Pré-crime agora chama-se TrapWire

A ficção mistura-se com a realidade

Esta notícia não está a ser praticamente coberta pelos meios de comunicação social, a não ser pelo ângulo do ataque aos servidores da wikileaks. O ataque é interessante, mas o que o ataque está a querer ocultar é muito mais.

Estamos a ser vigiados minuto a minuto. Muitas das nossas acções são registadas: quando entramos num transporte público, quando conduzimos um automóvel, quando somos filmados por câmaras de vigilância, quando fazemos transacções com cartões de crédito (ou débito!), quando fazemos um telefonema, recebemos um sms, ou quando enviamos um mail. Não esquecer também as redes sociais onde pessoas sem noção do valor da informação partilham dados pessoais, por vezes ao minuto e, claro, todos os sites que visitamos, as páginas que consultamos, a que horas o fazemos e desde onde.

Todo este mar de informação, quando considerado em partes isoladas, é absolutamente inócuo. No entanto, se imaginarmos um sistema, uma máquina, que agregue toda esta informação, submetendo-a a um tratamento adequado, fazendo cruzamentos de informação entre bases pertinentes, armando-se das probabilidades condicionadas por mil eventos, então… Então talvez seja possível prever o futuro.

O grande problema é que a máquina existe, está a funcionar, chama-se TrapWire


Person of Interest – série onde a máquina também existe

A Wikileaks revelou o programa Trapwire, na continuação da publicação dos mails da empresa de segurança Stratfor, iniciada em Fevereiro último. O TrapWire é, por sua vez, um produto da empresa Abraxas, que conta com a colaboração de antigos elementos das comunidades dos serviços de informações. O TrapWire está em funcionamento nos Estados Unidos, neste momento. Um sistema de vigilância que faria a Stasi ficar verde de inveja. Comunicações electrónicas de todo o tipo são canalizadas para centros de processamento de dados quase no mesmo instante em que são produzidos. Tudo sem o beneficio de um processo legal… Só boas coisas poderão daqui surgir.

Neste momento não é possível chegar aos documentos da Wikileaks pelo site normal. Há mirrors a entrar e sair de serviço constantemente pelo que este link para o TrapWire poderá não funcionar.

Os crimes poderão ser parados antes de serem cometidos! Os terroristas vão ser apanhados! Ou teremos uma sociedade como Orwell previu em 1984?

Any sound that Winston made, above the level of a very low whisper, would be picked up by it; moreover, so long as he remained within the field of vision which the metal plaque commanded, he could be seen as well as heard. There was of course no way of knowing whether you were being watched at any given moment. How often, or on what system, the Thought Police plugged in on any individual wire was guesswork.
—Part I, Chapter I, Nineteen Eighty-Four

Resta-nos confiar na extrema incompetência dos governos para que estas máquinas nunca funcionem de forma eficiente.

Comments

  1. edgar says:

    Como muitos dos computadores têm câmara incorporada, até podem estar a gravar em vídeo tudo o que está à nossa volta.
    Qual Orwell… isto até parece uma das estórias de espionagem da D. Zita.
    Credo!

  2. Konigvs says:

    De repente lembrei-me do “Relatório Minoritário” do Spielberg. Já tinha ecrãs táteis e o Tom das Cruzes arranca os olhos para enganar os leitores de retina!! Bem vindos ao “big brother”.

  3. Um pouco exagerado… sim, os governos neste aspeto são bastante competentes.

  4. jorge fliscorno says:

    A grande diferença com 1984 é que as pessoas colaboram voluntariamente no Big Brother. Orwell pensava que um sistema de vigilância contínua seria rejeitado pela sociedade e, por isso, só pela imposição este estaria em funcionamento. Afinal, a troco de uns pontos no cartão continente, de apps à borla, de uns gadgets giros e de redes sociais, as pessoas de abdicam da sua privacidade de livre vontade.

    Já quanto à Novilíngua, esse acto de alterar as palavras, porque se elas não existirem, não haverá pensamento, Orwell acertou na mouche. Inverdades (em vez de mentiras), requalificação (em vez de recuperação), ajustamento (em vez de empobrecimento), activos tóxicos (em vez de fraude), … a lista poderia continuar. A comunicação política assenta, hoje em dia, no uso de palavras fora de contexto para se referir a realidades onde termos bem mais negros são os apropriados.

    • A grande diferença com 1984 é que as pessoas colaboram voluntariamente no Big Brother.

      É, tens razão. É por isso que considero este sistema ainda mais perverso que o mudo de 1984. Por outro lado, não esquecer que o livro é também uma sátira, logo faz uso dos exageros que são próprios.

      No fim de tudo sinto-me extremamente desconfortável ao observar os avanços para uma surveillance society. O nosso mundo e o nosso sistema de governo é muito frágil, num instante podemos perder o controlo. A vigilância constante é a única forma de o evitar.

Trackbacks

Discover more from Aventar

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading