por acaso não vai organizar as excursões para a tal romagem ?

    Um pedido reveja o post e retire os nomes que citou, já basta de incluir os mortos como pessoas decentes, que em vida trataram abaixo de cão

  2. Gostei do post! Análise muito racional!

  3. Amadeu says:

    “… se Francisco Sá Carneiro fosse vivo…”
    Frases destas não acrescentam nada porque qualquer um diz o que quer e ninguém o pode contradizer.
    Agora é a minha vez : Se Sá Carneiro fosse vivo … era sócio do Pinto Balsemão na SIC e tinha uma Fundação para pagar menos impostos. Tinha-se reformado aos 45 anos e viveria na Quinta da Marinha.

    • Frederico Mendes Paula says:

      Os mortos prematuros fazem sempre boa figura porque não tiveram tempo de se atascarem…

  4. Tiro ao Alvo says:

    Não ligue aos comentário tipo “Pisca”. Essa gente não se enxerga.

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