E se a troika nos mandasse lixar?

Foram muitos os portugueses que resolveram ontem sair à rua para protestar contra a situação que Portugal atravessa. Diferentes motivações como já fui lendo, pessoas politicamente esclarecidas misturadas com outras que apenas pretenderam gritar basta pelas dificuldades que sentem no dia a dia. Mas uma coisa é criticar, outra bem diferente é apontar alternativas. De forma alguma pretendo contestar o direito à manifestação, forma legítima que os organizadores encontraram para expressar a sua indignação. Até porque o fizeram de forma pacífica e ordeira, à parte um ou outro energúmeno que possa ter procurado aproveitar a onda procurando conduzir a turba para actos de vandalismo, a verdade é que cidadãos e forças policiais estiveram à altura, mostrando que não são desordeiros ou arruaceiros, facto a registar.

Dizer que a política está errada é insuficiente, convém afirmar quais as soluções que propõem para tirar o país da crise.  Ouvi uma manifestante afirmar que o governo começou ontem a cair. Para dar o lugar a quem? Ao PS dos aeroportos e TGV? Que tanta falta faz à cotação em bolsa dos Bancos e construtoras? Portugal pediu um resgate financeiro, não foram os credores que nos vieram bater à porta. Portugal precisa mais da troika que estes de Portugal, para quem o cantinho à beira-mar plantado é praticamente irrelevante. Basta viver fora de Portugal para perceber a nossa  insignificância no mundo. Quem empresta coloca condições, pois pretende reaver o seu dinheiro. E não acontece o mesmo quando vamos ao Banco solicitar um empréstimo? Temos sempre a opção de não pedir emprestado em vez de protestar contra os juros e lucros dos Bancos. No caso do país, não ter solicitado o resgate ou recusar as condições impostas significaria entrar em incumprimento no pagamento de salários e pensões. E talvez até sair do Euro. Não que eu tenha sido um entusiasta da moeda única ou do rumo que a U.E. tem seguido, de forma alguma, até arrepiei ao ler o discurso do cherne há dias, quando pretendeu cavalgar a crise europeia para construir uma solução federalista que a generalidade dos diferentes povos rejeita. Aliás, a construção europeia tem sido feita em directório, num sistema cartelizado, de costas voltadas para os cidadãos. Num hipotético cenário de saída do Euro, um futuro governo poderia de facto repor os subsídios, aumentar a contratação de funcionários públicos, os subsídios de desemprego e doença, até poderia descer impostos, tudo isto se emitisse mais moeda, seria uma questão de colocar as rotativas a trabalhar. Claro que haveria depois um pequeno “problemazito” a resolver, a brutal desvalorização dessa mesma moeda, mas aposto que isso pouco ou nada interessaria a muitos, até porque desconhecem as consequências. Estariam garantidos os direitos e conquistas de Abril, mesmo que  isso significasse uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma.

Portugal precisa efectivamente de reformas e mudar de vida, tenho dúvidas que o PSD de Pedro Passos Coelho seja capaz de reduzir o Estado, até porque muitos dos seus quadros militantes formados na jota, encontraram na administração, empresas públicas ou fundações, jobs bem remunerados que vão alternando com os rivais titulares do cartão rosa. Mesmo os outros partidos do arco parlamentar também recebem o seu quinhão, são muitos os interesses instalados, vivendo à custa do contribuinte.

