Dar de comer a quem tem fome

A ideia de descentralizar a gestão dos museus regionais foi sensata. Os museus nacionais continuarão a depender de umas gentes que em Lisboa lêem uns dossiers e que em muitos casos nunca os visitaram, mas isso é Portugal no seu normal, e o problema nem sequer está na centralização administrativa mas na falta de vontade em levantar o rabinho da capital do nosso provincianismo.

Aqui pelos meus lados acaba a Direcção Regional de Cultura do Centro, novamente entregue à mesma senhora esposa de um senhor presidente de câmara, de remodelar direcções. Parece que a ideia foi diminuir o número de directores atribuindo vários museus a cada um, nada contra dada a sua dimensão, reconduzindo quem estava com uma excepção. A excepção chama-se Zulmira Gonçalves, que será a nova responsável directa pelo Museu de Santa Joana em Aveiro e por Santa Clara-a-Velha (que é só um dos melhores espaços museológicos portugueses, e verdade se diga depois de uns séculos debaixo de água está preparado para tudo). E quem é Zulmira Gonçalves?

Licenciada em Direito, na Universidade Internacional da Figueira da Foz, em 1993, Zulmira Gonçalves foi, entre 1996 e 1999 chefe de repartição de Pessoal da Câmara de Coimbra.

Em 2000 transitou para a Câmara da Figueira da Foz, onde foi, sucessivamente, chefe de divisão de Recursos Humanos, diretora do Departamento Administrativo e de Relações Públicas e diretora do Departamento de Recursos Humanos, Jurídico e Património. (…)

Entre 2002 e setembro de 2010, foi chefe de Divisão Administrativa e de Atendimento da Câmara Municipal de Coimbra. Passou depois a exercer o cargo de diretora de serviços de recursos humanos da Direção Geral de Reinserção Social do Ministério da Justiça.

Em janeiro de 2011 passa a técnica superior de direito no gabinete para o Centro Histórico de Coimbra.

Não vou discutir a validade de habilitações obtidas na defunta “Universidade” Internacional, mas muito embora seja de Coimbra e saiba umas coisas sobre pessoas que percebem de museus nunca ouvi falar da srª. Zulmira. O Google encontrou-me uma Zulmira Gonçalves, de Coimbra, que em 2008 escrevia isto, no blogue do ora misericordioso Pedro Santana Lopes:

Bom dia, Dr, Pedro Santana Lopes!Há por aí Militantes do PSD a comunicaram ao País que, para não votarem em si vão mudar de área de recensiamento eleitoral, pois bem, eu que estou recensiada em Coimbra, para votar em si vou fazer o contrário daqueles militantes do PSD. Como militante do PSD tenho vergonha do que vou ouvindo, por vezes interrogo-me, mas afinal de que lado é que eles estão? Se se sentem assim tão mal no PSD porque não mudar de partido? afinal até estamos num país livre ou será que eles ainda não perceberam isso!…
Um abraço e um Excelente 2009, quer a nível pessoal quer a nível político.

Fim de citação. Dar de comer a quem tem fome é uma das sete obras de misericórdia ditas corporais. E de beber a quem tem sede.

Comments

  1. rui esteves says:

    Bom, a dra Zulmira não sabe escrever, não domina mínimamente o português.
    Mas vai — ironia do destino ! — dirigir o Museu de Santa Joana e tb o Museu de Santa Clara a Velha.
    Estamos mesmo entregues a uma bicharada miserável !

  2. Aqui pela Beira Interior vamos ter “gestão” por telemóvel,sei lá,via email,ou em directo via teleconferência,a mesma directora para o Museu da Guarda e o Museu de Castelo Branco.

    A Guarda merecia,pelo esforço feito na cultura,muito mais,a cultura também.
    Até quando se vai suportar isto?
    mário

  3. Beatriz Martins says:

    É mesmo de questionar como é que uma jurista, ligada aos recursos humanos tem competência para dirigir um museu!!!! Há gente mesmo muito inteligente, nem sei para que são as licenciaturas se depois se é competente para tudo, claro que com o cartão do partido certo no bolso. Ainda por cima esta senhora foi corrida de Lisboa devido à sua clara incompetência. Mas pronto é do partido e para a cultura serve tudo, começou pela directora regional, também do partido…é triste. A cultura merecia mais.

