Canal de Estória

Desde a sua entrega aos zelosos cuidados de Madrid, o antigo Canal de História foi resvalando para o âmbito daquela antiga colecção de livrinhos malucos que nos propunham a teoria da “Terra Oca”, os “Deuses Astronautas” e a “comprovação científica” das profecias cataclísmicas.

O que temos hoje como programação histórica? Além da escabrosa publicidade ao Nutela, Kinder Surpresa – eles dizem “churprecha” -, Audi, Mercedes e a uns tantos bancos e companhias de seguros estabelecidos no país vizinho, temos algo do mesmo estilo, mas com  …”intuitos formativos”. Os Illuminati, ou a benfazeja Maçonaria que mais não é senão a preciosa herdeira dos imprescrutáveis segredos e sortilégios dos Templários. Prosseguindo, com um bocadinho de azar seremos forçados a ver o novel e milésimo episódio de A Vida Depois de Nós – não, não é uma canção da Romama -, ou uns camionistas TIR a alta velocidade razando precipícios no Alasca. No entanto, o prato forte é reservado ao Efeito Nostradamus – com um desfiar ininterrupto de loucuras ajaezadas de excelsas parvoeiras -, logo seguido dos terrores das Profecias Maias ou a recentemente inaugurada temporada acerca da Vida Alienígena. Estes aliens …”sempre viveram entre nós” e de facto não descendemos de macacas, mas sim de seres que chegaram de Orion – está provado pelo alinhamento das pirâmides egípcias e centro-americanas -, sendo os nossos prováveis criadores, exímios manipuladores do ADN ancestral daquilo que seria a humanidade.

Egípcios, chineses, cambojanos, maias, aztecas, indianos, persas, babilónios ou bretões de Stonehenge, não passavam de umas bestas quase atrasadas mentais, devendo-se os seus testemunhos monumentais, única e exclusivamente à preciosa ajuda de seres extra-planetários.

Coitado de Zahi Hawass, bem pode sentar-se à beira  da Esfinge e ficar a espera da próxima visita estelar. Ou não é a Grande Pirâmide uma outra coisa, senão um “depósito de energia” cósmica?

Comments

  1. Raras vezes concordamos mas esta é definitivamente uma delas. Parabéns pelo artigo. Subscrevo inteiramente ainda que tenha dúvidas quanto ao papel de Madrid. Parece-me que vem muito mais de cima do que dessa sucursal ibérica.

  2. Na verdade, Portugal não tem massa critica pra ter um “Canal História” específico como não tem massa crítica pra outros canais temáticos internacionais. vai daí metem-nos (com toda a naturalidade) em uma de duas esferas de influência, a de madrid, ou a brasileira, Como também é evidente, quando ficamos na esfera de influência de madrid, ficamos mais pequenos, mais anulados; quando ficamos na esfera de influência do Brasil, ficamos agregados ao Portugal que se fez grande no outro lado do Atlântico.

    Infelizmente, o auto-ódio e a histeria racista antibrasileira tem-nos arrastado para a anulação, isto é, para o bolso de madrid.
    Para uns isto é bom porque ficamos “brancos”, como os “merengues”. Para outros isto é também é bom porque é para isso que trabalham e são devidamente pagos.

    • albanocoelho says:

      Já era hora de os portugueses deixarem de se portar como galegos, ou os galegos como portugueses… Uns e outros deveriam entender que a sua esfera é a da lusofonia (galeguia) e com humildade saberem o seu (pequeno) lugar junto ao Brasil.Enfim, enquanto não mudarem de rumo só Madrid e o EspaÑolismo ganham.

  3. Nuno Castelo-Branco says:

    Enfim, parece que estamos de acordo. O Portugal Atlântico é o único possível.

  4. Adoro Kinder surpresa, uma vez roubei um boião de Nutela no supermercado e não gostei nada daquela porcaria, ainda bem que não paguei, se não, teria sido mais um enganado pela publicidade.

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