Comments

  1. Acabei de publicar um comentário no facebook que se relaciona com o artigo. Tomo a liberdade de o reproduzir aqui.

    “Já há uns dias partilhei aqui esta notícia (http://www.jn.pt/PaginaInicial/Mundo/Interior.aspx?content_id=2746948) que penso que passou completamente despercebida por todo o lado. Volto a publicá-la na esperança ténue que alguém a leia e reflicta sobre ela.
    Manuela Ferreira Leite disse durante a famosa entrevista na TVI24 que a máquina fiscal portuguesa é eficiente. Por outro lado, foi publicado recentemente um estudo sobre a economia paralela em Portugal dizendo que a sua expressão poderá estar entre 20% a 25% do PIB e que se fosse legalizada e pagasse impostos teríamos um Estado com superavit.
    Um governo sério e a defender os interesses nacionais e do povo não deveria estar a dirigir baterias para os offshors, bancos suiços e fuga ao fisco, em vez de se preparar para mais esbulhos aos trabalhadores assalariados e pensionistas? Haja seriedade, senhores governantes.”

      • Amadeu says:

        Para quem tenha clicofobia, vou realçar:
        “Segundo os responsáveis do OBEGEF, bastaria que os níveis de economia paralela em Portugal caíssem para a média da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) — 16,4 por cento do PIB, contra os atuais 25,4 por cento — para, aplicando-se uma taxa média de impostos de 20 por cento aos nove por cento de rendimento adicional considerados, o défice público descer dos 4,2 por cento de 2011 para os 2,2 por cento.”

  2. Amadeu says:

    Ai que medo do papão !!

    Confesso que não tenho a tática. Sou espetador de bancada e de rua, quando calha.
    Citando alguém:
    Não sei por onde vou,
    Não sei para onde vou
    Sei que não vou por aí!

    Sei também que Portugal precisa tanto da troika que estes de Portugal. Ninguém na Europa quererá um cancrosito à beira mar plantado.

    Reparou também que às taxas atuais das OTs a 3 anos ( cerca de 4%) já nos podemos financiar a curto prazo nos ditos mercados ? O programa do BCE de compra de dívida de curto prazo ‘sem limites’ custou a parir mas deu os seus frutos de imediato.

    Por outro lado, em vez de protestar contra os juros e lucros dos Bancos bem podíamos sim não pagar os desfalques dos BPNs. Bem podíamos sim impedir todos os feiticeiros financeiros que pensam que podem multiplicar o capital como outro multiplicou os pães.

    Além disso, pode crer que há mais esquerda para além do PS dos aeroportos e TGV. Há quem acredite nos Estados e também na capacidade do indivíduo.

  3. MAGRIÇO says:

    A proposição estafada – que até este PM teima em utilizar – de “ou nós ou o caos”, nunca passou de uma falácia grosseira. Ninguém pode, legitima e honestamente, afirmar que o partido que sucederá ao que estiver no poder será melhor ou pior. As próprias ideologias defendidas por cada partido têm cada vez menos relevância. Mário Soares, por exemplo, pôs o socialismo na gaveta e os dirigentes que lhe sucederam foram-no pondo paulatinamente de lado até acabar onde hoje está: no lixo. O mesmo sucedeu no PSD, o eterno órfão de Sá Carneiro, que nunca mais se encontrou. Cavaco Silva esteve longe de ser um bom primeiro-ministro, mas Passos Coelho é muito pior, conseguindo ainda o feito notável de conseguir ser pior que Sócrates. O PS que, inevitavelmente, sucederá no poder ao actual governo, não será igual ao que este governo substituiu, pela simples razão que os seus dirigentes serão outros. Se farão melhor ou pior, será sempre uma incógnita que, infelizmente, não poderá ser resolvida por qualquer fórmula matemática, mas certamente que farão diferente e a nossa eterna esperança é que farão melhor, embora a experiência não confirme este optimismo. Não me lembro de alguma vez termos tido um primeiro-ministro tão mal preparado, tão politicamente imaturo nem tão arrogante, pelo que fazer melhor não me parece assim uma tarefa tão difícil para o seu sucessor. Por isso me parece um pouco excessivo, senão mesmo sectário, insinuar que não há alternativa a este descalabro económico e social que, a continuar, conduzirá fatalmente o país ao caos total.

