Ó Samuel, quem tem medo compra um cão

Diz o Samuel De Paiva Pires que só não o tendo lido posso meter a sua pessoa na prateleira da extrema-direita. Acometido da insanidade de que me acusa fui ler uma prosa onde apela estridente e pateticamente a que nenhuma pessoa de bem se passeie pela Festa do Avante, já que todos os comunistas pertencem a um de três grupos: “estúpidos, ignorantes e tenebrosos“, e eventualmente a patologia é contagiosa, através de simples contacto visual.

A pertença a essa fascinante escola de futuros quadros do actual regime que é a Juventude do CDS já me chegava para mais uma vez esclarecer que se BE e PCP são classificados como de extrema-esquerda por um mínimo de decência geométrica o CDS será de extrema-direita, e desta não saio nem dela ninguém me tira (enfim, se vierem armados não terei outro remédio).

Mas a indigesta leitura serviu para um diagnóstico mais apurado: extrema-direita doentia, incapaz de conviver com outros de sinal político oposto, destilando ódio, bisneta dos trauliteiros miguelistas, neta dos talassas de Paiva Couceiro e filha da Legião de Salazar.

Esta incapacidade de se aproximar socialmente do outro é um sintoma clássico do medo burguês (e qual pescadinha de barbatana caudal na boca em simultâneo sua causa), o mesmo medo perante o avanço bolchevique que abriu caminho aos fascismos europeus, levando a burguesia liberal a no mínimo tolerar o avanço dos Duces, quando não abriu os nadegueiros a um Franco.  É precisamente esse medo (que a Festa do Avante combate pela simples evidenciação de que os comunistas portugueses se alimentam ali à frente de toda a gente sem recurso à carne de criancinhas) hoje um bom tema de debate: na ausência de uma URSS que contornos assumirá o novo pânico, fundamental na construção do próximo modelo ditatorial europeu, única forma visível de aplicar o que chamam de “neoliberalismo económico” tão gloriosamente experimentado no Chile? Tem havido um esforço evidente na construção do muçulmano como novo fantasma, mas não me parece que resulte.

Tudo isto envolto num discurso auto-defensivo em que os adversários não têm ideias diferentes, são “dementes”, uma incapacidade total de muito simplesmente ler o que escreve o outro (Samuel De Paiva depois de completamente ridicularizado na sua inépcia argumentativa pelo Tiago Mota Saraiva responde com um fanático “que espécie de conteúdo é que pode ter algum texto destinado a debater com indivíduos irracionais“)* glosando, sem um mínimo de talento, a peçonha de um Dutra Faria e outros panfletários dos salazarismo. Ao que parece já não labem as folhas da livralhada do Maurras, arranjaram uns sucessores. A descendência continua, cantando e rindo, só lhes falta a farda da Mocidade Portuguesa.

* A mim calhou-me outra: sou acusado de o acusar de ter defendido ditaduras. Acontece que apenas constatei, em dois curtos parágrafos, como prossegue a velha prática estalinista de reduzir os adversários a doentes mentais. Prática em que continua a insistir de uma forma tão cândida que dela até acusa os outros. Eu sei que a melhor defesa é o ataque mas há gente que abusa, e o abuso desguarnece todos os flancos.

Comments

  1. maria celeste ramos says:

    .

  2. Pisca says:

    O “piqueno” queixa-se de ninguém “debater” com ele, claro que não, debater seja o que for com um tijolo de 8 buracos com olhos mais que tempo perdido, é um indicio de estupidez natural acumulada

  3. Pisca says:

    Ainda volto, o fulano fala do PREC, creio que na altura ainda andava a saltar de um tim para o outro do progenitor, nasceu em 1986, ouviu contar e bebeu tudo, andam muitos por aí

    • Famílias. Aquelas a quem valeria a pena perguntar onde estavam no 24 de abril. Só por perguntar, nunca responderão.
      E depois vitimizam-se. Sendo sem dúvida verdade que, como é natural, tenham existido casos pontuais em que inocentes levaram por tabela, passaram aos filhos as fábulas, que os levam a meter URSS e PREC na mesma frase. A falta de estudo também ajuda.

