alternativas para quem não pratica yoga

“There’s an old Italian saying: you fuck up once, you lose two teeth.” – Tony Soprano

Num certo episódio de Os Sopranos, o patriarca Tony indigna-se com a presença de um tipo num restaurante que se atreve a estar sentado à mesa com um boné na cabeça. Vai ter com ele e diz-lhe para tirar o boné. Gera-se a tensão habitual nestas cenas: o homem do boné está acompanhado por uma mulher e por isso hesita entre o seu orgulho masculino e a integridade do seu esqueleto, mas, após sopesar ambos, acaba mesmo por tirar o boné. Para compensar a sua colaboração, Tony manda o empregado servir uma excelente garrafa de vinho àquela mesa.

Como muitos indefectíveis defensores da não-violência, adoro histórias da máfia. Por que será que até nós, gente pacata, respeitadora da lei e da ordem, ou, melhor dito, sobretudo nós, sentimos um tão inegável fascínio pelas ficções que narram as histórias da máfia e das suas sórdidas actividades? Talvez porque assim vivamos, por interposta e ficcional pessoa, a consubstanciação das inconfessáveis fantasias de retaliação implacável, sem medo das consequências e livres dos embaraços da moral.

Quando ao fim do dia, depois de termos sido sucessivamente apertados por colegas de trabalho, chefes, familiares, vizinhos, a sinistra máquina estatal através dos seus tentaculares  organismos, etc, e a tudo termos tido de calar e obedecer, com mais ou menos resmungos, qualquer que seja o motivo que nos faz ter o rabo trilhado, que serão mais prazenteiro pode haver que esse em que nos sentamos frente ao televisor e assistimos a Tony Soprano mandar esmurrar as ventas de um insolente até o sangue espichar por todo o lado e o infame prometer não voltar a sair da linha? E quando o miserável levanta a medo a cabeça, espreitando, com o olho que ainda vê, se o caminho está livre e começa a rastejar para levantar-se vemos nele os nossos inimigos e sentimos o profundo alívio de quem relaxa as tensões mais profundas.

A violência na televisão, não tenho dúvidas, pode ser profiláctica e evitar aquela que poderia irromper naquilo a que se chama, não sei porquê, “vida real”. A impunidade dos mafiosos, a facilidade inverosímil com que abatem um inimigo é uma espécie de chá de tília com que aquietamos a nossa revolta, fazendo-nos delirar com as acções alheias como se fossem nossas, mas sem as complicações, as sujas e tortuosas complicações da violência a sério. Porque também sabemos, ou não tivéssemos visto filmes suficientes, que os mafiosos, por mais poderosos que sejam, nunca acabam bem, e que a violência cobra sempre o seu preço.

Há dias desejei ser o Tony Soprano, oh, céus!, como desejei ser o Tony Soprano. Depois de 9 horas enfiada em aviões ou à espera em aeroportos, quando estava já na sala de embarque para o que havia de devolver-me a casa, numa daquelas situações em que o embarque começa mas é de imediato interrompido porque há uma comunicação aparentemente importante por walkie-talkie – mas que eu suspeito que muitas vezes se resume, a “espera aí que tenho de ir ao quarto de banho” – que suspende o acesso dos passageiros ao avião, e estamos já todos demasiado próximos uns dos outros, alguém começou a pulverizar o ar com uns pérfidos, insidiosos, multirresistentes peidos.

Claro que nestas situações suspeitamos sempre de quem possa ser, e eu acho que era uma certa mulher que veio, azar o meu, plantar-se à minha frente. Ora se eu fosse mafiosa, e me deparasse com um trambolho que, indiferente à presença de muitas pessoas num espaço reduzido e encerrado, despreocupadamente soltasse os seus atentados ambientais, os seus fétidos e nauseabundos flatos que agoniassem todos aqueles a quem a nuvem fosse chegando, eu poderia ir ter com ela e fazer-lhe uma dessas advertências que ela não esqueceria. Afinal, o que é estar a almoçar com um chapéu na cabeça ao pé disto?