  4. luis says:

    Mas o senhor é surdo e cego? Não viu ontem o povo na rua a dizer “FORA DAQUI! DEMITA-SE!”. O governo tem de cair. A alternativa passa por uma solução anti-troika, como na Islândia. Quem pode liderá-la, é a grande questão. Talvez uma união da esquerda.
    P.S. – Parem de usar o medo como arma politica

    • Sérgio says:

      União de esquerda ? hahahahah. A esquerda em Portugal não pretende ser governo. A única coisa que sabem fazer é estar do contra!

  5. edgar says:

    Este post é uma variante delicodoce da teoria da inevitabilidade, dos que nos querem amarrar a uma canga da qual não nos poderemos libertar, transformados em protectorado sem direitos e soberania.
    Alguém se interroga por que é que, de repente, em plena crise mundial do capitalismo, a questão das dívidas soberanas dos países periféricos da UE passou a ser o problema mais grave da zona euro, apesar do euro continuar a valorizar face ao dólar, e o crescimento económico dos países da zona continuar a estagnar ou a cair?
    Alguém se preocupa com a questão da competitividade da nossa economia quando, na mesma zona euro, a Alemanha se financia a taxas negativas e nós pagamos o que se sabe?
    Já alguém, dos que defendem o cumprimento rigoroso do memorando, tentou esclarecer a origem de cada parcela da dívida de modo a clarificar a sua legitimidade?
    Por que é que o BCE concedeu financiamentos à banca a taxas baixas e não podia (nem pode) financiar os países?
    Estas e outras questões deveriam ser respondidas por quem afirma tão peremptoriamente que não há alternativas à troika e a estas políticas.
    E mesmo que tudo fosse como alegam, porque é que devem ser os reformados e os que vivem do seu trabalho a suportar o pagamento das dívidas que especuladores e corruptos criaram?
    Está a ser provado, diariamente, à custa do empobrecimento do país e da esmagadora maioria dos portugueses que esta política não resolve o problema do défice nem o da dívida.
    Qual é a alternativa? Continuar ou mudar de rumo?
    Sem preconceitos, sem temores que não nos dignificam, é necessário encarar de frente a realidade: renegociar a dívida (nos prazos, montantes e juros), aumentar a produção nacional, principalmente a que permite substituir importações, reanimando o mercado interno, parar com a venda do património nacional, recuperar a soberania nacional, são propostas alternativas sérias e fundamentadas que permitem um futuro diferente.
    E se os nossos parceiros europeus não nos ajudam a percorrer o caminho que nós próprios escolhermos para recuperar a nossa economia e liquidar os compromissos internacionais é porque não são verdadeiros parceiros e a propalada solidariedade europeia é simples propaganda.

  6. Pois says:

    Muito poderia escrever como crítica a este texto. Alguns já fizeram observações pertinentes. Limito-me a fazer uma citação e a responder à questão que contém. “Quem empresta coloca condições, pois pretende reaver o seu dinheiro. E não acontece o mesmo quando vamos ao Banco solicitar um empréstimo?” Não! Quando vou ao banco, posso ter a obrigação de comprovar de que tenho rendimentos que me permitam pagar as prestações. Mas não é o banco que administra os meu rendimentos! Não impõe o modo como devo usar o MEU dinheiro, que EU ganho: cortar no tabaco e nos cafés, comprar só produtos de marca Dia, etc. Ora, aquilo que a troika faz é impor ao nosso país – e aos outros intervencionados – políticas económicas, mesmo que estas devastem as economias. É que as organizações que engloba não são simples instituições de crédito, mas instrumentos da ideologia neoliberal. E não venha com a conversa de que nós precisamos mais da troika do que ela de nós! Até parece que se trata de uma instituição de solidariedade! Voltámos à retórica do “resgate” e da “ajuda”?! Então não é verdade que os juros são absolutamente usurários? E não é verdade que o FMI só pode estalecê-los a esse nível estratosférico porque o projecto europeu está sequestrado por uma meia-dúzia de fanáticos e cínicos como a Merkel e um séquito de papistas mais papistas do que o Papa, como Coelho? E mais não digo, para não o mandar para o caralho.

