O Portugalito dos anões

Nunca senti vergonha de ser portuguesa. Mas algumas vezes, neste regime e no anterior, tenho sentido desgosto pelo excesso de passividade e de espírito acomodatício do nosso povo– como se ele não tivesse sangue nas veias. Várias vezes, também, tenho sentido impaciência, e até desespero, pelo tempo que nos fizeram perder governantes que, à falta de cultura e de civismo, entenderam nivelar-nos todos por baixo. Porque quem tem dado um triste retrato do país ao mundo são esses governantes a martelo, como o uísque de Sacavém.

A notícia, fartamente badalada nos jornais, de que teria sido chumbada a Fundação Casa das Histórias, dedicada à obra da pintora Paula Rego, por um grupo de trabalho (mais um) nomeado pelo governo para avaliar as fundações, com vista a fechar o maior número possível neste tempo de política rapa-panelas, estremeceu-me e fez-me lembrar um outro ataque à cultura no consulado salazarista. Ia eu a caminho da faculdade quando li num jornal pendurado num quiosque: PRIMEIRO PRÉMIO DA BIENAL DE SÃO PAULO – MARIA HELENA VIEIRA DA SLVA (França). Que vem a ser isto?, pensei. Ao fim da manhã já sabia a história toda: o governo da ditadura tinha recusado dar a nacionalidade portuguesa ao marido da pintora, o também pintor Arpad Szenes, judeu húngaro exilado em França devido ao genocídio levado a cabo por Hitler durante a Segunda Guerra Mundial. Sendo casado com uma portuguesa, nada de mais natural do que desejar ter a mesma nacionalidade da mulher. Perante a recusa, afrontosa e mesquinha, Maria Helena Vieira da Silva reagiu em conformidade: pediu a nacionalidade francesa para ambos. Bateu com a porta na cara dos anões da (in)cultura oficial. Ficou a França a ganhar e o mundo a pensar que Portugal era um sítio de labregos. Foi preciso haver uma revolução que corresse com essa direita estúpida e ignorante (porque há uma outra direita civilizada e com mundo, mas que não aparece, não se mistura), para que a Pátria recebesse com as devidas honras esta pintora representada nos maiores museus do mundo.

A história repete-se agora com Paula Rego, também ela com obra espalhada pelos grandes museus do mundo. Um grupo, tutelado pelo Ministério das Finanças, certamente formado por zelosos guarda-livros de muito cifrão e pouca cultura, marrou à esquerda e marrou mal. Mal, porque esse ministério e esse governo deviam cortar nos carros oficiais a granel, nos subsídios de renda de casa injustificados e indevidos que políticos recebem, no deparrame de viagens que os deputados fazem semanalmente, nos chorudos salários que têm sido atribuídos aos boys e às girls da situaçáo que se amontoam nos gabinetes ministeriais, no abuso insultuoso (num país com fome) que é o restaurante do parlamento, nas montanhas de pareceres juridicos pagos a peso de ouro a advogados amigalhaços, etc. etc.etc. Cortar cegamente (raivosamente?) aos funcionários públicos, aos pensionistas, aos trabalhadores com salários de miséria, aos direitos que todos temos à Saúde, Educação e Cultura, parece-me coisa de gente pequenina, que certamente sabe de secos e molhados, mas ignora os valores artísticos que são a própria alma do povo que somos e ainda por cima ignora que o turismo cultural é uma realidade que se converte em milhões largos de euros nos países que o sabem pôr em prática.

Comments

  1. Estamos a ser governados por grupos de indivíduos a quem nem sequer podemos julgar em eleições. São grupos de “trabalho” compostos por miúdos, sem experiência qualquer. Mas foi por essa falta de experiência que foram escolhidos. Vêem o mundo em formato excel e no fim sai uma qualquer decisão. Não sabem, e nem sequer querem saber, disso da cultura, essa coisa de uns quantos, que se julgam no direito de a mostrar a muitos. Olham para um livro de história e sorriem com a arrogância daqueles que olham para o passado e nada vêem que valha a pena apreender. Sentem-se inchados a falar em macro e micro economia, quando não sabem os milhares de mortes que aconteceram para hoje, século xxi, estarmos aqui.

