Rui Ramos, pura vigarice

Já me tinha queixado recentemente do hábito muito português de deixar impunes as vigarices que se disfarçam em ciência histórica e entre nós abundam. Manuel Loff dá hoje um bom exemplo de sinal contrário, desmontando o labor revisionista de um tal de Rui Ramos, vendedor de banhas da cobra várias, com o objectivo muito claro de, neste caso, branquear Salazar e afins. Basicamente a História para Rui Ramos é uma narrativa fantasiosa elaborada sem qualquer rigor para defesa de um programa ideológico, algo à altura de um doutorado em… “ciência política”. Coisa que a esquerda já praticou, convenhamos, com a honestidade de a historiografia marxista sempre se ter assumido como… marxista.

A Joana Lopes publica o artigo saído hoje no Público. Helena Matos não refuta uma linha e diz que é inveja. Um argumento imbatível, ao nível da desonestidade intelectual que caracteriza a nossa extrema-direita.

Comments

  1. José says:

    Pois bem, mas se tirarmos a acusação de revisionismo, que não é acompanhada de qualquer tentativa de a justificar, estas críticas ao trabalho de Rui Ramos não tem qualquer fundamento. É como se o tivessem a atacar simplesmente por não gostarem da opinião dele, apesar de no fundo reconhecerem que não está errada.

    Logo, epítetos de inveja não são totalmente descabidos.

  2. Daniela Major says:

    «O Expresso está a oferecer gratuitamente aos seus leitores uma História de Portugal dividida em nove fascículos, apresentando-a como “um dos livros mais vendidos de sempre” entre os que se dedicaram à nossa história. O Expresso acha (eu não) que este é “hoje reconhecido como um dos melhores livros sobre a História de Portugal”, e terá querido disponibilizá-lo a dezenas de milhares de leitores para quem é apetecível uma síntese em 900 páginas da “história de um grande país”.» – P. Manuel Loff.

    Eu gostaria só de acrescentar mais uma coisa. O volume de Rui Ramos, B. Vasconcelos e Sousa e Nuno Monteiro É um dos melhores resumos de histórias de Portugal. Não é uma análise profunda, não é uma reflexão afincada, mas é uma obra de resumo, muito inteligente e pertinente. Que cumpre bem os objectivos a que tinha sido proposta: fazer um resumo da História de Portugal no sentido da História de divulgação. Sei que Loff faz questão e bem de não comentar o trabalho de B. Vasconcelos e Sousa e Nuno Monteiro mas é necessário dizer que o trabalho destes dois historiadores corresponde a mais de metade do livro. E com ou sem Ru Ramos o livro vale o título de um DOS melhores resumos. Nuno G. Monteiro é um excelente e brilhante historiador e BCS com quem tive a honra de ter aulas é um dos melhores medievalistas deste país. Até posso compreender as críticas de Loff mas parece-me que ele está a julgar a obra por um terço.

  3. edgar says:

    Leia-se a entrevista de Medeiros Ferreira ao Expresso, (uma análise através do umbigo) que, entre outras, inclui esta esta barbaridade: – “,,, A ditadura (salazarista) tinha esse lado artesanal. A ditadura obviamente não era fascista, era simpática e querida”.
    Parece que há muita gente interessada em branquear o fascismo.

  4. Amadeu says:

    E a entrevista do Medeiros Ferreira continua:
    Só conheço um Estado que se tenha proclamado fascista, que foi o italiano. Para mim o salazarismo era uma ditadura repressiva. Considero a repressão salazarista um atentado permanente contra a dignidade humana. A violência podia ser gradual, mas o atentado à dignidade humana era permanente.

    • edgar says:

      E Salazar responde: “A nossa Ditadura aproxima-se, evidentemente, da ditadura fascista no reforço da autoridade, na guerra declarada a certos princípios da democracia”.
      (http://www.avante.pt/pt/2018/opiniao/121267/)

      • Alfredo says:

        Citar o avante sobre o estado novo é tão sensato quanto citar os comunicados do governo sobre a razoabilidade das políticas que implementa.

        • Amadeu says:

          Alfredo: Não foi o Avante que foi citado, foi a entrevista de 1932 do Salazar a António Ferro em “Salazar, O Homem e a sua obra”, Lisboa, Empresa Nacional de Publicidade, 1933, p.74

          • edgar says:

            Obrigado Amadeu por ajudar a demonstrar ao Alfredo como o preconceito embota o discernimento.
            Muito provavelmente, a maior parte do que qualquer de nós aprende ao longo da vida, e da qualquer tira bom proveito, perder-se-ia através do filtro preconceito.

  5. toda esta historia tem as suas nuances tragi-cómicas. Rui Ramos transformado em mascote da direita reaccionária, a viver a sinecura dos alinhados com o regime, a fazer história quase pitonísica: explicar o passado enquanto se deseja o futuro, um portugal ordeiro, céptico e pobre.

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