Softocaracy. A democracia é um perigo

 José-Manuel Diogo

A democracia é realmente um mau sistema.
Os jornais de hoje contam que o assassino norueguês, confesso, mentalmente são e não arrependido, foi condenado a 21 anos de prisão e pode pedir liberdade condicional a partir do décimo.
A 22 de Julho do ano passado ele matou 77 seres humanos. Fez rebentar uma bomba num edifício e depois alvejou mortalmente 69 pessoas, mutilando muitas outras. Sempre disse porque o fazia. Consciente e de forma deliberada. Para “prevenir a islamização da Noruega”.
Os números podem ser usados de muitas maneiras. São a melhor forma de mentir. Mas esta conta é indesmentível, dividindo 21 (anos) por 77 (mortes), o preço são 99 dias (por pessoa). São pouco mais de três meses por cada tragédia, por cada luto, por cada drama familiar.
Os estados socialmente mais avançados são, paradoxalmente, os mais expostos e mais frágeis perante ruturas civilizacionais. São a porta de entradas para extremismos e xenofobias. Transportam a semente do sem próprio fim. E os tempos que vivemos são isso mesmo: de rutura.
Ele tem 31 anos, daqui a 10 ou 15, quando puder sair é ainda um homem novo. Como lidará a sociedade com a sua liberdade. Como é que a nossa sofisticada civilização se vai olhar ao espelho?A História da Europa é pródiga em ensinamentos que ninguém escuta. Na economia como na política. Na paz como na guerra.
Em nome da liberdade é permitido sacrificar a própria liberdade? Num mundo que muda, os modelos que conhecemos e com os quais vivemos décadas serão adequados para enfrentar os desafios do futuro? Como preservar a democracia quando ela representa em si própria uma ameaça. É preciso agir. É preciso estar preparado.

 Publicação original

Comments

  1. o que tem tudo isto a ver com a democracia? o facto de o breivick vir a cumprir ou não os 21 anos – a propósito, mesmo que ele cumpra a pena integralmente, continuará a ser um homem novo à saída – não tem a ver com o regime democrático ou com o estado de direito. é apenas uma questão legislativa.
    partindo da premissa que “a democracia representa em si própria uma ameaça”, e usando um pormenor legal para sustentar tão estúpida insinuação (e implicando uma possível defesa da prisão perpétua ou da pena de morte), este artigo resume-se a uma das mais pobres falácias que tenho lido ultimamente.

  2. Amadeu says:

    Este bloguer convidado é tão besta como o sistema jurídico que permite a situação descrita.
    O que este bloguer anormal não percebe que isto não tem nada a ver com democracia. Ou então percebe e é um fascistasito oportunista.

  3. Tem razão os factos retratam a legislação em vigor e não põem em causa a democracia. Na minha opinião para crimes monstruosos devem os órgãos da democracia deliberar punições exemplares e no mínimo deviam deixá-lo apodrecer na cadeia.

  4. Maquiavel says:

    A maior injustiça é o monstro ter sido dado como mentalmente säo. Vai passar, por enquanto, 21 anos numa instância de férias–sim, as prisöes norueguesas säo melhores que muitos hotéis–com acesso à Internet, e tem 21 anos para continuar a difundir os seus ideais assassinos. Ele devia ter sido dado como doido (que é), para se pudesse manter sob estrito controlo, sem acesso ao exterior… e de caminho mostrava-se que o fundamentalismo religioso é mesmo coisa de gente marada. Näo admira que o monstro tivesse dito que preferia morrer a ser dado como doido (que é).
    Agora o monstro, que falhou em tudo o que se meteu na vida (e botou sempre a culpa nos outros), consegue pelo menos 21 anos a viver à custa do Estado, sem fazer mais nada que propagar alarvidades. Grande vitória do monstro.

    • Não o vejo a mudar-se para uma prisão sueca para as férias…

      • nightwishpt says:

        Norueguesa, obviamente.

        • Maquiavel says:

          Classificar a prisäo norueguesa de estância (e näo “instância”) de férias foi uma metáfora. E tu percebeste. Fizeste-te foi despercebido.

  5. MAGRIÇO says:

    Não sei se o autor quis ser sarcástico quando refere a Democracia como um mau sistema ou se foi simplesmente infeliz na frase. De qualquer modo, parecem-me um pouco excessivos alguns comentários aqui reproduzidos, uma vez que não deixa de ter razão quando refere o excesso de tolerância que as Democracias têm tendência a praticar no que respeita a delinquentes. Mesmo por cá, muitas vezes ficamos com a desagradável sensação que o legislador se preocupa mais com os criminosos do que com as pessoas de bem. Ao contrário do que defendem alguns juristas, sou de opinião que quem comete um delito tem que responder e pagar por ele, e, embora respeitando os seus direitos humanos, deverá ser privado de todos os seus direitos civis. O que vemos é mais preocupação com a defesa dos direitos dos criminosos do que a de proteger a sociedade. Fiquei chocado com a recepção feita a Breivik pelos juízes quando ele entrou na sala: foram todos cumprimenta-lo como se, em vez de um criminoso psicopata, se tratasse de uma figura respeitável a quem a sociedade deveria estar agradecida. Estes são, de facto, os exageros de condescendência dos sistemas democráticos.