  2. Joao Alves says:
  3. Oliveira says:

    Parece que alguém não se deu conta que há uns meses o governo de Portugal foi forçado a implorar por um empréstimo excepcional aos estados-membro da UE porque estava falido. Só assim é que se percebe porque é que esses ingénuos ainda defendem que se continue a pagar largos milhões de euros em todo o tipo de luxos, mordomias e tachos, sobretudo quando os próprios beneficiados desses privilégios inexplicáveis nem são capazes de esboçar qualquer tentativa de justificar as despesas que fazem.

  4. MAGRIÇO says:

    Portugal continua a ser governado por labregos! E, a julgar pela nova geração de deputados ainda a cheirar a leite materno que se pavoneiam pelos corredores de S. Bento, vai continuar a ser durante muitos anos. Fico estarrecido com algumas intervenções destes prodígios, cuja única experiência de vida é a passagem pelas “jotas”, que debitam discursos vazios e apoiam incondicionalmente, sem saber minimamente do que falam, as grandes e eloquentes intervenções do grande líder. A imaturidade e a inaptidão bem patentes deste executivo está, assim, garantida para as gerações vindouras.

  5. Tito Lívio Santos Mota says:

    votre vie AU Portugal !!!!

  6. Tito Lívio Santos Mota says:

    se esta gente se preocupasse verdadeiramente com o país e com a economia, não seria certamente na cultura que iriam cortar.
    Primeiro porque pouco ou nada custa ao Estado (120 milhões nos tempos do Sócrates)
    Basta comparar com outros setores para se ver que não é por aí que o gato do défice foi às filhoses.
    120 milhões para o quarto setor empregador nacional?
    Para o principal contributo para a existência do segundo, o Turismo?
    Não esta gente não quer saber do país para nada.
    Estão ali só para a boda aos amigos à custa das nossas joias económicas obtidas à custa de 150 anos de História empresarial.
    E os Miró, já sabem do leilão dos Miró?
    Qual o “príncipe árabe” ou “capitão de indústria africano” os irá comprar ao desbarato?
    Era assim tanto que não se podia ficar com tal riqueza, cuja, exposta, só em entradas reembolsava mais que a venda por 60 milhões do tal banco.
    Eles, como o Salazar, sabem muito bem o que estão a fazer.

    Salazar provocou 15 anos de recessão à procura do ilusório equilíbrio de contas, cujo só alcançou a vender conservas e volfrâmio durante a Guerra.

    Agora, até vem um estupor à televisão propor uma nova Mocidade Portuguesa para preparar os JO do Rio de Janeiro sem que isto espante ou seja sequer motivo para chacota.

    Este país não tocou no fundo, não. Este país já anda a dragar os fundos para se enterrar nas profundas do inferno.

    • Oliveira says:

      Onde é que o Tito Mota arranja os milhões para manter esses tachos? Vai pagar do próprio bolso? É que o estado português não tem dinheiro, e ainda há pouco tempo teve de pedir emprestado aos estados-membro para não falir.

      • Tito Lívio Santos Mota says:

        não diga asneiras, por favor.
        Será que a propaganda televisiva o lobotomisou de todo ?

        • Oscar says:

          O Tito Mota não se deu conta do primeiro-ministro José Sócrates ter andado a implorar por cerca de 80 mil milhões de euros para o estado portuguẽs não ir à falência? O Tito Mota não se apercebeu do ministro Vitor Gaspar andar sistematicamente em reuniões com ministros das finanças de outros estados-membro a demonstrar que o estado português está a poupar e cortar em tudo que é despesa? O Tito Mota não reparou no corte total do investimento público em projectos de obras públicas como o tunel do marão ou ligação ferroviária Lisboa-Madrid, ou até a impossibilidade de arranjar 9 milhões de euros para acabar o NRP Figueira da Foz, actualmente parado nos ENVC? O Tito Mota não se deu conta do aumento vertiginoso do desemprego, causado pelo estado português ter sido forçado a cortar em tudo que seja política Keynesiana? Ou seja, o Tito Mota andou a dormir no último ano ou apenas em coma?