    • nightwishpt says:

      Como se a Troika não ficasse cheia de problemas se nós batêssemos os pés… Diria mesmo que nunca Portugal terá tanto poder como agora, principalmente quando mais dinheiro mandamos para fora para safar a conivente banca estrangeira.

  7. Rita Borges says:

    É legítimo interrogarmo-nos sobre as consequências de deixarmos de receber o dinheiro da tróika, sobretudo porque não somos especialistas, embora ouçamos muitos.
    Pelo que tenho entendido, não me parece que a troika tenha muito interesse em deixar-nos, por questões políticas e mesmo financeiras já que nos fazem empréstimos a troco de juros elevadíssimos. Mas mesmo que existisse esse risco teríamos de o correr porque o que está em causa é demasiado importante para todos e uma questão de sobrevivência para cada vez mais.
    Não tenho conhecimentos que me permitam avaliar o problema, quanto mais apresentar sugestões, claro, mas será tão absurdo tentar renegociar as condições do empréstimo? Os gregos fizeram-no, independentemente dos resultados que obtiveram e que podem até nem ter nada a ver com isso. A Espanha tenta não envolver mais o FMI nos seus negócios internos…
    E que tal a ideia dos países do sul da Europa se entenderem, em vez de se submeterem aos critérios dos países do norte
    ? Afinal, agora tal como no passado, esses países não são nada sem nós…

  8. Carlos de Sá says:

    Ora, ora. Propaganda barata é o que nos têm estado a vender, escusava de repetir. Já outros disseram muito; permita-me apenas dizer-lhe que o País gera recursos suficientes para pagar salários, e que a o FMI não se pode dar ao luxo de uma declaração de bancarrota de Portugal , pela onda de choque que o sistema financeiro internacional conheceria. Quanto à desvalorização da moeda, é o que fazem países “periféricos” com o Reino Unido ou os USA.

  9. Ana Leal says:

    Concordo inteiramente com o que escreve acima António de Almeida. Sem FMI não há dinheiro nos cofres para assumir os compromissos financeiros do estado português. Pena é que um primeiro ministro incapaz e politicamente inexperiente eleito na base de mentiras descaradas tivesse querido ser “mais papista do que o papa” impondo medidas de austeridade que vão além do que a “troika” exigiu recaindo as mesmas sobretudo sobre as classes sociais mais desfavorecidas.

    • Manuel says:

      Nem todos protestaram contra a troika. A maioria mesmo protestou contra o governo de Passos Coelho. As pessoas não são burras.

  10. Luís says:

    Pôs o dedo na ferida, amigo A.Almeida, mas … há interrogações!
    O que é que eu tenho a perder com a saída do euro se estou desempregado, não tenho casa ou já a perdi a favor do banco, não tenho poupanças e o subsídio de desemprego já acabou …?
    Quantos portugueses já vivem nesta situação?
    (Presumo que o número será extraordinariamente elevado se notarmos que a queda do salário mínimo via TSU vai colocar 500.000 portugueses na pobreza).
    Imaginemos então que há cerca de 4.000.000 de portugueses nestas condições, com Troyka mas sem futuro!
    Vale a pena continuar no euro e pagar a dívida, quando sabemos que nem em 20 anos vamos sair deste buraco?
    Será que a catástrofe que se avizinha se sairmos do redil, como diz o trafulha, não será menor se ficarmos no redil?
    Nestas condições não acha que uma saída controlada do euro e uma moratória no pagamento da dívida não são a solução aceitável?
    Não acha que esta solução entre sair e pagar a dívida em novos prazos e condições, ou nada receber não iria “sensibilizar” os credores?
    Parabéns pela oportunidade do post!

  11. Emaurri Odilon says:

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