Acordo Ortográfico: o homem da minha vida

Sempre e ainda em busca desse El Dorado que é a uniformização ortográfica alegadamente trazida pelo chamado acordo ortográfico (AO90), descubro, sem perder tempo, um texto brasileiro sobre um livro do enorme Manuel Vásquez Montalbán, El hombre de mi vida. Leiam, por favor:

No final de 1999, a Catalunha se prepara para uma eleição decisiva. Nacionalistas ameaçam o governo autônomo, proliferam seitas satânicas e grupos europeus poderosos tentam criar uma multinacional de informação. A alta sociedade de Barcelona é abalada pelo assassinato do filho de um grande empresário durante um ritual macabro. Para desvendar o crime, é chamado o famoso detetive catalão Pepe Carvalho, ex-comunista e ex-agente da CIA. O detetive logo depara com muitos suspeitos e, para se reciclar, se inscreve num curso de espionagem pós-moderna. Três mulheres complicam ainda mais o trabalho de Carvalho; a antiga namorada, uma ex-hippie e uma espiã nacionalista. À medida que a investigação avança, o detetive-gourmet guia o leitor num passeio turístico e gastronômico pelas ruelas do Barrio Chino, pelos becos do Barrio Gotico e pelos bares das Ramblas.

Aqui

Vou fazer de conta que não existem diferenças sintácticas entre o português do Brasil e o português europeu. Limito-me a notar que, em Portugal, mesmo com AO90 incluído, continuaremos, para já, a escrever “autónomo” e “gastronómico”. Não vos vou contar o final do romance, mas uma coisa vos digo: nem o extraordinário detective Pepe Carvalho seria capaz de encontrar a prometida uniformização ortográfica. Se alguém descobrir, avise, sim?

Comments

  1. António Duarte says:

    Não sou detective, mas ainda encontrei mais uma: espia, e não espiã, é como se diz e escreve em português de Portugal.
    É evidente que querer dar coerência e uniformidade à ortografia aproximando-a da fonética tem como resultado inevitável que países onde se fala e pronuncia de forma diferente acabarão sempre por ter ortografias diferentes.

    • António Fernando Nabais says:

      A espiã escapou-me. Tem toda a razão também na conclusão óbvia.

  2. No priberam existe espiã, como feminino de espião:
    http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=espiã

    E qual é o problema de gastronômico? Ou de António?
    Que tu não saibas nem procures saber se espiã existe, mostra que de inteligente não tens nada.
    Mas ter dificuldade em aceitar “gastronômico” em alternativa a “gastronómico” já mostra outra coisa, mostra que és mesquinho, pequenino.

    • António Fernando Nabais says:

      Ó alminha excitada, mas quem lhe disse que não conhecia a existência da palavra “espiã”? Não a notei no texto, é tudo. A verdade é que se trata de um feminino que não é comummente utilizado em Portugal, como poderia confirmar se consultasse prontuários e dicionários e não se limitasse ao priberam.
      E quem lhe disse que tenho algum problema com o acento circunflexo em “gastronômico” ou com qualquer outra grafia brasileira? Leia com atenção: o texto pretende demonstrar que o AO90 não trouxe uniformização ortográfica e as palavras realçadas servem para provar isso.
      Leia com mais calma, raciocine e evite tutear pessoas que não conhece de lado nenhum. Se o fizer, é possível que venha a ser uma pessoa bem-educada e há, até, a possibilidade de perceber o que está escrito.

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