          • Tito Lívio Santos Mota says:

            Eu dei-me conta que dois partidos, por razões eleitoralistas (que lhe sairam furadas) e dois outros (para poderem distribuir as joias industriais portuguesas pelos amigos) obrigaram a eleições no pior momento possível, o que tornou as taxas de juro incomportáveis e obrigou Portugal a pedir ajuda externa nas piores condições possíveis.

            Também me dei conta de que tudo o que criticaram no Sócrates está hoje a ser feito com as agravantes de se ter baixado drasticamente os dois motores da nossa economia : o investimento público e o consumo interno.

            Tudo isto sem a desculpa da novidade pois já Salazar tinha aplicado semelhante política com resultados idênticos aos que estamos a assistir : uma recessão prolongada, desaparecimento das PMEs e concentração da riqueza nacional entre as mãos de meia dúzia de famílias.

            Esta política já só é apoiada pelo Sr. Durão Barroso, governos alemão e espanhol. Todos os outros a consideram como um erro que nos vai conduzir a uma recessão e empobrecimento sem retorno.

            Salazar produziu 15 anos de recessão mas tinha a renda colonial.
            Com a mesma política, quantos anos irá durar esta recessão ?

            As soluções existem, basta estar atento ao que se passa no estrangeiro e não levar como palavra de evangelho as bacoradas debitadas em canais televisivos e jornais, todos eles pertencentes aos grupos económicos, únicos beneficiários desta política.

            Se quer ou tem interesse em acreditar em tais balelas, pelo menos não tome os outros por parvos SFF.

  7. maria celeste ramos says:

    Pois é – haver quem relembre saudosamente a Mociade Portuguesa é ofensivo para os que como eu, souberam o que era e foi – ainda restam “restos” saudosistas – não sabem fazer melhor – nem dizer sequer – e os resultados foram o que foram – foi “quse” e “um pouco mais de sol e eu era brasa, Um pouco mais de Azul e eu era Além – Para atingir faltou um Golpe de Asa – pois é – nem deviam ser autorizados a falar nem assim nem de outro modo, o raio do “velho” – 35.5% de desemprego – agora ora xatiar – nem no tempo de Salazar – a oposição diz que a recessão é consequência da política de austeridade excessiva – já~há quem não tenha um prato de sopa – vão à sopa dos pobres – Luis Meneses PSD fala em dados preocupantes – até o PSD (alguns claro) dizem mal (mas não si o que fezem no que devem sõ palavrosos apenas) – há 5 países na europa em recessão – PIB da zona euro caiu e portugal caiu mais entre abril e junho 1.2 – italia 0.7 etc – Alemanha não escapará ilesa – é natural – vivia em riqueza sacada dos que deitou abaixo – França confronto em Damiens jovens e policias a 120 km de Paris com dimensão inédita copiam os USA – ai o caso de 20o5 nos arredores de Paris como Cligny ++ Regime de Assad colapsa – raio que os parta – ONU encontra confronto – milhares de sírios emigram para o pais vizinho – + atentado no Afeganistão – vítin«mas civis +e claro – Tiroteio no Texas na Universidade do Tez«xas com 50 mil estudantes – detro de dusa horas greve dos transportes amunhã dis de feriado católico Dia de Nª srª da Assunção que Cuelho vai acabar pois quer gente a trabalhar pare ele – os feriaod é que são os culpados – Deus meu

  8. Votre? says:

    c’est vrai, c’est vrai , portugal c’est le centre de l’univers.
    C’est difficile à admettre, mais c’est vrai et pourtant, portugal n’a pas de centre ahn? Sacre bleu! …
    En d’autres terme, c’est tout le monde qui a explosé, et portugal reste immobile car il ne pouvait se bouger, n’est pas?

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    Լևոն Ասլանի Թորոսյան diz:
    14/08/2012 às 21:28
    Cependant, quand il s’ agit de joindre l’ acte à la parole, le portugal reste immobile L’enseigne était trop vieille. Toujours la même. Immobile Si futile. Inutile Je m’habille en playmobil.
    Dis-moi, dis-moi, dis-le moi. Pourquoi vous restez immobile, mon portugal?

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  9. “pourtant” não é um faux ami?

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