      • Aníbal says:

        bolas parecem os pioneiros do ceausescu…os do mpla andavam descalços por causa do calor

        nã o prec foi o melhor que houve assaltamos as casas e os montes vazios…e ia tudo gente fina professores e cagões universitários ia tudo ao saque..

        agora só temos os romenos a limpar 8 casas ou mais por dia…em lisboa claro
        caqui as barracas têm pouco

        • As casas vazias e os Montes abandonados. Tás a ver troll, quando só caganitas uma vez, até passas no controle anti-troll. É pena que depois não leias as respostas.

      • Meu caro, visite o meu site (www.samueldepaivapires.com) e depois venha-me falar em falta de estudo. Se quiser até lhe envio uma cópia dos meus certificados de licenciatura e mestrado. Talvez se surpreenda. Isso e algumas recomendações de leitura sobre o período do PREC e a influência da URSS – aliás, influência que já vinha da Guerra Colonial, como decerto saberá. Quem lhe devia fazer uns testes era eu…

        • Registo que ainda é possível em 2012 alguém achar que estando outrem numa discussão com o alguém não tivesse visitado o seu “site”.
          Mais grave, porque ultrapassa em muito esta discussão, a abertura do ensino superior ao mercado resultou mesmo numa catástrofe da dimensão de Samuel existir academicamente, reduzido-se perante um zeco a invocar as patetices que pelos vistos lhe vão publicando, algumas à conta dos meus impostos.
          No meu tempo tínhamos bons alunos por qualidade geral, outros por génio, alguns por aplicação, os do marranço duravam pouco, pelos vistos o Samuel ainda existe.
          Poupo-lhe os cadáveres da Nato. Não sou contabilista.

          • Julgava que os comunistas faziam bem o trabalho de casa. Pelos vistos já nem nisso são bons. Pobre Stasi e KGB… Novamente, você continua cheio de presunções erradas. Eu trabalho no sector privado; provavelmente quem lhe paga os ordenados sou eu. Se tivesse uma mínima noção do que é a academia portuguesa não diria tamanhos disparates. E sobre isto http://estadosentido.blogs.sapo.pt/2154273.html, tem alguma coisa a dizer ou fica-se pelos insultos que continuam a ir ao lado?

        • C.M. says:

          Samuel, parece que não conhece este tipo de gente. E é provável que não, porque já são velhos e Vs é novo: meia dúzia de livros, todos eles da vulgata marxista mais rasa davam-lhes uma arrogância boçal de beatos. E eram-no, de um santo historicismo que os reconfortava, dando-lhe a noção de que eles, eles apenas, sabiam como seria o futuro do dos séculos… Eram funcionários desse departamento de certezas. O apex da leitura seria algum Gadamer. Depois, temperavam com Foucault, algum estruturalismo, alguma internacional situacionista (os que iam para a Bélgica). Com este “salmis” se construiam reputações. O marxismo, claro está, passou a nada ter a ver com a URSS, não lhes fazendo espécie que gente de Sartre a Kingsley Amis (que não conheciam…) nunca tivesse posto em causa que a URSS era marxista e socialistas. Essa clarividência é toda post-facto, mas condiz com a desonestidade com que durante anos mentiram.
          Não vale muito a pena. Hoje em dia, eles e crenças são apenas um life style retro, à espera da próxima sublevação árabe que há-de arruinar o “capitalismo”. Deve haver guias, que substituem, com vantagem, o contacto. São pitorescos, mas cansativos e conhecido um, conhece-se todos.

          • Enfim, casos perdidos, nada a fazer. O facto de esta gente existir academicamente ajuda a explicar porque existem tantas mentes perpassadas por falácias e erros básicos.

          • Ena, vieram reforços:
            – “santo historicismo”
            – “arrogância boçal de beatos”
            – “O apex (é latim?) da leitura seria algum Gadamer”
            – alguma internacional situacionista (os que iam para a Bélgica)
            etc. (quem é o Godamer, méne?)
            Fino. Isto bebe-se nas Caldas, ou no largo sem cerâmica? é que se da minha geração não arranjam melhor que meter a IS nos flamengos, e outras patetices que vão dar ao mesmo, chamem alguém de jeito.
            Chamem alguém de Coimbra, que diabo. Eu sei que eles fizeram a sua vida, mijando-se menos em público e mais nas empresas. Mas ainda se conseguia ter uma ideológica decente com um Xavier que com este EP repetitivo.

  4. Jasus o Prec uma boa says:

    por tabela ? quando voltei da DDR tinha uma família de fascistas colonialistas retornados
    lá no barraco e só sairam em 2000 e só pagaram 2.500$ em 1981…por mês
    e mim pagava 3 contos e quinhentolas por um quarto em oliveira de azeméis….

    o prec foi nice

    • Lá tá, assim edito-te. Uma chatice, mijas e caganitas sempre várias vezes. Mas começo a apiedar-me de ti: quem pagava 3500$00, preços de 70, ainda por cima em Oliveira de Azeméis, é provável que tenha ficado incontinente para o resto da sua vida imaginária. E tavas na DDR, é claro, a tirar um curso com o Artur Jorge. Tiraram-te foi a mesma parte dos miolos, mas mais cedo.

  5. Fernando says:

    Não existe URSS, mas existe muçulmanos, e quando não existir muçulmanos existe os marcianos!!
    Depois, os mesmos de sempre, mandam para Marte as Halliburtons e Blackwaters, e depois dizem que estão a defender o “mundo livre”!!

  6. C.M. says:

    Samuel, Cardoso é de Coimbra. Medonhamente provinciana, um local onde duas figuras ilustres das oposições se acusavam um ao outro de serem da pide… O ambiente era esse, assim passavam o tempo, entre as récitas do Teuc, que em 1974 seria algo como a 1547ª reposição de uma qualquer peça de um qualquer Brechet. Desta gente, os melhores sabiam alemão. Inglês, ninguém sabia! Quem desta gente conhecia Proust ou Joyce? Quem lia Yeats ou Elliot? 3, 5? Chegariam a 10? Da filosofia analítica, nem sabiam que existia: não conheciam nada que não fosse transcrito em francês. Wittgenstein? Frege? Não era malta porreira, e seriam “reaças”. Liam Martha Hanecker, uma divulgadora do marxismo. Os mais audazes, se eram de letras, sabiam quem era Barthes e Levy -Strauss.
    Alguns liam Breton, que fazia parte de uma lista de rebeldes devidamente autorizados.
    É triste, eu sei, mas era (é) assim.

    • Como disse num comentário anterior, o Cardoso é que precisava que lhe fizessem uns testes… E a resposta do Cardoso ao seu comentário anterior ilustra bem a boçalidade com que estamos a lidar. É triste, pois.

      • C.M. says:

        Caro Samuel,
        Eeheheh. Gosto do “quem é o Godamer, méne?” É bem possível que não conheça mesmo o Gadamer. A fundura da ignorância, do provincianismo autóctone é de difícil medição. Será que só conhece mesmo o Habermas? É possível.
        Repare ainda como assinalou a intimidade com a internacional situacionista (IS) e, como leu o que não escrevi, julga que exilei o Debord.
        O resto é a paisagem. Devastada paisagem. No brain zone.

        • Pelo menos o Cardoso não hesita em colocar a nu a ignorância. Devíamos aplaudi-lo. E conhecerá sequer o Habermas? Eu também gostava muito de saber é o que ele(s) pensam de Camus…

    • Por acaso até andei pela primeira representação de Brechet que por aqui se fez (em 75, antes de 74 era proibido, Pide, etc, detalhes), no Liceu, que os mais velhos é verdade que se entretiveram a discutir textos durante esse muito entretido ano lectivo, mas sempre dás mais luta. A ver:
      – “as récitas do Teuc” isto foi quando?
      – “Proust ou Joyce? “desculpai, eu é mais Céline. Os entretenimento da burguesia, dão-me sono. Mas tens a certeza? Ninguém os lia por aqui? que diabo, isso dava uma tese sobre as influências do Mondego na leitura, é que não sendo das águas, será do preconceito.
      – “Inglês, ninguém sabia!” (claro, sabíamos alemão, a culpa deve ter sido do Quintela, muito imaginativo, perdoai o meu francês, c’est de connard)
      – “Quem lia Yeats ou Elliot” (“Os nosso melhores poetas são fascistas”, busca, busca, que chegas ao livro).