  6. nightwishpt says:

    Engana-se, a democracia norueguesa tratou-o como um vulgar criminoso e prosseguiu na sua forma de vida, ao contrário de outros países que entraram em histeria autoritária e vigiam todos os passos dos seus cidadãos, já para não falar dos estrangeiros.
    Faz parte da vida democrática aceitar que o preço da liberdade é ter de vez em quando quem se aproveite e cause grandes danos, ao invés de todo um constante regime autoritário e arbitrário.

  7. Antes de atacar “a democracia” (não sabemos se no seu todo ou se apenas na parte que lhe convém) o autor do artigo deveria ter procurado informar-se melhor acerca do sistema judicial norueguês e as prerrogativas do sistema judicial norueguês quanto ao prolongamento inefinido da prisão do assassino Breivik. Para tal, bastaria ter lido 1 ou 2 notícias internacionais (que as da casa são a caca do costume) como esta, por exemplo:
    Q: Will Breivik ever get out?
    A: Legal experts say it’s unlikely Breivik will ever be released but no one can say for sure. One thing is certain though: it won’t happen for as long as Norwegian authorities consider him dangerous to society. Breivik can challenge a “preventive detention” sentence every five years. One of the reasons Breivik’s attacks were presented in such gruesome detail during the trial was so that the horror of Oslo and Utoya would be well-documented for the day Breivik asks to be released. “Legally speaking, he could of course theoretically be a free man in some years. But realistically speaking he would be incarcerated for perhaps the rest of his life,” said Lasse Qvigstad, a former Oslo chief prosecutor.

    Aqui: http://news.yahoo.com/q-norway-massacre-case-093654113.html

    Nota: desacreditar a democracia é um velho truque dos anti-democratas…

  8. Não nightwishpt, não o trataram como o criminoso vulgar, trataram-no como um criminoso priviligiado. Com uma carrada de condições especiais e protagonismo até dizer chega.
    E não seguiram com o a sua forma de vida normal, ficaram profundamente traumatizados por muito que tentem dizer o contrário.
    Ele consguiu EXACTAMENTE aquilo que tinha planeado e não lhe deram nenhum troco.
    Tentaram ainda dizer que era louco, num esboço de o tentar humilhar, mas nunca assumiram que o objectivo era a humilhação, pelo que a tentativa caíu por terra por não ter (obviamente) qualquer outro fundamento.

    Eu concordo com o magriço, estamos muito preocupados em proteger direitos de pessoas que só sabem fazer m…, enquanto isso quase 80 pessoas perderam a vida em vão e outras tantas famílias prosseguem com o seu sofrimento. Eu sinceramente espero que as pessoas que aqui comentaram possam mudar de opinião sem ter que tomar contacto com esta realidade absurda. Talvez se fossem familiares de uma vítima pensassem de forma diferente?

    • Maquiavel says:

      O problema foi mesmo o protagonismo e o tempo de antena dado ao monstro. E é verdade isso do troco, que até o deixaram fazer a saudaçäo neonazi de princípio a fim. Há limites para a paciência com provocaçöes!

  9. xico says:

    Nos Estados Unidos, em alguns estados, ainda há a pena de morte. No Canadá não. São ambas democracias. Ambas com o mesmo sistema económico. Ambas no mesmo continente. Ambas falam a mesma língua e têm mais ou menos a mesma raíz. Quer o ilustre bloguer convidado elucidar-nos em quais dos dois países existe maaior criminalidade?

    • nem mais, xico.

    • MAGRIÇO says:

      Ao contrário do que pretende insinuar, não há uma relação causa/efeito! Trata-se de duas sociedades culturalmente muito diferentes, em que uma baseia toda a sua cultura na violência, no mito do super-homem, que se aproxima muito da barbárie ariana – a superioridade ariana foi substituída pela superioridade americana – em que os grupos de pressão do armamento insistem no duvidoso princípio de que cada cidadão tem o direito de possuir as armas que quiser, com as consequências trágicas que conhecemos. A lei fundamental canadiana é muito diferente e isso tem reflexos na cultura e no comportamento do cidadão, que, para além do mais, não está sujeito a lavagens cerebrais chauvinistas.

      • Maquiavel says:

        Näo e sim, Magriço. Existem mais armas per capita no Canadá que nos EUA, mas bem menos crime. A destrinça mais importante é mesmo a lei fundamental e a cultura civilizacional que se reflecte no comportamento dos cidadäos.

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