Mas eu não sou um Soprano (felizmente, apesar de tudo), e limitei-me a abanar energicamente os cartões de embarque como se fossem um leque, com ar de grande irritação, e a fazer uns comentários em voz mais ou menos alta, e a abanar a cabeça, como quem diz “francamente!”. Depois lá embarcamos e a poluidora ficou longe de mim.

Mas no dia seguinte fui rever o Tudo Bons Rapazes.

Comments

  1. Maquiavel says:

    Näo é preciso ser mafioso ou agir à mafioso num caso destes.
    Näo tem vergonha de näo ter dito à peidosa “Näo tem vergonha?”?

  2. maria celeste ramos says:

    o senhor que usa o adjectivo qualificativo tão “sujo” no comentário ao artigo da Carla Romualdo teria obtido diploma superior na Lusófona que a parir de hoje segundo o notíciário das 20 H comunica que faz vários cursos com 40% de desconto tipo saldo e/ou promoção ??
    Quem polui tão “livremente” (quem diz liberdade diz libertinagem, conceitos que se aproximam e separam por uma linha de decência intelectual) – De facto a linguagem já não é o que era e, entre alguns intelectuais que imagino sejam universitários, está de acordo com a evolução da grandeza dos govenantes – dos ensinantes e dos ensinados – mas que “porcaria” – já basta o porco do presidente da cml de lisboa que tem a cidade NOJENTA e como lhe sobra dinheiro que nem sabe o que fazer vai DESFAZER a rotunda do Marquês e fazer segunda rotunda – bem eu digo há anos que quem não sabe fazer mais nada faz rotundas (e não sobra dinheiro para oa almeidas varrerem e lavar as ruas da cidade) – posso replicar dizendo que quem não sabe escrever com alguma higiene lexical devia usar limpeza oral para com quem não conhece sendo que a liberdade é confundida com libertinagem e por isso defende as meninas engraçadinhas que cantam porcarias na Catedral podendo tê-lo feito à porta (já nem há portas que separem um espaço de outro) – o comentador podia ter aproveitado para apanhar banho gratuito nas ilhas dos Acôres de S.Miguel ou Stª Maria ontem – se calhar só ficava molhado mas não lavado, que isto de lavar é complicado pois que precisa de “sabão” – mas que sujidade na linguagem de alguns comentadores aventar – se calhar também é professor – (formado na lusófona ??) – ou vota nas touradas ? e é caçador de águias à falta de coelhos e lebres que morreram nos fogos ? ou escreve brasilês ?? ou só tem pensamentos poluídos – se assim é guarde para si e não polua espaço colectivo – ou também deita lixo para a rua da sua janela ?? estou cintente por este verão (agosto) não ter sido aberta a época de caça já que os caçadores atiram não importa a quê – etc etc

    • Maquiavel says:

      Näo preciso de diplomas de privadas. Tenho a minha licenciatura (quando ainda o eram) tirada do ISCTE, ao qual acedi depois de ter tirado a 2.a melhor nota do Distrito de Santarém na Específica de Economia (prata para o Vale de Santarém, ouro para a Aldeia da Ribeira, o rapaz foi para o ISEG). Depois disso já tirei o MBA em Helsínquia, saído do meu lombo. Como vê, obrigado pelo convite, mas dispenso.
      O que também dispenso é a sua pretensa superioridade. Mas é típico de quem renega as suas raízes. Eu fui para Lisboa, depois para o estrangeiro (já 4 países), mas näo me esqueço de quem sou. Desprezo marialvas e regentes agrícolas, como você diz desprezar também, mas você agora comporta-se com a soberba típica dessa gente. E isso realmente incomoda-me bem mais que expulsöes gasosas anais de metano, ou a sua construçäo frásica caótica (deve ser o tal “brasilês”).
      Vá ver se a água já chegou aos pés da santa.

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