  4. Mariana says:

    E dizem que gritaaaaaaaaa

  5. Carlos José Reis says:

    Estava de férias quando tive conhecimento através de um jornal diário, que fazia deste “desastre” noticia de primeira página. Fiquei incrédulo. Parece que este governo teima em dar tiros nos próprios pés e, tal qual o Senhor Relvas, sem habilitações ou conhecimentos para exercer tal cargo, este governo nomeia uma jurista para responsável directa pelo Museu de Santa Joana em Aveiro e por Santa Clara-a-Velha. Pensei de imediato: Eu votei neles, Mea Culpa!
    Estranhamente a passagem, fugaz é certo, por Lisboa não foi referida. Terá sido a pedido da própria? Terá sido de propósito por péssimo desempenho como Directora de Recursos Humanos na DGRS, pois foi MÁ, terrível mesmo!!!
    Ou terá sido por desconhecimento? Sim passou por um serviço da Administração Pública Central. Má dirigente, inenarrável directora de recursos humanos, despreparada, mal formada, inexperiente e com um défice ENORME de relação interpessoal com os seus funcionários. Gritava e ameaçava quem com ela trabalhava. Verdade, eu estive lá!
    Parece-me que a Cultura precisa de pessoas com mérito dado, provado e comprovado, para além de ser detentor de conhecimentos específicos, ter experiencia, ter perfil, ter imagem, TER… coisa que a Dra. Zulmira Gonçalves claramente não tem.
    Francamente receio que o Mosteiro de Santa Clara e o Museu de Santa Joana fiquem à mercê de alguém que irá fazer de tais espaços de cultura o que uma espanhola octogenária da zona de Saragoça velha senhora em Espanha fez com ECCE HUMO.
    Valha-nos DEUS!

  6. maria celeste ramos says:

    A Drª Zulmira escapa-me não vejo quem é – pena – não apanho todas – SIC os comentadores afirmam que acabou a “fita” espanhola de fingir que não se passa nada e de terem finalmente de recorrer ao BCE e não andarem em mais chinquelinas – pela boca morre o peixe – talvez até seja bom para portugal para procurar e diversificar mais mercados em vez de submeter a estes “católicos-apostólicos” pois esta geminação é atroz – nem bom vento nem bom casamento – só toiros de morte

  7. maria celeste ramos says:

    O rei vai nú

  8. Não conheço a srª Zulmira mas conheci muitas como ela – e quanto a património aedificado seja ele qual for e como conheço muito muito e m2 a m2 o meu pais, quase que poderia atrever-me a dizer que da CULURA representada ao longo de séculos deste inenarrável património civil e militar (não esquecer os maravilhosos quarteis do programa da SIC ABANDONADOS) ao património Religioso – património geológico pois nem sei como classificar Antes e Menhires – ao património natural que felizmente há NGO que o andam a recuperar (nova NGO formada para estudar a vegetação e aves da serra do Caramulo – ouvi hoje) – ao património único na europa de avifauna do estuário do Douro e do Mondego sendo que no Douro houve em 2013 o I Congresso Mundial de avifauna e os biólogos e ornitólogos estavam estupefactos de tanta riqueza e biodiversidade que nunca viram no mundo que já percorreram) e vem- com casificações UNESCO e os autarcas nem querem saber e delapidam – etc ISTO para dizer que só este património construído a gastronomia e mesmo os Museus e porque não a doçaria conventual que não vejo no mundo, bastariam para dar trabalho e rendimento a todos s sobrava para os que destroem – Quem nunca viu os Castelos de Sines (restaurado e museu e espaço de Festas) ou o de Alegrete (Portalegre magnificamente restaurado) – nunca viu nada e isto basta e no entanto o património imaterial já dizia Jacometti que só tento visto e registado apenas 30% nada disso há na europa dele – para que servem os PDM e os autarcas ?? para nada – tudo tem resistido a inundações (Santa Clara Coimbra) ao abandono – ao tempo – ao desprezo não falando na estrada de Santiago mais antiga que de espanha e ocupada com estradas cavaquistas – não falando no trabalho de mãos das mulheres – bordados – bonecas de trapo da Serra Estrela e Nazaré que não há no mundo e são de uma beleza invulgar) na loiça de Barro do Alentejo e Vizeu (preto) e do Algarve e das Caldas e de Barcelos e de ?? e trabalho de palhinha e tapetes de Arraiolos e Portalegre e Niza e cobertores de papa e mantas Alentejanas – e linhos do Minho e musica e cantares – e instrumentos musicais – ai e que mais – a lista não tem fim – Como hei-de esgotar a lista que não se esgota ?’ E porque emigraram tantos que podiam ter rehabilitado tanto do que se abandona ?? Só há vinho ?? Ai não é só há vinho ATÈ HÁ VINHO – e a mais velha Biblioteca do Mundo em Mafra e A mais bela Livraria Lello do Porto mas há muitas ZULMIRAS e as zulmiras é que deviam emigrar – Cultura nem das batatas que importam duras que nem um corno porque já ninguém quer ou pode cultivar a terra

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