Baralhar e dar de novo ou simplesmente fazer macete

Professores.

Este, como quase todos os meus escritos, é sobre professores e é uma espécie de ponto de ordem à mesa, na discussão que cresce na blogosfera educativa, sendo que, há algo irrefutável: ninguém foi de férias.

O Público trazia há dias um texto onde se fazia a dicotomia entre as redes sociais e a rua e onde defendi que em algum momento teremos de voltar à rua, porque, considerem ou não moderno e chique, é também na rua que se ganha o futuro.   A minha experiência como sindicalista (SPN, FENPROF), com muitos anos de trabalho em torno dos professores contratados e das questões da precariedade levam-me também a concluir que nada consegue substituir o contacto pessoal, a troca de ideias e de argumentos, olhos nos olhos – isto não vai lá só com facebook e blogues. Não vai! Como diria o outro, de bons likes está o inferno cheio.

E na rua, as vitórias são proporcionais à sua força, a mobilização de que fala o Miguel, e para isso o papel da FENPROF é fundamental. A luta dos professores na rua só acontece com a FENPROF – façam as leituras históricas que quiserem fazer, mas ou há FENPROF e temos os professores na rua ou não há FENPROF e não teremos os professores na rua. Até prova em contrário, esta é uma verdade sem contraditório.

Mesmo não o assumindo é isso que escrevem, sem escreverem, o Nuno e o Ricardo. Equacionam a necessidade de uma maior ligação entre os professores e os sindicatos, que naturalmente subscrevo. O Nuno acredita que “É possível imprimir uma nova dinâmica aos sindicatos fazendo-os sair da zona de conforto”, enquanto o Ricardo vê cada  vez com “maior dificuldade a tão necessária reaproximação dos professores aos sindicatos“, mas defende que “primeira fase de uma qualquer estratégia, passa exatamente por discutir.”

Neste sentido e estando eu, assumidamente – não me escondo, nem me afirmo como independente – do lado da FENPROF, penso que podemos e devemos dar alguns passos no sentido de construir pontes entre duas margens que nas últimas semanas têm extremado posições.

Uns anunciam a mudança e, depois do leitão, fica tudo na mesma. Há quem tente juntar pontas na Plataforma pela Educação e logo aparecem a sugerir que são apenas os paus mandados do Mário Nogueira, quando muito boa gente da Comunicação Social e na blogosfera até pensava que a Plataforma pela Educação era a consequência do repasto.  Não é. Não sabemos o que vai ser, nem sequer, ainda, o que é. Há gente nova com vontade de trabalhar, gente com interesses sempre muito diversos, análises diferentes da realidade e opções muito variadas para os momentos de ação, mas com vontade de encontrar soluções. Não adianta é procurar o carimbo porque nenhum carimbo serve.

E aceitando  o desafio para refletir, penso que poderíamos partir para a reflexão acima sugerida e procurar equacionar de que forma podemos avançar, deixando de lado os ataques pessoais, as bocas e as piadinhas, procurando seguir uma análise racional sobre a realidade que está à nossa frente, encontrando uma primeira ideia, consensual ou não:

– podemos ou não reverter algumas das medidas do Nuno Crato a curto prazo? Ou, pelo contrário, a resistência às mudanças deve ser centrada numa lógica de maratona, de médio e longo prazo?

Uma e outra coisa são possíveis e coincidentes no tempo? Não corremos o risco do desgaste? Ou, perante o ataque brutal, temos que partir tudo quanto antes?

E não vale a pena ter ilusões – ninguém vai para a frente dos sindicatos fazer manifestações, nem os sindicatos vão consultar os autores de blogues para definir o seu trabalho. Uns e outros, cada um no seu papel, com opiniões próprias e diversas, com modos de actuação e intervenções também diferentes. Pois claro! Mas, poderia e deveria ser de outro modo? Não me parece!