      É triste, eu sei, vocês continuam assim. Nem vão beber um copo à coisa do Avante, e ainda pensam que a leitura do Independente faz um homem culto. Fez-me, numa certa aprendizagem da escrita do dia a dia, que subsidiei militantemente durante anos, por amor à aprendizagem e oposição ao Cavaco.
      Agora, e falando a sério: tu ainda acreditas que um poeta em inglês é capaz de fazer um broche ao Rimbaud? eu duvido, mas a falta de gosto, e sensibilidade, admito, pouco se discute.
      E finalmente, porque quem vai à guerra tem de levar, é assim C.M, “Coimbra tremendamente provinciana” metia-te pelo cu acima num instantinho a torrinha da universidade toda, esse teu prazer imenso no intestino, sem vaselina, ó mosquídeo capitalense, precisavas era de não ser um cobarde sem nome.
      Porque não é um tolo provocador de meia-gamela que insulta onde se fundou Portugal, e se foi fazendo o que ele pensa, para o melhor, e sem dúvida que também para o pior.
      Não seria só eu, com grande probabilidade quem te dá de comer faria o mesmo (a menos que roubes por herança, no caso dos patos bravos tudo é possível). Mas precisavas dessa coisa chamada nome, que é um exclusivo de homens e mulheres que se prezam.

      • Victor Santos Carvalho says:

        Verifico que falando de uma situação geral fiz particularizações. Fica por isso – e apenas por isso – constituído no direito a saber o nome que uso habitualmente.
        Não tiro uma palavra ao que disse e o que diz constituem meras diatribes sem resposta.
        É desnecessário confidenciar que uma torre no intestino e sem vaselina dá um prazer imenso. Duvido, mas cada um de si sabe.

        • Passa por mim na Via Latina, e vais ver como te sabe. Não é para te dar prazer, ó capitalense, é para provares os suaves serões na província.
          E conversa acabada, quando chega um idiota assumindo-se da capital do provincianismo, tão evidente nessa secular submissão à coisa inglesa, o caldo entorna-se. Não me apetece entrar no registo varina hoje. Há gente civilizada com quem discutir, que ser de direita não implica forçosamente a arrogância do alfacinha anglo-parvo. Quando esta gente emigrar para Londres pode ser que o país avance.

          • Vicor Santos Carvalho says:

            Caro Samuel, Q.E.D. O esplendor da miséria e da fanfarronice trauliteira.

  7. David Graeber says:

    brecht (!!!)

  8. David Graeber says:

    Ou menciona Yves Bréchet ??

  9. CDS, pois, pois, só as paredes do Altis sabem, já estão esquecidos os gloriosos anos da política e algo mais.

  10. resta dizer que um grau académico não confere autoridade, garante é o escrutínio, e para quem tem um cargo universitário e trata por tu tantos pensadores alguns dos pensamentos liberal power point são ainda mais graves.

  11. Bruno says:

    Realmente esta malta ressabiada de direita é chata como o c*** Haja paciência para gajos que dão o cú para chegar ao poder sem suarem.

  12. Pedro Marques says:

    http://pcp-minde.blogspot.pt/2010/09/artigo-de-miguel-esteves-cardoso-sobre.html Diz-se reaccionário, mas não é estúpido como esse Samuel e esses lacaios do Samuel.

  13. Cristina says:

    “BE e PCP são classificados como de extrema-esquerda por um mínimo de decência geométrica o CDS será de extrema-direita”
    .

    ahahaha, querer comparar o PCP, que apoia ditaduras de esquerda, com um partido democrático cristão. Isto só prova como a polícia de pensamento de esquerda está tão forte em Portugal, como é um nojo viver aqui.

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