Comments

  1. Alexandre says:

    A profissão precisa de uma organização/associação/movimento que apenas se debata sobre a escola que queremos no futuro, repensar o sucesso escolar. Temos que mudar o paradigma vigente na escola, ela há muito que está esgotado, não vai ao encontro dos alunos, chega até mesmo a reprimir a criatividade deles. Os sindicato devem se dedicar apenas às questões laborais e deixarem-se de protagonismo com greves e manifestações pois perante um país falido é necessário criarmos outros canais de trabalho. Uma verdadeira mudança no sistema de educação público deve ser sempre feito de dentro para fora e não de fora para dentro como acontece. Se forem os professores a criarem o caminho para uma melhor educação teremos sucesso.

    • Ensino Artístico EVT says:

      Ser ou não ser sindicalizado. Ser ou não ser independente convicto. Esta dicotomia assola muitos de nós… A verdade é que, como dizes, podemos ser ambos e nenhum. Ser ambos e procurar intervir socialmente, com estratégia e com um objectivo comum, com uma meta, com a ideia de que juntos conseguiremos melhorar o Sistema Educativo Português. É disso que se trata. É esta a vontade de todos. Se é assim, procuremos unir forças, pensemos em conjunto e actuemos em uníssono. Como enuncias, o surgimento da Plataforma pela Educação, pode bem dar resposta aos que não se revêem nos sindicatos, mais vocacionados para as questões laborais dos professores (bem necessários nesse campo). Esta plataforma pode, com a união de todos aqueles que querem uma alteração profunda no Sistema educativo, mostrar e dar corpo à sua indignação perante o estado actual da educação, exigindo uma alteração de fundo, pensar que linhas orientadoras queremos para as próximas décadas em Portugal. Pode abrir espaço para um verdadeira discussão plural, aberta a toda a sociedade, do que se pretende, de quais as expectativas que todos temos da escola pública, com o objectivo de traçar um rumo de consenso para e sobre a escola pública, fazendo a sua defesa como pilar estruturaste de uma sociedade que se quer pensante. Assim, a sociedade nos seus movimentos e indignação, quanto ao actual estado de coisas, deve unir-se, focar o que é fundamental, ser cirúrgico e conciso, persistente e conhecedor, só assim pode ser crítico e ter assento para decidir a sua luta, pensar por si e agir no interesse de todos pelo essencial.

  2. anabela santos says:

    … a quem o dizes João Paulo..”ninguém foi de férias” sou doente crónica todos os anos é isto. Concorro todos os anos , sou QZP e ando até setembro com diarreia, ansiosa, nervosa pois nunca sei onde vou parar, ou se vou. Este ano já recebi um email a dizer que já estou colocada…fiquei em transe pois como deves calcular fiquei sem saber se era verdade ou não…é fim de semana e não podemos ligar para o sindicato para saber se a informação é verdadeira foi por isso que te enviei uma mensagem…desculpa. Ao que chegamos já não acredito em nada, só vendo. se alguém souber de alguma coisa sobre esta colocação DCE por favor que me avise para eu ficar um pouco mais tranquila.grata anabela santos argoncilhe

  3. O Público trazia há dias um texto onde se fazia a dicotomia entre as redes sociais e a rua e onde defendi que em algum momento teremos de voltar à rua, porque, considerem ou não moderno e chique, é também na rua que se ganha o futuro. A minha experiência como sindicalista ( SPN, FENPROF ), com muitos anos de trabalho em torno dos professores contratados e das questões da precariedade levam-me também a concluir que nada consegue substituir o contacto pessoal, a troca de ideias e de argumentos, olhos nos olhos – isto não vai lá só com facebook e blogues. Não vai! Como diria o outro, de bons likes está o inferno cheio.

  4. Dois reparos:

    – és muito “ingénuo” se acreditas no valor facial do que escreve o Sonso Santos. O que ele faz é atirar a poeira para outro lado, fingindo que…

    – logo no início do post acabas por confessar que, no fundo, o que pretendes é aplainar caminho para a Fenprof.

    – as “bocas” sobre os “leitões” são tão imaginativas como quanto as feitas sobre os “umbigos”.

    Portanto, vê lá se ganhar “madureza” na análise e reages menos à “espuma” que tomas por onda.

Discover more from Aventar

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading